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Paris, cidade dos Jogos Olímpicos de 2024






Adriana Helena

100 anos depois, Paris será sede de nova Olimpíada e aqui você saberá curiosidades incríveis sobre a Cidade Luz.

Bonjour! amigos queridos do Vivendo Bem Feliz! Já estamos com saudades dos Jogos Olímpicos de Tokio não é verdade? Mas você vai se reanimar ao saber que a sede dos próximos jogos será na famosa cidade do amor, do croissant e de um dos pontos turísticos mais visitados do Mundo: a Tour Eiffel. Estamos falando da linda, charmosa e que esbanja cultura, Paris. Venha saber tudo sobre ela.

Primeiro você ouvirá a magnífica Edith Piaf que fará a apresentação de Paris para você através da música. Ela é simplesmente um encanto...



Há quem diga que Paris é decadente ou sem graça. Mas mesmo que eu ainda não tenha viajado para conhecê-la, preciso discordar. Segundo a minha intuição e os conhecimentos "virtuais" que tenho da cidade, Paris seria sim, incrível.

“ Didier Raoult representa um dos piores ataques de desinformação e de ofensiva anticiência ”, diz TV francesa



Em programa de TV da França, jornalista Patrick Cohen diz que fenômeno Raoult foi “ponto de encontro do poder das redes sociais, de uma midiatização desenfreada e de um dos piores ataques de desinformação e de ofensiva anticiência”.


Willy Delvalle

O jornalista francês Patrick Cohen cobrou nesta quinta-feira no programa “C à Vous”, da emissora de televisão France 5, uma reação das autoridades francesas ao Dr. Didier Raoult, defensor da cloroquina para tratar a Covid-19, depois de um ano de provada a ineficácia do tratamento e nenhuma sanção adotada contra o médico.

Em editorial, o comentarista afirmou que “Didier Raoult é há mais de um ano um grande agente dessa crise, pelo menos segundo a opinião pública, ainda mais sendo um funcionário público”.

Cohen relembrou as mentiras contadas pelo diretor do Institut Hospitalier Universitaire de Marseille. “Ele foi a bússola que indica o sul: não há pandemia aqui, não há mortos em excesso no mundo, não há transmissão pelo ar, dizia ele, o que tornava as máscaras, o confinamento, as vacinas inúteis”.

“Raoult prometeu um remédio sem provas (de eficácia), nem precaução. Raoult produziu estudos falsos, como sabemos hoje. Ele tirou pacientes graves de ensaios clínicos”, aponta.

“Ele (Raoult) provocou inutilmente uma mobilização de dezenas de equipes de pesquisa, que tentaram encontrar provas com ensaios rigorosos, os quais ele se recusava a fazer”, afirma.

“Ele colocou a ciência em desordem e a opinião pública em confusão, acusando seus contraditores de serem corruptos. E agora ele anuncia uma denúncia por assédio contra a cientista especialista na pesquisa de fraudes, Elizabeth Bik, que lista cerca de 60 anomalias e falsificações nos estudos do IHU”.

“Tudo isso em nome de um estabelecimento público, outrora apresentado como polo de excelência da infectologia francesa. Mas isso não parece representar nenhum problema a ninguém”, critica.

“Nenhuma reação oficial em lugar nenhum. A Assistence Publique des Hopitaux de Marseille (instituição responsável pelos hospitais de Marselha, onde fica o IHU de Raoult) acha que é uma boa medicina? Não temos resposta”.

“A Université Aix-Marseille pensa que sua reputação saiu maior desse episódio?”, pergunta, em referência à universidade que abriga o IHU de Raoult.

“A Agência do Medicamento estima que os estudos produzidos pelo IHU são uma boa ciência?”, questiona.

“Uma autoridade de controle vai investigar as mais de 60 falsificações reveladas por Elizabeth Bik?”, cobra.

“O Ministro da Saúde acha que o dinheiro público foi bem utilizado? É normal que um outro professor universitário, o adjunto de Didier Raoult, Eric Chabrière continue proferindo ameaças e insultos contra seus colegas nas redes sociais? Ou de publicar, o que ele fez, o endereço pessoal de Elizabeth Bik?”, denuncia.


“Muitas vidas salvas em Marselha”: No Twitter, Raoult e seu adjunto Eric Chabrière continuam defendendo tratamento a base de hidroxicloroquina para Covid-19, mesmo depois de estudos da Organização Mundial da Saúde apontarem a ineficácia desse tratamento. Na imagem, os dirigentes do IHU de Marselha mencionam “artigo a ser publicado”.


“É normal ainda que um hospital universitário se torne referência dos negacionistas da pandemia, como dissemos, um dos pontos de referência de conspiracionistas, antimáscara, antivacina?”, em alusão a Jair Bolsonaro e Donald Trump, citados anteriormente no programa.

“Macron pensa que ele serviu a ciência e o interesse público, dando sua unção a Didier Raoult em Marselha, diante das câmeras? Os políticos que o apoiaram fizeram autocrítica?”

Em abril de 2020, o presidente francês Emmanuel Macron visitou Dr. Raoult no IHU de Marselha “ao abrigo das câmeras oficiais”. Foto: reprodução/TV France 24


“A mídia, jornalistas, apresentadores, estimam que dando microfone complacente a Didier Raoult, indo levar tapa na cara no seu escritório do IHU, pensam ter dado uma boa informação?”, pergunta, em alusão às entrevistas conduzidas por canais de TV franceses e as hostilidades do professor do Sul do país.

Ao longo de um ano de pandemia, a emissora francesa BFMTV exibiu três longas entrevistas com Didier Raoult


“Eu penso no ponto comum que une jornalistas e cientistas, produzir a verdade, mas quando dizem besteiras e mentiras não há nenhuma consequência sobre suas carreiras”.

