A prisão de Dirceu dividiu ainda mais um país já rachado em dois





Paulo Nogueira

Mais uma vez, com a prisão de Dirceu, o juiz Sergio Moro promove uma divisão no Brasil.

Num país já visceralmente dividido, é uma péssima notícia.

Sobre a competência de Moro o tempo vai falar. Desde já está claro que ele tem um papel de divisor, e não de somador.

A direita festejou, como era de esperar. Nas redes sociais, antipetistas trataram Dirceu da forma como a mídia o retratou, com a ajuda milionária da Justiça, desde que o PT subiu ao poder: como um demônio.

Os fanáticos de direita não querem apenas que Dirceu seja preso. Querem que ele morra, que ele apodreça na cadeia.

Mas eles são apenas parte do todo.

Do outro lado, os progressistas ficaram extremamente incomodados com a prisão. Prender alguém que já estava preso? Preventivamente, como se Dirceu pudesse fugir para a Venezuela ou o que for?

E provas, onde as provas? Dirceu não pode efetivamente ter prestado serviços para as empresas, amparado em sua rede de relacionamento?

Ou é só gente do PSDB que recebeu, sempre, dinheiro limpo em consultorias depois de deixar o governo?

Moro tem uma questão de imagem a ser trabalhada. Para muitos brasileiros, seu rigor é unilateral. Ou melhor, é excludente. Exclui os tucanos.

O PSDB recebe doações. O PT propinas. Esta parece ser a visão de Moro e da Polícia Federal.


O mundo deve ser mais complexo que isso.

Pairou também sobre muitas pessoas a seguinte questão: Perrela está solto. Ricardo Teixeira está solto. Marin só foi preso por estar fora de sua zona de proteção no Brasil. Cássio Cunha Lima, o líder do PSDB no Senado, está solto, mesmo tendo sido flagrado comprando votos de desvalidos paraibanos com dinheiro público.

Pior.

Eduardo Cunha está solto. Com as ameaças contra quem podia desmascará-lo, com uma propina de 5 milhões obtida com métodos de gangster, com o depoimento em rede nacional de uma advogada que largou tudo para se livrar da sombra aterrorizante de Cunha.

E Dirceu preso. Sempre ele? Sempre petistas?

Alguma conta não fecha aí.

Não à toa, entre os progressistas floresceu a hipótese de que a prisão cumpria dois objetivos.

Um, tirar do centro das atenções o atentado contra o Instituto Lula. Dois, atiçar os ânimos dos antipetistas para o protesto contra Dilma em poucos dias.

Que Moro já mostrou gostar de estardalhaço para suas movimentações, está claro.

Isso não é nada bom para ele, que pode se achar mais importante do que é e depois, como Joaquim Barbosa, sofrer com a perda dos holofotes.

Mas é muito pior para a sociedade.

Se Moro não for capaz de provar que é mais do que um homem que divide, seu legado na história será melancólico.

A dúvida é se ele ainda tem tempo – e vontade — para reformar a imagem de juiz partidário.



Postado no Diário do Centro do Mundo em 03/08/2015



Nenhum comentário:

Postar um comentário