Michio Kaku. “ O nosso mundo está destinado a morrer, deveríamos ir para outros . . ."




O ser humano vai abandonar a terra? Por que não? Responde o físico Michio Kaku em entrevista concedida ao site 52 Insights, de Londres. Para esse importante cientista norte-americano de origem japonesa, podemos estar assistindo ao início de uma mudança civilizatória que irá nos levar às estrelas. A nós, em carne e osso, ou, mais provavelmente, aos nossos duplos digitais. 


Fonte: Site 52 Insights, de Londres


O mundo das unidades de informação quântica produz números que dão vertigem. Ao passar dos kilobits para os petabits, dos l e O para os qubits (a unidade de base dos computadores quânticos), descortina-se um futuro tão imenso e complexo que futuristas famosos – como Ray Kurzweil, Max Tcgmark e também Michio Kaku, cofundador da Teoria das Cordas e autor de vários bestsellers – começam a se preocupar com isso. Kaku é um dos cientistas mais populares dos EUA e um dos poucos investigadores da atualidade capazes de se expressar numa linguagem científica compreensível para a maioria de nós.


O físico norte-americano Michio Kaku


A sua mais recente mensagem nos chega sob a forma de um trabalho prospectivo intitulado The Future of Humanity (O Futuro da Humanidade). Esse livro dá um vislumbre de um futuro em que a ciência e as novas tecnologias nos darão poderes tremendos que nos forçarão a reavaliar o nosso lugar no Universo.

Um futuro em que colônias humanas viverão em Marte, onde não seremos a única forma de vida inteligente, onde a imortalidade deixará de ser uma fantasia inatingível e onde viremos a ter capacidade para colonizar outros universos.

No entanto, como aponta Michio Kaku, isso significa abandonar o que em breve se tornará um planeta inabitável. É aqui que começa a nossa indagação.

52 Insights – O seu trabalho anterior, A Física do Futuro (de 2012) abriu-me os olhos consideravelmente e, desde então, vivo fascinado pela escala de Kardashev (ver Nota de Redação). Você prossegue na mesma linha com este novo livro, onde explica que estamos nos movendo lentamente no sentido de uma civilização de “Tipo 1”. Pode explicar o que isso significa e por que, em breve, poderemos ser forçados a deixar a Terra, para garantir a nossa sobrevivência?

Michio Kaku – Uma civilização de tipo 1 é também chamada planetária, porque controla todas as fontes de energia de um planeta. Controla, por exemplo, toda a luz do sol que atinge o seu planeta, controla a meteorologia. Dentro de apenas 100 anos, chegaremos a esse estágio. É muito fácil calcular a produção total de energia do globo e daí a energia de uma civilização de tipo 1. Ao faze-lo, percebemos que nos tornaremos uma civilização planetária por volta do ano 2100. Depois, quando passarmos a dominar todo o poder energético de uma estrela, teremos uma civilização estelar, ou de tipo 2. Poderemos então brincar com as estrelas. Para dar um exemplo, a série televisiva Star Trek (Jornada nas Estrelas), com a sua Federação dos Planetas Unidos, podia potencialmente formar uma civilização de tipo 2. O próximo passo são as civilizações de tipo 3, semelhantes às de A Guerra das Estrelas. Cada civilização está separada da anterior por um fator de cerca de dez bilhões: tomando a potência energética de uma civilização, multiplica-se esse número por dez bilhões e obtém-se a potência energética da civilização seguinte.




Por que é importante falar sobre isso agora?

Porque estamos prestes a nos tornar uma civilização de tipo 1. A internet é a primeira tecnologia de tipo 1 que tem uma dimensão verdadeiramente planetária, é a primeira a espalhar-se por toda a Terra. Para onde quer que olhemos, observamos culturalmente a prova dessa transição. É por isso que a internet é tão importante. Uma civilização de tipo 0 ainda transmite toda a selvageria ligada à sua recente saída do pântano. A nossa continua marcada pelo nacionalismo, pelo fundamentalismo… Mas quando chegarmos ao estágio de uma civilização de tipo 1, teremos eliminado a maioria desses problemas. Quando chegarmos ao tipo 2, nos tornaremos imortais: nada cientificamente conhecido destruirá uma civilização de tipo 2.