“A história não está completamente escrita mas ela vai dizer certamente que aquilo que vocês (autoras do livro recém publicado “Raoult, une folie française”) terá sido o ponto de encontro do poder das redes sociais, de uma midiatização desenfreada e de um dos piores ataques de desinformação e de ofensiva anticiência. Isso é o que representa o fenômeno Raoult”, avalia.

“Isso requer prestar contas perante o poder público, às autoridades sanitárias. Não se deve de jeito nenhum importunar os fãs de Raoult?”, ironiza.

No fim de 2020, Didier Raoult foi alvo de denúncias de conselhos de medicina franceses por charlatanismo. Nenhuma punição foi decidida desde então.


Willy Delvalle Mestre em Sociologia e Filosofia Política pela Universidade Paris 7. Formou-se em Comunicação Social: Jornalismo na Unesp. Em São Paulo, foi professor voluntário de português a imigrantes e refugiados. Atualmente, cursa mestrado em União Europeia e Globalização na Universidade Paris 8.





“ Didier Raoult representa um dos piores ataques de desinformação e de ofensiva anticiência ”, diz TV francesa



Em programa de TV da França, jornalista Patrick Cohen diz que fenômeno Raoult foi “ponto de encontro do poder das redes sociais, de uma midiatização desenfreada e de um dos piores ataques de desinformação e de ofensiva anticiência”.


Willy Delvalle

O jornalista francês Patrick Cohen cobrou nesta quinta-feira no programa “C à Vous”, da emissora de televisão France 5, uma reação das autoridades francesas ao Dr. Didier Raoult, defensor da cloroquina para tratar a Covid-19, depois de um ano de provada a ineficácia do tratamento e nenhuma sanção adotada contra o médico.

Em editorial, o comentarista afirmou que “Didier Raoult é há mais de um ano um grande agente dessa crise, pelo menos segundo a opinião pública, ainda mais sendo um funcionário público”.

Cohen relembrou as mentiras contadas pelo diretor do Institut Hospitalier Universitaire de Marseille. “Ele foi a bússola que indica o sul: não há pandemia aqui, não há mortos em excesso no mundo, não há transmissão pelo ar, dizia ele, o que tornava as máscaras, o confinamento, as vacinas inúteis”.

“Raoult prometeu um remédio sem provas (de eficácia), nem precaução. Raoult produziu estudos falsos, como sabemos hoje. Ele tirou pacientes graves de ensaios clínicos”, aponta.

“Ele (Raoult) provocou inutilmente uma mobilização de dezenas de equipes de pesquisa, que tentaram encontrar provas com ensaios rigorosos, os quais ele se recusava a fazer”, afirma.

“Ele colocou a ciência em desordem e a opinião pública em confusão, acusando seus contraditores de serem corruptos. E agora ele anuncia uma denúncia por assédio contra a cientista especialista na pesquisa de fraudes, Elizabeth Bik, que lista cerca de 60 anomalias e falsificações nos estudos do IHU”.

“Tudo isso em nome de um estabelecimento público, outrora apresentado como polo de excelência da infectologia francesa. Mas isso não parece representar nenhum problema a ninguém”, critica.

“Nenhuma reação oficial em lugar nenhum. A Assistence Publique des Hopitaux de Marseille (instituição responsável pelos hospitais de Marselha, onde fica o IHU de Raoult) acha que é uma boa medicina? Não temos resposta”.

“A Université Aix-Marseille pensa que sua reputação saiu maior desse episódio?”, pergunta, em referência à universidade que abriga o IHU de Raoult.

“A Agência do Medicamento estima que os estudos produzidos pelo IHU são uma boa ciência?”, questiona.

“Uma autoridade de controle vai investigar as mais de 60 falsificações reveladas por Elizabeth Bik?”, cobra.

Exposição virtual permite visitar Palácio de Versalhes sem sair de casa


França: Guia para visitar o incrível Palácio de Versalhes



Agora visitar esse local repleto de história e beleza ficou muito mais fácil !

Ana Carolina Conti Cenciani

O Palácio de Versalhes fica localizado em um terreno de mais de 800 hectares e possui 2300 aposentos, começou a ser construído no reinado de Luís XIV e tornou-se o grande símbolo do poder dos monarcas na França absolutista.

A residência da icônica Maria Antonieta possui decoração suntuosa e jardins magníficos, o palácio já foi cenário de diversas produções audiovisuais, como por exemplo o filme ‘ Maria Antonieta .’ – de Sofia Coppola.

E agora visitar esse local repleto de história e beleza ficou muito mais fácil. Isto porque o Google Arts & Culture acaba de lançar a exposição virtual imersiva “Versalhes: O Palácio é Todo Seu”, que reúne imagens em alta resolução e em 3D da arquitetura do palácio.

Além poder observar e conhecer as obras de arte e objetos que fazem parte do famoso castelo, a grande vantagem é que a visita é como um guia particular, afinal a plataforma conta detalhadamente a história de tudo. A visita digital permite uma experiência diferente e os usuários podem conferir mais de 100 pinturas, esculturas e objetos de arte criados pelos maiores artistas dos séculos passados, além de conhecer lugares icônicos, como a Galeria dos Espelhos e o Quarto do Rei.


O Google Arts & Culture também utilizou a tecnologia Art Camera para digitalizar várias obras de arte penduradas nas paredes do palácio. Os bastidores do trabalho podem ser conferidos em neste vídeo no YouTube:




Os passeios em 3D proporcionam uma experiência imersiva de 360 graus com áudio (em inglês) para guiar o usuário por seis das salas mais impressionantes do palácio, incluindo a Casa de Ópera Real e a Sala de Coroação. Os visitantes também podem conferir objetos específicos, como o armário de joias Maria Antonieta e uma estátua de Louis XIV de Jean Warin.


Ficou curioso ?  Agora é sua vez de viajar pela história ! Clique aqui para conferir.




