Fundamentalismo midiático: zumbis amestrados defendem liberdade de "nossa" imprensa



Washington Araújo

Existe um novo tipo de fundamentalismo. E é tão letal quanto o religioso e perigoso quanto o ideológico. É o fundamentalismo midiático.

Esse fundamentalismo padece das vãs fantasias, como de costume, levadas ao extremo: julga-se auto-suficiente, tem certeza de sua superioridade intelectual, aferra-se à ideia maniqueísta do “somos moralmente imbatíveis e os demais destituídos de qualquer predicado moral”.

É assim que o jornalismo praticado por Veja, Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo e Organizações Globo (TV Globo, Globo News, O Globo, Época e CBN) passa a ser referido como jornalismo-verdade, jornalismo-sério, jornalismo-tradição, jornalismo-isento.

Os demais meios de comunicação – notadamente na Web – simbolizam seus contrários, jornalismo-mentira, pândego, experimental e cooptado pelo governo de plantão nas esferas federal, estadual e municipal. Para esse jornalismo de segunda linha os “fundamentalistas” cunharam as expressões “jornalismo de esgoto/esgotofera”, “blogues sujos e mal-cheirosos”, “revistas QuantoÉ”.

O fundamentalismo midiático se apropria da ingenuidade das pessoas para transformá-las em meros autômatos, em zumbis amestrados, roubando-lhes o que têm de mais precioso – a capacidade de pensar por si mesmos.

Como guardiães de verdades inquestionáveis, esses fundamentalistas agem conscientes de seu poder de fogo: enfraquecem os governos com suas chamadas alarmantes e suas pesquisas feitas no calor da hora em que qualquer governo se sinta acuado ou fragilizado (vejam as manifestações populares de junho de 2013 e a imediata pesquisa Datafolha feita a toque de caixa); tratam os opositores do governo com extrema complacência (observem como a corrupção sobre os trilhos de São Paulo continuam sendo referidos como “suposto cartel”, não obstante a multiplicidade de provas, evidências, documentos, testemunhos e condenações judiciais dessas mesmas empresas corruptoras em Cortes da Suiça, Estados Unidos, França).

Os fundamentalistas brandem seu corporativismo tantas vezes quantas sejam necessárias. Como cartel bem estruturado administrativa e financeiramente, mexeu com um nexeu com todos. Seguem o lema de ‘Os Três Mosqueteiros’ – um por todos, todos por um.

E é assim que o escândalo regular forjado por Veja com repórteres acionados por controle remoto na semana anterior ganha capa na edição do sábado seguinte, recebe espaço generoso na edição do Jornal Nacional do mesmo dia, assegurando-se tratamento diferenciado com ‘testemunha-chave’ na revista dominical Fantástico e ao longo da semana será escândalo de uma nota só – editoriais e colunistas esbravejando nos jornais tradicionais do eixo Rio-São Paulo. Essa a receita do fundamentalismo sempre que se percebe ameaçado em seu monopólio de gerir o lucrativo negócio da comunicação.

Que ninguém se iluda, aos fundamentalistas só interessa atuar como força política capaz de proteger e alavancar seus interesses econômico-financeiros. Para ocultar essa sórdida agenda são trazidos à cena biombos com as surradas expressões “Liberdade de Imprensa”, “Pluralismo de Ideias”.

Só que, para ser verdade, far-se-ia necessária a inclusão do pronome possessivo “nossa”. Esses fundamentalistas midiáticos querem mesmo é ”Liberdade de Nossa Imprensa” e “Pluralismo de Nossas Ideias”.


Postado no blog Cidadão do Mundo em 26/01/2014


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