O futuro que descreve no seu livro é vasto e expansivo. Está repleto de ideias audaciosas e possibilita todos os tipos de proezas técnicas e cientificas: naves capazes de adaptar planetas ao modo de vida dos terráqueos, imortalidade, civilização avançada. Mas também é um enorme salto no desconhecido, não é?

Isso mesmo. No entanto, eu sou um cientista, por isso posso começar a quantificar o desconhecido. Se fosse um escritor de ficção científica, apenas poderia fantasiar sobre uma série de tolices contrárias às leis da física. Mas sou um físico, conheço o rendimento energético e os requisitos dessas tecnologias.




Vejamos uma das ideias que menciona, a “laserportação”, por exemplo. Pode explicar o que isso significa, de forma sucinta?

Até ao final do século, vamos ser capazes de nos digitalizarmos. Tudo o que sabemos sobre nós próprios e a nossa personalidade e até mesmo as nossas memórias será convertido em dados digitais. Neste momento, o Human Connectome Project, que o Presidente Obama ajudou a lançar, está trabalhando no mapeamento de todas as conexões internas do cérebro.

Cada um de nós já deixa uma pegada digital. Todas as nossas transações com cartões de crédito, as nossas fotografias no Instagram, os nossos vídeos… Isso já representa uma significativa informação digital. Mas, perto do final do século, será o próprio cérebro que vai deixar a sua marca. Vamos ser capazes de criar uma imagem compósita de quem somos. Vamos poder digitalizar essa imagem, carregá-la num feixe de laser e enviá-la para a Lua. Em um segundo, estaremos na Lua, em vinte minutos chegaremos a Marte, em um dia acercamo-nos de Plutão e em quatro anos estaremos perto das estrelas. Sem termos de nos preocupar com reatores de foguetões, sem risco de acidentes, sem efeitos da falta de peso ou de raios cósmicos. Vou ao ponto de dizer que acho que isto já existe. Que há extraterrestres muito mais avançados do que nós, que não se enlatam em discos voadores. Os discos são muito datados. São mesmo muito do século 20! Não. Eles já se laserportam. É possível que já exista uma autoestrada de laserportação muito perto da Terra, através da qual milhões de seres se laserportam através da galáxia, mas somos demasiado estúpidos para perceber isso.

Isso é por estupidez? Ou simplesmente porque estamos ainda a meio caminho entre os tipos 0 e 1 da escala de Kardashev?

Um pouco dos dois. Há uma certa estupidez da nossa parte, porque somos arrogantes. Achamos que sabemos tudo. Acreditamos que, ouvindo sinais de rádio, podemos determinar se existe vida noutro lugar que não na Terra. Para mim, é uma prova de estupidez. Se encontrarmos uma civilização primitiva, é possível que usem Código Morse; mas ao fim de algum tempo, vão ter de começar inevitavelmente a usar todo o espectro eletromagnético. Partimos do pressuposto de que os alienígenas utilizam o Código Morse, que ainda estão no tipo 1. Imaginamos que talvez estejam cem anos à nossa frente. Partimos do princípio de que usam discos voadores. Mas por quê? Isso é tão século 20! A laserportação através da galáxia é um meio muito mais avançado.





A comunidade cientifica levantou objeções a algumas ideias que expõe neste livro?

Não. Sou físico e outros físicos debruçaram-se sobre as minhas ideias. Elas não violam as leis da física. Se fosse o caso, então sim, haveria matéria para tal. Mas não violo as leis da física em momento nenhum. Tudo aquilo de que falo se enquadra nas leis da física.

Creio que uma das ideias fortes do seu livro é que o poder passou das mãos dos governos para as de cidadãos privados. Que pessoas como Jeff Bezos e Elon Musk, por serem multimilionários, são capazes de decidir o destino do mundo. Realmente eles anunciam uma nova era e, hoje, a própria NASA (Departamento da Administração norte-americana para as questões do Espaço e da Aeronáutica) parece ter perdido a sua razão de ser. Será isto o prelúdio de uma era em que os dirigentes das grandes empresas de tecnologia vão definir a orientação do mundo, como sugere no seu livro?