No Le Monde, Lula explica por que quer voltar a ser presidente do Brasil



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O Ex-Presidente Lula sendo carregado nos braços do Povo algumas horas antes de se entregar aos golpistas para ser preso injustamente. 


"Eu já fui presidente e não estava nos meus planos voltar a me candidatar. Mas diante do desastre que se abate sobre povo brasileiro, minha candidatura é uma proposta de reencontro do Brasil com o caminho de inclusão social, diálogo democrático, soberania nacional e crescimento econômico, para a construção de um país mais justo e solidário, que volte a ser uma referência no diálogo mundial em favor da paz e da cooperação entre os povos", diz o ex-presidente Lula, em artigo publicado nesta quinta-feira no jornal Le Monde.


Por Luiz Inácio Lula da Silva, no Le Monde – Sou candidato a presidente do Brasil, nas eleições de outubro, porque não cometi nenhum crime e porque sei que posso fazer o país retomar o caminho da democracia e do desenvolvimento, em benefício do nosso povo. Depois de tudo que fiz como presidente da República, tenho certeza de que posso resgatar a credibilidade do governo, sem a qual não há crescimento econômico nem a defesa dos interesses nacionais. Sou candidato para devolver aos pobres e excluídos sua dignidade, a garantia de seus direitos e a esperança de uma vida melhor.

Na minha vida nada foi fácil, mas aprendi a não desistir. Quando comecei a fazer política, mais de 40 anos atrás, não havia eleições no País, não havia direito de organização sindical e política. Enfrentamos a ditadura e criamos o Partido dos Trabalhadores, acreditando no aprofundamento da via democrática. Perdi 3 eleições presidenciais antes de ser eleito em 2002. E provei, junto com o povo, que alguém de origem popular podia ser um bom presidente. Terminei meus mandatos com 87% de aprovação popular. É o que o atual presidente do Brasil, que não foi eleito, tem de rejeição hoje.

Nos oito anos que governei o Brasil, até 2010, tivemos a maior inclusão social da história, que teve continuidade no governo da companheira Dilma Rousseff. Tiramos 36 milhões de pessoas da miséria extrema e levamos mais de 40 milhões para a classe média. Foi período de maior prestígio internacional do nosso país. Em 2009, Le Monde me indicou “homem do ano”. Recebi estas e outras homenagens, não como mérito pessoal, mas como reconhecimento à sociedade brasileira, que tinha se unido para a partir da inclusão social promover o crescimento econômico.

Sete anos depois de deixar a presidência e depois de uma campanha sistemática de difamação contra mim e meu partido, que reuniu a mais poderosa imprensa brasileira e setores do judiciário, o momento do país é outro: vivemos retrocessos democráticos, uma prolongada crise econômica, e a população mais pobre sofre, com a redução dos salários e da oferta de empregos, o aumento do custo de vida e o desmonte de programas sociais.

A cada dia mais e mais brasileiros rejeitam a agenda contra os direitos sociais do golpe parlamentar que abriu caminho para um programa neoliberal que havia perdido quatro eleições seguidas e que é incapaz de vencer nas urnas. Lidero, por ampla margem, as pesquisas de intenções de voto no Brasil porque os brasileiros sabem que o país pode ser melhor.

Lidero as pesquisas mesmo depois de ter sido preso em consequência de uma perseguição judicial que vasculhou a minha casa e dos meus filhos, minhas contas pessoais e do Instituto Lula, e não achou nenhuma prova ou crime contra mim. Um juiz notoriamente parcial me condenou a 12 anos de prisão por “atos indeterminados”. Alega, falsamente, que eu seria dono de um apartamento no qual nunca dormi, do qual nunca tive a propriedade, a posse, sequer as chaves. Para me prender, e tentar me impedir de disputar as eleições ou fazer campanha para o meu partido, tiveram que ignorar a letra expressa da constituição brasileira, em uma decisão provisória por apenas um voto de diferença entre 11 na Suprema Corte.

Mas meus problemas são pequenos perto do que sofre a população brasileira. Para tirarem o PT do poder após as eleições de 2014, não hesitaram em sabotar a economia com decisões irresponsáveis no Congresso Nacional e uma campanha de desmoralização do governo na imprensa. Em dezembro de 2014 o desemprego no Brasil era 4,7%. Hoje está em 13,1%.

A pobreza tem aumentado, a fome voltou a rondar os lares e as portas das universidades estão voltando a se fechar para os filhos da classe trabalhadora. Os investimentos em pesquisa desabaram.

O Brasil precisa reconquistar a sua soberania e os interesses nacionais. Em nosso governo, o País liderou os esforços da agenda ambiental e de combate à fome, foi convidado para todos os encontros do G-8, ajudou a articular o G-20, participou da criação dos BRICS, reunindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e da Unasul, a União dos países da América do Sul. Hoje o Brasil tornou-se um pária em política externa, que os líderes internacionais evitam visitar, e a América do Sul se fragmenta, com crises regionais cada vez mais graves e menos instrumentos diplomáticos de diálogo entre os países.

Mesmo a parte da população que apoiou a queda da presidenta Dilma Rousseff, após intensa campanha das Organizações Globo, que monopolizam a comunicação no Brasil, já percebeu que o golpe não era contra o PT. Era contra a ascensão social dos mais pobres e os direitos dos trabalhadores. Era contra o próprio Brasil.

Tenho 40 anos de vida pública. Comecei no movimento sindical. Fundei um partido político com companheiros de todo o nosso país e lutamos, junto com outras forças políticas na década de 1980, por uma Constituição democrática. Candidato a presidente, prometi, lutei e cumpri a promessa de que todo o brasileiro teria direito a três refeições por dia, para não passar fome que passei quando criança.

Governei uma das maiores economias do mundo e não aceitei pressões para apoiar a Guerra do Iraque e outras ações militares. Deixei claro que minha guerra era contra a fome e a miséria. Não submeti meu país aos interesses estrangeiros em nossas riquezas naturais.

