Copa: Os sádicos se regozijam



Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho

Dá até medo pensar nas manchetes e nos editoriais de nossos jornalões. Todo o ódio que mantiveram represado nas últimas semanas, por conta da alegria avassaladora dos brasileiros, voltou com força total.

Vergonha! Vexame! Humilhação! Dizem as manchetes.

Há anos não víamos fontes tão garrafais.

Exatamente os sentimentos que eles querem impor ao povo.

Nenhum esforço para aliviar as dores da nação, para levantar o astral.

Sadismo puro e exclusivo!

Que ridículo!

É como se eles quisessem se vingar da alegria que sentimos.

“Vocês vão pagar pela esperança que tiveram na seleção! Vão pagar por essa alegria criminosa que alimentaram!”, é o que dizem essas manchetes loucas.

Quando a Petrobrás anuncia o recorde de 500 mil barris diários apenas no pré-sal, a notícia vem escondida no miolo dos jornais, sem chamada na capa. Sem manchetes, sem editoriais.

Quando a seleção brasileira perde um jogo, é isso que vemos.

Agindo assim, porém, eles apenas revelam o seu conhecido sadismo. Só estão satisfeitos quando acham que podem humilhar o povo.

Só que o povo é mais inteligente do que eles pensam. A alegria do futebol é um encantamento lúdico. Uma emoção passageira.

A Copa está pertinho do final agora. Só restam três jogos. Em alguns dias, tudo terá terminado.

Mas fizemos a nossa parte. Como outros países do mundo (Alemanha, África do Sul, Coréia do Sul & Japão), sediamos uma Copa, e conseguimos divulgar uma excelente imagem do nosso país.

O retorno em turismo, em negócios, ou simplesmente em troca de experiências, é incalculável.

Até mesmo a derrota da seleção foi uma experiência que tínhamos que viver. Para entendermos melhor o papel da emoção em nossas vidas, por exemplo.

Para compreender o tamanho dos desafios que temos pela frente.

O futebol é uma grande brincadeira, e mesmo assim a gente põe o coração nele.

A vida, porém, não é uma brincadeira. É um jogo de vida e morte, que os brasileiros jogam todos os dias, trabalhando duro.

Pela mesma razão, a felicidade que a vida nos traz, através da família, do amor, da arte, do trabalho, tem muito mais profundidade que a inocente alegria de uma vitória de seu time ou da seleção.

A seleção brasileira sofreu uma derrota histórica no futebol.

Mas o povo brasileiro experimenta uma vitória igualmente histórica. Nos últimos 12 anos, a evolução do nosso país foi muito mais grandiosa do que qualquer desempenho futebolístico.

Ainda há muito o que realizar, naturalmente.

Enfrentaremos ainda muitos percalços no caminho. Cada um deles, porém, servirá para nos fazer mais fortes e mais conscientes.

Esses que aí estão, se regozijando com a tristeza de um povo, tentando espezinhá-lo ao invés de consolá-lo. Falando em humilhação, vexame e vergonha, quando o bom senso pede apenas serenidade. Esses aí mais uma vez mostram de que lado estão.

É até uma piada achar que estão tristes com a derrota da seleção.

Querem apenas enfraquecer o povo, diminuir sua alegria, deixá-lo triste, com ódio, para que reaja apenas com suas emoções baixas, não com seu bom senso.

São verdadeiros abutres, esperando ver o povo prostrar-se, deprimido, no chão, para lhe comer os olhos.

Será engraçado, todavia, ver suas caras quando o povo conscientizar-se do que acontece, e responder-lhes não com o mesmo gesto de raiva deles, mas com um sorriso maroto.

Um sorriso de quem conhece seus opressores há séculos, quiçá há milênios. E sente aquela comichão no estômago pela perspectiva de vê-lo, o opressor, perdendo a orgulhosa serenidade que o caracterizava.

Ao apelar para este sensacionalismo sádico e derrotista, a mídia brasileira revela seu desequilíbrio emocional. O mesmo que fez a seleção fazer um jogo tão feio.

Ou melhor, não o mesmo, porque não é o desequilíbrio de quem fica nervoso, sob pressão, mas o desequilíbrio que nasce da mais louca arrogância.

Então a gente ganha a partida. E se não ganhar, não tem importância. A gente joga de novo, indefinidamente, porque a única luta que se perde, como diziam os anarquistas, é aquela que se abandona!


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