Considero que empresas públicas e entidades privadas podem trabalhar em conjunto. Quando o Presidente Barack Obama cancelou o programa do vaivém espacial, sabia que o setor privado podia ocupar-se disso. A NASA é prudente, porque é uma burocracia. A sua principal prioridade é a segurança. Para um capitalista, é claro que a segurança é importante, mas não é necessariamente a sua maior preocupação. Um empresário quer que as coisas sejam feitas com rapidez e eficácia. Daí que os privados possam trazer novas ideias e imprimir um novo ritmo, fazendo as coisas acontecerem mais depressa do que a NASA. Além disso, a NASA é uma burocracia, acaba tudo em compromisso. Basta pensar no que aconteceu com o setor ferroviário, quando separamos o tráfego de passageiros e de mercadorias: o sistema tornou-se imediatamente mais racional, mais econômico e mais eficiente. Os burocratas queriam o mesmo para todos e o que acabariam por conseguir era nada para ninguém. E foi também assim que a burocracia descarrilou com o programa do vaivém espacial.




Se entendi o que disse, Jeff Bezos, Elon Musk e Richard Branson seriam agora os sonhadores do novo mundo. Eles hoje estão estudando a possibilidade de adaptação de um novo planeta à vida de terráqueos. Pode explicar em que consiste esse processo?

Acima de tudo, o que deve ser entendido é que já estamos hoje transformando a Terra: a terraformação é uma realidade. (Quanto a Marte), podemos avançar por etapas. Primeiro, utilizando metano para aquecer um pouco a atmosfera. A segunda etapa será a de instalar painéis solares para derreter as calotas polares. Uma vez que a temperatura tenha subido seis graus Celsius, desencadeia-se uma reação desenfreada. O aquecimento acelera. É só o que é preciso fazer: aquecer o planeta cerca de seis graus. Atualmente estamos aquecendo a Terra um grau e nem sequer temos consciência disso. Mas em Marte, teremos de elevar a temperatura conscientemente cerca de seis graus. Depois, evidentemente, teremos de tornar Marte habitável, com plantas geneticamente modificadas para poderem vingar na atmosfera marciana, composta por altos níveis de dióxido de carbono.

Teremos também de explorar o gelo para produzir água, e procurar combustível para os nossos foguetes. Modificar geneticamente certas plantas, para que cresçam e nos alimentem, e derreter as calotas polares. Estaremos em condições de iniciar este processo dentro de uns 100 anos. Ninguém considera que possamos fazer isso no imediato, mas será possível dentro de um século; depois de instalada uma colônia em Marte poderemos iniciar esse processo.




É uma ideia muito séria, que começa a se difundir. A perspectiva de sair do nosso planeta vai provavelmente gerar forte ansiedade entre os mais de sete bilhões de seres humanos que somos. Alguns céticos dizem que ir para outro planeta é basicamente abandonar a Terra; mas devemos preparar-nos para isso, porque a Terra já não consegue nos manter. O que acha dessas críticas?

Considero que estão totalmente erradas. Ninguém está dizendo que temos de sair da Terra para ir para Marte. Isso não vai acontecer. Marte está muito distante. Mas é uma espécie de seguro de vida. Penso que as pessoas confundem os alvos nas suas críticas. Deveríamos estar tentando controlar e remediar o aquecimento global na Terra e não em fugir para Marte.

Você parece depositar grande confiança na quarta vaga tecnológica e científica atualmente em curso, ao dizer que vai causar uma nova revolução na riqueza. Mas a saída do planeta e a adaptação de Marte aos terráqueos vão ser acompanhadas por uma arrogância e um ego muito significativos. Teremos de ter cuidado para controlar possíveis abusos. Não lhe parece que precisamos criar uma espécie de tratado?