Voltei depois do governo para o mesmo apartamento do qual saí, a menos de 1 quilômetro do Sindicato dos Metalúrgicos do da cidade de São Bernardo do Campo, onde iniciei minha vida política. Tenho honra e não irei, jamais, fazer concessões na minha luta por inocência e pela manutenção dos meus direitos políticos. Como presidente, promovi por todos os meios o combate à corrupção e não aceito que me imputem esse tipo de crime por meio de uma farsa judicial.

As eleições de outubro, que vão escolher um novo presidente, um novo congresso nacional e governadores de estado, são a chance do Brasil debater seus problemas e definir seu futuro de forma democrática, no voto, como uma nação civilizada. Mas elas só serão democráticas se todas as forças políticas puderem participar de forma livre e justa.

Eu já fui presidente e não estava nos meus planos voltar a me candidatar. Mas diante do desastre que se abate sobre povo brasileiro, minha candidatura é uma proposta de reencontro do Brasil com o caminho de inclusão social, diálogo democrático, soberania nacional e crescimento econômico, para a construção de um país mais justo e solidário, que volte a ser uma referência no diálogo mundial em favor da paz e da cooperação entre os povos.


Artigo originalmente publicado pelo jornal francês Le Monde. Acesse a versão original.



Postado em Brasil247 em 17/05/2018


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Lula no centro da foto, no meio do Povo, horas antes da prisão injusta 
decretada pelos golpistas



A França e o sequestro das boas intenções


Hollande Syria Islamic State Daesh France terrorism Paris



Diógenes Júnior, no site dos Jornalistas Livres:

Há uma tentativa da mídia, por sinal bem exitosa, de sequestrar o emocional das pessoas, comparando os atentados ocorridos no último dia 13 em Paris com os atentados de 11 de setembro nos EUA, vitimizando a França e relativizando os ataques que essa mesma França praticou contra a Síria e o Iraque, por exemplo.

Diante de duas tragédias, a proporção da cobertura midiática revela a desproporção de sua comoção.

As lágrimas meticulosamente estudadas e oportunamente derramadas pelo presidente francês François Hollande durante seu pronunciamento oficial fazem parte de uma estratégia.

A campanha que a rede social Facebook disponibilizou para que seus usuários pudessem mesclar as cores da bandeira da França com suas fotos de perfil são de um altruísmo questionável e extremamente seletivo.

A enorme quantidade de pessoas que utilizaram esse recurso, ou mesmo as que trocaram suas fotos de perfil por bandeiras da França são reflexo do sucesso de uma mesma estratégia, também de tentar sequestrar o emocional de sua audiência.

Jogando com o inconsciente coletivo das pessoas, manipulando reportagens e bombardeando-as com informações pinçadas conforme seus interesses, a mídia tradicional tem pautado a agenda de discussões sobre o tema “terrorismo”, definindo conforme suas convicções comerciais a diferença entre “ataque terrorista” e “legítima defesa diante de injustas agressões”.

Pelas regras contidas nessa agenda midiática, fica pré-estabelecida uma dinâmica em que qualquer ofensiva promovida por um país ocidental contra um país de orientação islâmica é legítima, sempre realizada com os heróicos objetivos de “defender a democracia”, “encontrar armas de destruição em massa” e “acabar com regimes totalitários e ditatoriais”.

No documentário Fahrenheit 9/11, o direitor Michael Moore apresentou ao mundo alguns métodos com os quais os governo dos EUA, tendo como principal aliado a mídia, fizeram a população do país não apenas acreditar que havia evidências de existência de armas de destruição em massa no Iraque, mas também apoiar uma invasão àquele país.

O governo americano declarou ter gasto US$ 845 bilhões no conflito no Iraque. O que não é nada, comparado à perda de mais de *500.000 vidas.

(*A estimativa do total de pessoas mortas na guerra do Iraque entre 2003 e 2011 diverge de fonte para fonte, com números que chegam a até mais de 600. 000 mortes.)

Sequestrar o emocional das pessoas com o objetivo de engajá-las em uma luta contra um “inimigo comum” é uma tática bem conhecida, utilizada em larga escala e por diversas vezes durante a história.

“A propaganda para o público em geral funciona a partir do ponto de vista de uma idéia, e o prepara para quando da vitória daquela opinião.”

Essas palavras, encontradas no livro Mein Kampf, de Adolf Hitler, descrevem o conceito de usar a propaganda para disseminar a idéia de que uma guerra — no caso contra os judeus — se fazia necessária à época e que todos que se engajassem naquela guerra contra o “inimigo comum” sairiam dela como “vitoriosos”.

Voltando para a questão dos ataques ocorridos em Paris, identifico a clara intenção do governo Hollande em criminalizar o Islã, transferindo o cerne da questão, que é política, para abstratas acusações de motivações religiosas.

Para essa empreitada François Hollande conta com um poderosíssimo aliado: a imprensa.

Para antevermos os resultados dessa estratégia podemos usar como parâmetro o que aconteceu nos EUA logo após os atentados de 11 de setembro.

O governo estadunidense recrudesceu em muito a política repressiva que mantinha e o congresso pôs em curso o famigerado “Ato Patriota”, lei que tinha como objetivos reforçar a segurança interna do país e aumentar os poderes das agências de cumprimento das demais leis, além de identificar e deter supostos terroristas. Cerceando e ignorando os direitos civis do povo americano, claro.

Certamente que o parlamento francês reforçará, a exemplo do que fez os EUA, seus dispositivos “antiterrorismo”, o que recrudescerá a repressão contra a população em geral e contra os imigrantes em particular.

A maioria dos muçulmanos não só não aprova como condena a violência e não tem a menor culpa do que aconteceu na França. A despeito disso, suponho que serão ainda mais perseguidos, ainda mais criminalizados e que certamente pagarão pelo que outros fizeram.

