Marina é a neoliberal de um mundo sepultado na década de 1990



Davis Senna Filho

Equivoca-se aquele que pensa ou considera a candidata "sonhática", Marina Silva, uma política que não sabe o que quer e passa uma impressão de ser uma pessoa confusa, ou seja, "pesadélica". Não. Engana-se quem pensa assim. Marina tem passado político, vem da esquerda e foi durante muito tempo uma militante influente do Partido dos Trabalhadores.

Marina tem de ser levada a sério, principalmente pelo PT, por seus aliados e eleitores, porque a Sonhática abandonou seu passado, o partido pelo qual ela foi eleita a diversos cargos políticos, bem como assumiu posição importante no Executivo Federal quando foi ministra de Estado do Meio Ambiente do Governo Trabalhista do ex-presidente Lula.

A política do Acre, que ficou em terceiro lugar em seu próprio Estado nas eleições presidenciais de 2010, conviveu com o seringueiro e sindicalista de fama internacional, Chico Mendes, assassinado covardemente por fazendeiros. Todavia, a "socialista" mudou seu modo de pensar, de agir e de se conduzir politicamente e até mesmo socialmente, porque hoje integra as hostes da Casa Grande. Marina não é mais, definitivamente, a Marina do PT.

Ela é a Marina dos grandes grupos capitalistas voltados para o Meio Ambiente também conhecidos como ONGs, que desejam, sem sombra dúvida, pautar governantes eleitos, bem como determinar as diretrizes ambientais que, comumente, são efetivadas por mandatários que apresentaram seus programas de governos e projetos de País aos cidadãos que, em maioria, os elegeram.

Enganam-se as pessoas que pensam que Marina é apenas uma figura folclórica e emblemática por causa de seu palavreado confuso, contraditório, nebuloso — quase excêntrico. E por quê? Porque a excentricidade de Marina Sonhática termina no limite de suas verdadeiras intenções, calcadas, sem dúvida alguma, em seu programa de governo propositalmente pouco divulgado.

A candidata da Rede Sustentabiidade, hospedeira do PSB e que não teve competência para registrar sua agremiação política no TSE, transformou-se em uma titânide com pés de barro de grupos econômicos dos mais reacionários, a exemplo da família Setúbal, do Banco Itaú/Unibanco, e do economista Eduardo Gianetti, técnico ligado aos tucanos e, evidentemente, ao sistema financeiro privado.

Gianetti, tal qual ao financista Armínio Fraga, candidato a assumir o Ministério da Fazenda em um hipotético Governo Aécio Neves, parece ser o porta-voz, juntamente com a herdeira do Itaú, Neca Setúbal, para assuntos econômicos da candidata Marina Silva, que, certamente, abraçou os princípios monetaristas em detrimento da corrente estruturalista (desenvolvimentista), cujo representante mais importante é o professor Celso Furtado.

Marina não conversa e muito menos se aconselha com Paul Singer, Carlos Lessa, Maria da Conceição Tavares, Ricardo Bielschowsky e André Singer, dentre outros. Afinal, como já dito, Marina mudou e hoje a política que se diz "apolítica" pertence às fileiras dos que pensam o País apenas com números, gráficos e índices, a excluir o ser humano como prioridade acima de qualquer questão econômica.

Por isto e por causa disto, os porta-vozes dos mercados rentistas e especulativos, em âmbito internacional, como o Financial Times e a The Economist, enviam recados à ciranda financeira e fazem há anos críticas negativas ao Governo brasileiro.

Questionamentos matreiros, infundados e repercutidos por intermédio de reportagens pré-elaboradas e de conotações políticas, intencionalmente plantadas em suas páginas impressas e em online, a ter como um de seus "cooperantes" o ex-ministro da Fazenda do Governo FHC, Pedro Malan, alto executivo de bancos privados e um dos homens de confiança da ciranda financeira internacional.