Sim, acho que devemos criar tratados. Veja o Tratado do Espaço Exterior (formalmente Tratado sobre os Princípios que Regem as Atividades dos Estados na Exploração e Utilização do Espaço Exterior, incluindo a Lua e outros Corpos Celestes), assinado em 1967. Não diz nada sobre indivíduos que reivindiquem direitos na Lua. Mas hoje isso já é possível. Em 1967, se alguém lhe dissesse que um dia o homem construiria o seu próprio foguetão e iria colocar a sua bandeira na Lua, para reivindicar uma parte dela, você acharia que ele estava maluco. E no entanto já chegamos aí. Milhões de pessoas assistiram ao lançamento do foguetão Falcon Heavy (lançado pela SpaceX, em 6 de fevereiro de 2018). Era um foguetão lunar. Quanto custou aos contribuintes? Nada. Nem um centavo. Ninguém podia prever isso em 1967. É por isso que precisamos de novos tratados. Porque a China, por exemplo, também se prepara para ir à Lua; já anunciou que vai implantar lá a sua bandeira. As empresas privadas acabarão por ir também à Lua, mais cedo ou mais tarde. É que não é muito complicado ir até lá. E é por isso que precisamos de tratados. No futuro, as pessoas irão passar a lua de mel na Lua. Vai tornar-se uma atração turística.




Você comenta que explorar toda essa nova tecnologia vai levar-nos a uma era de exploração totalmente nova. Uma professora que cita no seu livro (Sara Seager, astrônoma do MIT – Instituto de Tecnologia do Massachusetts) faz uma declaração fascinante sobre isso e gostaria de ter a sua opinião. “Até agora não descobrimos nenhum outro sistema solar semelhante ao nosso”, diz ela, “e na verdade vimos tantas coisas tão estranhas que os astrônomos não têm teorias suficientes para as explicar. Quanto mais descobrimos o Universo, menos o entendemos. Somos confrontados com uma barafunda incrível.” O que ela realmente pretende dizer com isto?

Quando eu estava na escola primária, nos ensinavam que tudo era simples e organizado. Que o nosso sistema solar era composto por planetas rochosos como Marte ou a Terra, gigantes gasosos como Saturno, e por cometas. Todos os planetas seguiam órbitas circulares e tudo decorria tranquilamente. Essa ideia está hoje totalmente posta de parte.

Claro que as órbitas circulares são necessárias para gerar vida, mas a vida é extremamente rara no Universo. Para que a vida surja, é preciso calma, um ambiente pacífico. Ora o Universo é violento, as órbitas são erráticas, os planetas entram constantemente em colisão uns com os outros. Nós somos uma exceção. É preciso um ambiente estável, para a vida aparecer num planeta. Uma estabilidade de vários milhares de milhões de anos. Todavia, com intervalos de poucos milhares de anos, ocorre um desastre em algum lugar do Universo.




“De toda a vida formada na Terra, 99,9% já se extinguiu. A extinção é a norma. Nós pensamos que a Mãe Natureza é doce e carinhosa, mas ela também sabe ser selvagem e indiferente. A Natureza não se importa que nos tornemos uma simples nota de rodapé no grande livro da história da vida”, diz Michio Kaku.

Então, porque é a Terra tão diferente de todos os sistemas solares que observamos? Porque nos temos vida. São necessárias condições extremamente rigorosas para gerar o ADN. Por exemplo, quando as crianças são informadas de que o Universo é muito antigo, imediatamente perguntam por que ele é tão velho. A maioria das pessoas não sabe o que dizer, não é? Bem, a razão pela qual o Universo é tão antigo é que demorou muito para o ADN aparecer. Não houve ADN logo após o Big Bang; levou 13 mil milhões de anos para o ADN aparecer no nosso cantinho da galáxia.

O fato de termos aparecido e de a Terra ter sobrevivido tanto tempo de forma tão perfeita é estranho, mesmo assim. A sua teoria do multiverso é compatível com esta realidade?