Assim como seu aliado EUA, o governo da França comunga, entre outras idéias, da idéia central de que apenas o uso da força bruta pode resolver seus problemas, muitas vezes problemas de ordem social.

(Bem parecido com a política promovida pelo governador de São Paulo, diga-se de passagem)

Marine Le Pen, representante da extrema-direita francesa que já foi candidata à Presidência da República declarou, quando aconteceu o ataque ao jornal Charlie Hebdo, que “o islamismo havia declarado guerra ao seu país” e que o povo “deveria responder sem fraquejar”.

Diante dos fatos apresentados, ouso dizer que a direita francesa está comemorando muito tudo isso, de braços dados com o governo Hollande e grande parcela da mídia mundial.

O restante do mundo, atônito, aguarda desdobramentos tão ou mais trágicos do que a tragédia que se abateu sobre Paris e que ceifou a vida de pelo menos 129 vidas.

A leitura da primeira estrofe de “A Marselhesa” reforça os temores de não apenas muçulmanos, mas de todos os imigrantes em solo francês nesse momento:

“Esses ferozes soldados?
Vêm eles até nós
Degolar nossos filhos, nossas mulheres. Às armas cidadãos!
Formai vossos batalhões!
Marchemos, marchemos!
Nossa terra do sangue impuro se saciará!”
(Hino Nacional da França — A Marselhesa).



Postado no Blog do Miro em 16/11/2015


Colheita macabra


O primeiro ataque ocorreu
por volta das 21h20. Dois atiradores abriram fogo contra os restaurantes Petit
Cambodge e Le Carrillion, no 10º arrondissement, região nordeste da capital


Fernando Brito

Não conheço a Paris de hoje, nunca pus os pés por lá. Mas, pela dor, acabamos todos, neste instante ali bem perto, diante de tamanho morticínio.

Mais ainda porque, se não pus os pés, levou-se à velha Paris a minha cabeça, conduzida pela mão apaixonada de Victor Hugo, por tudo o que a cidade significou na história humana, e a quem ele declarava seu amor incondicional:

“Pode-se dizer que Paris tem as virtudes do cavalheiro: é sem medo e sem censura. Sem medo, ele o prova diante do inimigo.Sem mancha, prova-o diante da história. Teve, por vezes, a cólera: será que o céu não tem vento? Como os grandes ventos, as cóleras de Paris são saneadoras. Depois do 14 de julho, não há mais Bastilha; depois do 10 de agosto (de 1972, a tomada popular do palácio real), não há mais realeza. Tempestades justificadas pela amplificação do azul.”

Não há um que não chore aqueles jovens, que não fizeram nada para ofender ninguém. Mas já são tantos mortos, os das torres gêmeas, os do avião russo, agora os franceses, e os milhares e milhares em Cabul, Damasco, Bagdá e por tantos lugares que já não nos é permitido só chorar: é preciso falar e agir.

O presidente François Hollande acaba de responsabilizar o “Estado Islâmico” – repito, não é Estado, nem Islâmico – pelo ato de barbárie. Não basta prometer resposta implacável, porque, para ser implacável mesmo, há de ser lúcida e não uma primária “vingança”.

Pois é preciso entender o que cria esta monstruosidade.

E me socorro de novo do grande herói francês, sobre o que ele dizia do fundamentalismo religioso, para pensar:

Aqui, uma pergunta. Será que estes homens são maus? Não. Que é que eles são, pois? Imbecis. Ser feroz não é difícil, para isto basta a imbecilidade. Então, será que nasceram imbecis? De forma alguma. Algo os tornou assim. Acabamos de dizê-lo. Embrutecer é uma arte.

A segunda metade do século 20 foi a do fim completo do colonialismo, na Ásia, na Arábia, na África, até nos pequenos protetorados da América Central e do Caribe. Em alguns poucos, a guerra os libertou, como no Vietnã, mas na maioria das vezes a luta pela independência não virou confronto total: ficara evidente que o tempo da dominação colonial passara.

Daquilo sobrou pouco: uma chaga remanescente, dolorosa, a dos palestinos, a quem nunca se permitiu deixar rebrotar na terra as raízes.

Aqueles povos foram aprendendo, com seus erros, acertos e distrofias, a viver sendo de novo seus próprios senhores. Fizeram ditadores? Sim, os fizeram, como aqui os tivemos e nunca nos enviaram tropas para libertar-nos e dar-nos a democracia. Ao contrário, deram alfanges aos que quiseram desabrochar as primaveras que começamos a descobrir.

A primeira década e meia do século 21, ao contrário, tem sido a da intervenção, a da ocupação, o das bombas e mísseis “inteligentes” que iam exterminar as imaginárias “armas de destruição em massa”, mas que atingiram em cheio as estruturas de poder e de convívio – torto, defeituoso, autoritário – que tinham minimamente organizado.

Nunca hesitaram, para isso, em valer-se da fé obscura e fanática. Criaram os Bin Laden e os grupos que virariam o Isis. Não raro, até, lhes enviaram dinheiro, armas e até mesmo alguns de seus cidadãos mais tresloucados, ávidos por viver uma espécie de sacerdócio bélico.

A colheita macabra disso é a noite de ontem em Paris, como outras safras já se colheram em Nova York e nos céus do Sinai.

Pagaram-na com a vida os jovens de Paris. Paga-la-ão em vida os milhões de refugiados com que a guerra que o Ocidente moveu em seus países fez abarrotar a Europa, contra os quais vão se elevar os níveis de xenofobia, discriminação e maus tratos.

Para ficarem em paz talvez nem lhes adiante fazer como seus antepassados tiveram de fazer na Idade Média, tornando-se cristão novos: abjurar da fé, da cultura, da língua, como fizeram os meus Nogueira, os seus Pereira, Carneiro, Lobo, Moreira.