Malan e André Lara Resende (este passou a integrar a equipe de Marina) têm feito, juntamente com outros economistas da Era FHC, um trabalho de contestação às políticas públicas e financeiras dos Governos trabalhistas de Lula e de Dilma, que optaram por nomear para ministro da Fazenda um técnico da corrente desenvolvimentista de Celso Furtado e não monetarista de Eugênio Gudin ou Roberto Campos.

Sempre foi assim. Governos de caráter nacionalista e em luta constante pela independência e autonomia do Brasil, a exemplo dos mandatários Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Lula e Dilma Rousseff, efetivaram políticas econômicas e fiscais que permitissem o desenvolvimento estrutural do País e, por seu turno, viabilizassem o desenvolvimento material do povo brasileiro, a ter o estado como o indutor do bem-estar social.

Além disso, em termos regionais, os governadores Miguel Arraes e Leonel Brizola sempre quando no poder implementaram políticas desenvolvimentistas em Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Estados da Federação de históricos e tradições oposicionistas, quando as oligarquias, a Casa Grande conquistam o poder, é geralmente por intermédio de golpes brancos (jurídico e parlamentar) ou simplesmente por meio de uma quartelada, como a ocorrida em 1964.

Portanto, não é à toa que o ministro da Fazenda de Lula e de Dilma, Guido Mantega, e o servidor de carreira e presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foram e o são alvos de economistas e financistas vinculados ao capital especulativo, bem como pelos banqueiros nativos, sendo que a família Setúbal é o exemplo mais emblemático dos últimos tempos.

E por quê? Porque, apesar de ter lucrado como nunca antes nos governos trabalhistas, a questão ideológica impera, bem como é inaceitável aos banqueiros e rentistas bilionários que as instituições estatais Banco do Brasil, BNDES e CEF abram suas carteiras de empréstimos à população, baixem os juros e com isso praticamente obrigam os bancos privados a diminuí-los para poder competir no mercado, além de fazer com que grande parte das folhas de pagamento do setor público voltasse a ser administrada por bancos estatais, por exemplo.

E não é só isso. Torna-se salutar e necessário o leitor observar com acuidade. Os fundos de pensões de grandes empresas e órgãos do Estado, além das estatais que foram privatizadas no Governo tucano de FHC, seus recursos, em grande monta, foram usados para financiar as privatizações e os empréstimos a grandes empresários, via CEF e BNDES. Ponto!

Nos governos trabalhistas de Lula e Dilma, as diretrizes foram outras, porque os recursos desses fundos foram alocados para financiar obras, projetos e programas de interesse público. E é aí que se apresentam, indelevelmente, as diferenças entre as propostas de Aécio Neves, Marina Silva e Dilma Rousseff. E é exatamente isto que os programas eleitorais do PT têm deixar claro, e, para isso, é preciso esclarecer o povo, o eleitor.

Marina é neoliberal. Suas propostas programáticas são um verdadeiro retrocesso, um atraso retumbante, pois iguais às décadas liberalizantes das décadas de 1980 e 1990, quando o mundo era para poucos países se locupletarem e seus povos terem acesso a uma qualidade de vida altíssima por intermédio da exploração, da rapinagem e da pirataria que humilharam e empobreceram os povos periféricos do terceiro mundo.

Um mundo bipolar que se alicerçava no antagonismo entre a União Soviética e os EUA. E esse tempo neoliberal, que significa roubalheira, está sepultado no passado, porque o Brasil cresceu e se tornou um País poderoso e importante, ao ponto de refundar suas relações internacionais e inserir quase 80 milhões de brasileiros nos mercados de emprego e de consumo, além dos bilionários investimentos em infraestrutura, saúde e educação.

Marina Silva é uma farsa política e ideológica, mas tem de ser levada a sério para ser combatida e desconstruída. A mentira se combate com a verdade. Dilma Rousseff é a continuidade do desenvolvimento e da humanização da sociedade brasileira. A "Sonhática" é a neoliberal de um mundo sepultado na década de 1990. 

Postado no site Brasil 247 em 04/09/2014


Nenhum comentário:

Postar um comentário