Sim, resolve o problema do “ajuste fino” (Ver Nota de Redação). Parece que o Universo sabia que íamos aparecer. Todas as forças do Universo se ajustaram com precisão, para tornar possível a vida na Terra. Se a força nuclear fosse mais forte, o Sol teria morrido há milhares de milhões de anos. Se fosse mais fraca, nunca teria entrado em combustão. De fato, a força nuclear é a suficiente para produzir a luz solar. 0 que é extremamente raro. Pode examinar a lista toda e encontrar muitas coincidências desse tipo. Portanto, ou Deus existe ou [nos] beneficiamos de uma conjugação de dados incrivelmente feliz.

Pode explicar sucintamente o que é um multiverso?

O Universo é uma bolha. Nós vivemos no invólucro da bolha, a qual está em expansão. É a teoria do Big Bang. Hoje, consideramos que estamos mergulhados num banho de espuma onde coexistem inúmeras bolhas-Universo, que, por vezes, colidem – é a isso que se chama Big Bang. Então, o que aconteceu antes do primeiro verso do primeiro capitulo do Gênesis, quando Deus disse: “Faça-se a luz”? O que aconteceu antes disso? Muito antes disso, houve uma colisão entre universos. A propósito, um dia vamos poder tirar fotografias da infância do Universo, usando detectores de ondas gravitacionais. Dentro de alguns anos, acho que vamos conseguir tirar fotos da infância do Universo. Então, veremos o Universo saindo do útero e poderemos ver um cordão umbilical a ligar o nosso Universo-bebê a uma mãe-Universo.

Neste contexto, você afirmou que as leis da física são “uma sentença de morte para toda a vida inteligente”. Isso porque o Universo acabará por morrer dentro de algumas centenas de milhares de milhões de anos. Quer dizer que, um dia, essas bolhas de sabão vão estourar e dar lugar a novas bolhas?

Não, elas não vão explodir, porque isso contraria a teoria de Einstein; mas vão ficar cada vez maiores e mais frias. Se essa expansão continuar indefinidamente, morreremos de frio. É o chamado Grande Congelamento (Big Freeze). Não temos a certeza dessa evolução, porque ela pode se inverter. Mas, por enquanto, o Universo parece estar acelerando. Vai a toda a velocidade e parece fora de controle. Vai em corrida desabalada.




0 que nos leva, naturalmente, à ideia de que devíamos sair deste Universo – daí os seus capítulos sobre viagens interestelares. Diz que, para conseguir esse tipo de deslocação, podíamos recorrer à energia de Planck. Pode nos dar uma ideia do que é essa energia e de como ela pode nos ser útil?

A energia de Planck é a ultraenergia. Matematicamente, é igual a 10 elevado a 19 GeV (ou seja, 10 elevado a 19 bilhões de elétrons-volt). Isto é, vários milhões de milhões de vezes mais poderoso do que o acelerador de partículas LHC (o Grande Colisor de Hádrons, instalado na Suíça). A um tal nível de energia, o espaço torna-se instável. É como quando se aquece água; a certa altura ela entra em ebulição, não é? Se aquecemos o espaço vazio, ele entra em ebulição. Começam a formar-se bolhas. Só que essas bolhas são universos. A maioria deles explode e regressa ao vazio, nunca mais os veremos; mas alguns estão se expandindo, como é o caso do nosso Universo. Provavelmente, foi assim que começou o nosso Universo. Mas um dia vai ficar tão grande e tão frio, que a vida não será capaz de subsistir. Desaparecerá toda a vida da superfície da Terra. Portanto, a minha posição é a de que, como o Universo está destinado a morrer, devíamos sair dele.

Na situação atual, quais são as nossas possibilidades de sobrevivência nos próximos 100 anos?

De toda a vida formada na Terra, 99,9% já se extinguiu. A extinção é a norma. Nós pensamos que a Mãe Natureza é doce e carinhosa, mas ela também sabe ser selvagem e indiferente. A Natureza não se importa que nos tornemos uma simples nota de rodapé no grande livro da história da vida. Dito isso, acho que somos diferentes dos 99,9% das formas de vida que desapareceram. Os dinossauros não tinham um programa espacial e é por isso que eles não estão hoje aqui. Eles fazem parte dos 99,9% extintos. Quando o asteroide atingiu a Terra, eles não sabiam como reagir. Nós temos um programa espacial, para podermos desenvolver um plano de emergência.