Porque no Ocidente “civilizado” também espalharam-se os esporos do fundamentalismo, que é o fascismo, o ódio ao diferente, o direito auto-concedido de achar-se o puro e aos demais impuros, infiéis.

Semeou-se o ódio, revolveu-se o chão com guerras, brotou o ressentimento, floresceu a insânia e e nos nauseia o cheiro fétido da flor do terror.

Não há caminho para a paz que não seja o do respeito à autodeterminação dos povos.

Todos os outros levam à violência e a violência é uma arma que acaba por ferir a mão de quem a brande.


Postado no Tijolaço em 14/11/2015


As raízes do terror islâmico


Dois brasileiros ficaram feridos na série de atentados, segundo informou a embaixada do Brasil na França. Um deles foi operado e teria perdido muito sangue. O outro sofreu ferimentos, mas não corre risco de morte


Paulo Nogueira

Diante de uma tragédia como a de ontem em Paris, duas atitudes se impõem.


A primeira é chorar cada morte. Na última contagem, 120 pessoas foram mortas pelos atos conjuntos de terrorismo, e dezenas estão feridas, muitas em estado crítico.


A palavra mais comum nos jornais franceses deste sábado é, previsivelmente, horreur, horror.

Derramadas todas as lágrimas, vem a segunda atitude. Tentar compreender como uma violência de tal magnitude pôde acontecer.

É um passo essencial para evitar que outros episódios dantescos como o desta sexta em Paris possam se repetir.

Mas há, aí, uma extraordinária dificuldade em sair de lugares comuns como a “violência radical” do islamismo e dos islâmicos.

Trechos do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, são citados em apoio dessa tese falaciosa e largamente utilizada.

A questão realmente vital é esta: o que leva ao extremismo tantos muçulmanos, sobretudo jovens? Por que eles abandonam vidas confortáveis em seus países de origem, abraçam o terror e morrem sem hesitar pela causa que julgam justa?

Os líderes ocidentais não fazem este exercício porque a resposta àquelas perguntas é brutalmente indigesta para eles.

O terror islâmico nasce do terror ocidental, numa palavra.

Há muitas décadas os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, promovem destruição em massa nos países islâmicos.

Querem garantir o petróleo, a que preço for, e fingem que estão naquela região com propósitos civilizatórios.

O último grande ato de predação foi a Guerra do Iraque. Sabe-se hoje que as razões alegadas pelos americanos e seus aliados britânicos para realizá-la foram mentirosas.

O Iraque de Saddam Hussein simplesmente não tinha as armas de destruição em massa que serviram de pretexto para a guerra.

Um levantamento reconhecidamente criterioso calcula em cerca de 120.000 as mortes de civis iraquianos. Outras fontes falam em meio milhão.

Quem paga por este crime de guerra chancelado por Bush nos EUA e Tony Blair na Grã Bretanha?

Ninguém.

Você pode imaginar o tipo de reação que ações como a Guerra do Iraque provocam entre os sobreviventes da violência ocidental.

Mais recentemente, os drones americanos – os aviões de guerra teleguiados – vem semeando mortes em quantidade pavorosa nos países árabes.

Apenas nos anos de Obama, calcula-se que 500 civis tenham sido mortos pelos drones, muitos deles crianças e mulheres.

No mesmo dia do drama parisiense, os americanos comemoraram a morte, por um drone, do terrorista do Estado Islâmico que se tornou conhecido como Jihadi John. Aparentemente JJ foi quem degolou várias pessoas em medonhas execuções filmadas e postadas na internet.

Brutalidade gera brutalidade.

Bin Laden foi o cérebro por trás de uma mudança radical nas retaliações islâmicas. Ele levou a guerra paradentro dos países ocidentais. O maior exemplo disso foram os atentados de 11 de Setembro.

O que a mídia ocidental quase não noticiou é que Bin Laden virou um ídolo entre os muçulmanos e como tal foi chorado ao ser executado pelos americanos.

Os atentados de Paris obedecem à mesma lógica: transportar os combates para a casa dos inimigos.

O que torna esta guerra ainda mais complicada para os ocidentais é que os soldados islâmicos não se importam de morrer pela causa. Alguns deles se explodiram ontem em Paris.

Sem refletir profundamente sobre as origens do terror islâmico é impossível que a situação mude.

Obama, quando anunciou a morte de Bin Laden, disse famosamente que o mundo ficara mais seguro.

Os episódios de ontem em Paris mostram quanto Obama se equivocou – lamentavelmente.


Paulo Nogueira é Jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Postado no Diário do Centro do Mundo em 14/11/2015


Paris 13 de Novembro de 2015

Abrem se as cortinas do espetáculo,
a alegria reina na matriz!
Os homens e as mulheres jubilosos
Em festa, em jogos, estão em Paris!

Mas alguém que sofreu tanto,
seja ódio ou desencanto,
decidiu a tudo isso por um fim.

Viu a festa que faziam
sem lembrar dos que morriam
e a própria dor explodiu assim...

A mídia corre a mostrar o inimigo,
um ser monstruoso, um terrível terrorista,
alguém que entrou no lar de uma família
para impor seu pensamento egoísta.

As massas aterrorizadas cantam
seus hinos e demonstram sua coragem
e não percebem que além do fanatismo
continuam movendo a engrenagem.

A máquina que envia avião e drones
extingue famílias de forma impessoal
e vida de homens, mulheres, filhos, filhas
são apenas números de mortos no jornal.

Mas alguém que sofreu tanto,
seja ódio ou desencanto,
decidiu a tudo isso por um fim.

Viu a festa que faziam
sem lembrar dos que morriam
e a própria dor explodiu assim...

Agora choramos nossas vítimas,
não são apenas estatísticas, são gente,
não são de outro mundo, mas do continente
que tudo dominou e arrogante intima.

E a junção da vingança e do ódio
é usada pela mais vil política
que p'ra manter o poder da arma e da guerra
investe na causa que lhe justifica.

Mortos serão números e o medo calará a massa
que aceitará qualquer infame repressão.
Barreiras aos refugiados, controle e opressão
a segurança é o bem contra o mal que ameaça.

( Ronald Pinto )



Rumo a uma nova cruzada ?




Manlio Dinucci, no Il Manifesto | Tradução: Antonio Martins

Movem-se e disparam como verdadeiros comandos. Nada de rajadas, para não desperdiçar munição. Apenas um ou dois disparos em cada vítima, como o policial já ferido e liquidado no chão, com um só tiro, pelo assassino que passa a seu lado, volta ao carro e, antes de subir, recolhe com toda calma um tênis – que poderia servir de prova, por meio de análise do DNA.

No entanto, quando estes mesmos indivíduos, depois de darem mostra de uma preparação digna de um comando de forças especiais, mudam de veículo, “esquecem” no primeiro auto – segundo a versão da polícia – um documento de identidade. E assim, assinam oficialmente o atentado. 

Em poucas horas, o mundo inteiro conhecerá seus nomes e suas biografias: “dois delinquentes de pouca envergadura, radicalizados, conhecidos pela polícia e serviços de inteligência franceses”.

Diante dos fatos que estão sendo definidos como “o 11 de Setembro da França”, não é possível deixar de recordar o sucedido no 11 de Setembro norte -americano, quando – apenas algumas horas após o atentado contra as Torres Gêmeas – circularam os nomes e biografias das pessoas designadas como autores do atentado e integrantes da Al Qaeda. 

Também nos Estados Unidos, quando o presidente Kennedy foi assassinato, o suposto assassino foi descoberto de imediato. E algo idêntico ocorreu na Itália, no massacre da Piazza Fontana. É perfeitamente legítima, portanto, a suspeita de que, por trás do atentado ocorrido na França, possa estar o longo braço dos serviços secretos.

Os dois supostos autores da matança de Paris, se são precisas suas biografias, pertencem ao mundo subterrâneo criado pelos serviços secretos ocidentais – inclusive os da França –, que em 2011 financiaram, treinaram e armaram, na Líbia, diversos grupos islâmicos, pouco antes qualificados de terroristas.

Entre estes grupos, encontravam-se precisamente os primeiros núcleos do futuro Emirado Islâmico (ISIS). 

Segundo uma investigação do New York Times publicada em março de 2013, os serviços secretos ocidentais ofereceram-lhes armamento através de uma rede organizada pela CIA. 

Depois de haverem participado da derrubada de Muamar Kadhafi, foram enviados à Síria, para tentar derrocar o presidente Assad e posteriormente para atacar o Iraque, no momento exato em que o governo de Al-Maliki afastava-se do Ocidente e se aproximava de Pequim e Moscou.

O Emirado Islâmico, nascido em 2013, recebe financiamento da Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Turquia, países que além disso facilitam – junto com a Jordânia – o trânsito do grupo através de seus territórios. 

E não se deve esquecer que os países mencionados são, todos, aliados muito próximos dos Estados Unidos e demais potências ocidentais, incluindo a França. 

Isso não significa que a massa dos membros dos grupos islamitas, que frequentemente provêm de distintos países ocidentais, tenham consciência desta cumplicidade. 

De qualquer maneira, é altamente provável que se escondam, atrás dos terroristas, agentes secretos ocidentais e árabes, especialmente treinados na realização deste tipo de operações.

Enquanto se esperam novos elementos capazes de esclarecer a verdadeira origem do massacre perpetrado na França, parece lógico perguntarmos: Quem se beneficia com tudo isso?

A resposta pode ser deduzida do que declarou Nicolas Sarkozy, o mesmo que – quando presidente da França – foi um dos principais artífices do respaldo aos grupos islâmicos que participara na guerra de agressão à Líbia. 

Sarkozy qualificou o atentado de Paris como uma “guerra declarada contra a civilização, que tem a responsabilidade de se defender”.

Busca-se assim convencer a opinião pública de que o Ocidente está em guerra contra aqueles que querem destruir a “civilização”. 

Implica que o Ocidente representa a “civilização” e, por isso, precisa defender-se, ampliando suas forças militares e enviando-as a todos os lugares onde surja esta “ameaça”.

Trata-se, assim, de converter a dor das massas pelas vítimas do massacre em mobilização a favor da guerra. 

O Davi, coberto em Florença com um véu negro, em sinal de luto, está chamado agora a empunhar a espada na nova Santa Cruzada.


Postado no site Outras Palavras em 13/01/2015


Morte em Paris



Redação de Outras Palavras

Uma das hipóteses mais lúgubres do sociólogo Immanuel Wallerstein concretizou-se, em parte, esta manhã em Paris. 

Dois homens encapuzados e vestidos de negro, aparentando (ou simulando) ser fundamentalistas islâmicos, invadiram a sede de um jornal satírico francês, o Charlie Hebdo, e executaram, a rajadas de metralhadoras, ao menos doze pessoas. 

Entre os mortos estão o editor da publicação e outros três chargistas de enorme talento e renome internacional. Charlie Hebdo é irreverente, inclinado à esquerda e crítico às instituições religiosas. Esta postura levou-o, algumas vezes, a provocar o islamismo, religião de milhões de imigrantes oprimidos e discriminados na Europa.

Sejam quais forem os responsáveis pelo atentado, as consequências são potencialmente trágicas: aumento da onda xenófoba – especialmente anti-islâmica – na Europa. Crescimento dos partidos de extrema-direita. Reforço à postura ultra-agressiva que os Estados Unidos, com notável apoio da França, já adotam no Oriente Médio. Risco ampliado de guerras de provocação. 