Quando a física quântica foi descoberta, há quase um século, parecia contrária à lógica utilizada até então pelos cientistas para apreenderem o mundo. Acha que uma descoberta equivalente, de um novo tipo de energia ou de um aspeto específico do Universo, poderia mudar a maneira como imaginamos o que, neste momento, somos incapazes de compreender?

Não acho que viremos a descobrir nada fundamental. Se algo surpreendente ou radicalmente novo está para acontecer, deve ser um feito de engenharia, mais do que uma descoberta devastadora para a física. Isto porque temos hoje uma compreensão razoavelmente boa das leis da física, tanto do infinitamente pequeno – ao nível do próton – como do infinitamente grande – como o Big Bang.

Do interior de um próton até às margens exteriores do Universo. Portanto, realmente não é de se esperar o surgimento de novas surpresas. A menos, é claro, que consigamos entrar num próton, para explorar um canal, ou que saiamos do Universo graças ao hiperespaço. Já do lado da engenharia, sim, pode haver todo o tipo de surpresas, assim como no da bioengenharia.




Notas da Redação :

Escala de Kardashev – Trata-se de uma escala teórica que classifica as civilizações de acordo com o seu consumo de energia e o seu nível tecnológico. Proposta em 1961, pelo físico russo Nikolai Kardashev, tem sido utilizada por investigadores do SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence – centro de investigação de inteligência extraterrestre), que buscam possíveis sinais de extraterrestres, e por futuristas, para descreverem civilizações extraterrestres.

Kardashev distingue três tipos de civilizações: Civilizações de tipo 1 – Capazes de aproveitar a energia potencial de um planeta. Civilizações de tipo 2 – Capazes de aproveitar a energia potencial de uma estrela. Civilizações de tipo 3 – Capazes de aproveitar a energia potencial de uma galáxia.

Esta teoria foi posteriormente criticada e revista. A principal crítica foi a excessiva importância dada ao consumo de energia.

Ajuste fino e Big Bang – É necessário estarem reunidas condições extremamente precisas para surja no Universo a vida como a conhecemos. Uma variação, mesmo muito pequena, de algumas constantes fundamentais da física não permitiria que a vida emergisse.

O cosmologista e astrônomo britânico Fred Hoyle designou essas condições particulares do Universo de “ajuste fino”, em 1953.

Esse mesmo cientista, que defende a teoria do estado estacionário (que descreve um Universo imutável e eterno), usou a expressão Big Bang, em 1919, num programa da BBC, para ridicularizar a teoria de um Universo em expansão. Ora, não apenas provas de um Universo em expansão têm sido amplamente reunidas desde então, como a expressão Big Bang se tornou muito popular.

(*) Michio Kaku. Físico norte-americano nascido em 1947 (71 anos). Professor de física teórica no City College, em Nova York. Michio Kaku é também um futurista. 

Trabalha especialmente no campo da Teoria do Todo, que busca unificar as quatro forças fundamentais do Universo. O seu mais recente livro, The Future of Humanity: Terraforming Mars, lnterstellar Travel, lmmortality, and Our Destiny Beyond (O futuro da humanidade: transformação terráquea de Marte, viagens interestelares, imortalidade e o nosso destino mais além) foi publicado em fevereiro de 2018 nos Estados Unidos, pela editora Doubleday. 

Em Portugal, vários livros de Michio Kaku estão incluídos no Plano Nacional de Leitura do Ministério da Educação, como sugestões para o Ensino Secundário, traduzidos em português, como Hiperespaço, Mundos Paralelos. A Física do Futuro e O Futuro da Mente, editados pelo Editorial Bizâncio. 

A mesma editora publicou também A Física do Futuro e Visões: como a Ciência irá Revolucionar o Século 21. No Brasil, está traduzido O Cosmos de Einstein (Companhia das Letras).



Postado em Brasil 247 em 05/07/2018




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