Wallerstein adverte que a crise do capitalismo é profunda, mas poderá abrir espaço tanto para um sistema mais democrático e igualitário quanto para o oposto.

Ao entrar em declínio, a ordem hoje hegemônica liberta a emergência e expansão de valores de um pós-capitalismo; mas engendra, ao mesmo tempo, riscos de um mundo ainda mais hierarquizado, violento e desigual. As circunstâncias do atentado e seu contexto parecem validar a hipótese.

Armados de fuzis, os dois assassinos chegaram à redação de Charlie Hebdo, no centro de Paris, por volta das 11h. Sob ameaça, obrigaram a cartunista Corrine Rey (“Coco”), que entrava com sua filha, a abrir a porta do prédio. Ela relatou que falavam “um francês perfeito” e disseram pertencer à Al-Qaeda. Subiram dois andares e começaram a fuzilaria.

Chegaram num momento preciso. Às quartas pela manhã, a redação reunia-se, para definir a pauta do número seguinte. Estavam presentes o diretor, Charb, mais três cartunistas – Cabu, Tignous e Wolinski (este último mais conhecido do público brasileiro, por publicar, em abril de 2011, em Piauí, a sequência “Meio século de sexo”) – e quatro redatores (entre eles, o economista Bernard Maris, ex-membro do Conselho Científico do movimento ATTAC, em favor do controle social sobre o sistema financeiro).

Todos foram mortos na hora, junto com mais dois funcionários do jornal e dois policiais. Os assassinos teriam gritado, segundo testemunhas que os jornais franceses não identificam claramente, “Allahu Akbar” [“Alá é o Maior”] e se vangloriado de que “vingamos o Profeta”. 

Mas fugiram de carro, ao invés de se auto-martirizarem, como é comum em atentados cometidos pelo terror islâmico. Além disso, até o fechamento deste texto, nenhum grupo havia assumido o ato.

Fundado em 1992, o atual Charlie Hebdo (que resgata o nome de uma publicação anterior) não é um jornal de extrema-esquerda, ao contrário do que se afirmou no Brasil. Parte de sua equipe esteve presente em revistas humorísticas ligadas à revolta de 1968. Mas seu foco central não são os grandes temas políticos franceses ou mundiais – mas a crítica às instituições religiosas e à ultradireita.

Nos últimos anos, voltou-se especialmente contra o islamismo. Em 2005, reproduziu uma série de charges publicadas originalmente no jornal dinamarquês Jyllands Posten,consideradas ofensivas ao profeta Maomé. 

Manteve a mesma postura por anos a fio, o que despertou críticas de analistas importantes do Islã – como Alan Gresh, redator do Le Monde Diplomatique. 

Num texto publicado em 2012, ele defendeu, obviamente, a liberdade de expressão do Charlie Hebdo, mas criticou sua linha anti-islâmica. Lembrou que, além de discriminados, os muçulmanos sofrem, há anos, restrições às liberdades políticas (em 2014, o governo francês chegaria a proibir manifestação contra o ataque israelense aos palestinos da Faixa de Gaza). 

Diante deste contexto, Gresh indagava: seria correto, em 1931, em plena ascensão do nazismo, uma publicação alemã de esquerda estampar charges ridicularizando aspectos retrógrados da religião judaica?

A hipótese de que o atentado de hoje seja de autoria de fundamentalistas islâmicos é real.

Num sinal da descoesão ocidental, apontada por Wallerstein, o New York Times lembra hoje que, entre os militantes do grupo ultrafundamentalista ISIS, criador de um califado no Iraque, há milhares de europeus (além de norte-americanos, seria justo acrescentar…).

Mas a pergunta clássica – cui profit, a quem beneficia o crime – sugere não ficar apenas nesta hipótese.

Quase quinze anos após os atentados de 11 de Setembro, não foram respondidas as teorias segundo as quais a derrubada das Torres Gêmeas não poderia ocorrer sem algum tipo de participação das agências de inteligência dos Estados Unidos, nem as crônicas sobre o estranho comportamento do presidente George W. Bush ao ser informado de sua derrubada.

Mais de 100 mil pessoas saíram às ruas esta noite, em dezenas de cidades francesas, em solidariedade à redação de Charlie Hebdo. 

O clima foi de óbvia consternação e de defesa das liberdades. Manifestaram-se os que se sentem próximos de um jornal irreverente e sarcástico. Mas e a Europa profunda

Na própria França, as pesquisas colocam em primeiro lugar, na preferência dos eleitores para a próxima eleição à Presidência, Marinne Le Pen, da Frente Nacional, xenófoba e de extrema-direita. 

Na Alemanha, ressurgem, pela primeira vez depois da II Guerra Mundial, manifestações contra estrangeiros, articuladas por um movimento que se apresenta como contrário à suposta “islamização do Ocidente”. 

Que efeito terá o atentado de hoje sobre estes sentimentos já em ascensão?

As doze vítimas de hoje merecem tantas homenagens quanto cada um dos mais de 500 mil mortos no Iraque, desde a invasão norte-americana, ou as mais de 2.400 pessoas seletivamente assassinadas pelo governo norte-americano, por meio de drones, só entre 2009 e 2014.

Porém, mais que os mortos, está em questão o futuro do humanidade.

Para Wallerstein, é impossível saber, hoje, o que virá após o declínio do capitalismo.

É uma disputa que se prolongará por décadas e será definida em “uma infinidade de nano-ações, adotadas por uma infinidade de nano-atores, em uma infinidade de nano-momentos”.

O atentado de hoje chama atenção para os riscos inerentes a este cenário de crise. 

Mas pode, num sentido oposto, ecoar o apelo à ação feito, na sequência, pelo mesmo sociólogo. Ele diz:
“Em algum ponto, a tensão entre as duas soluções alternativas vai pender definitivamente em favor de uma ou outra. É o que nos dá esperança. O que cada um de nós fizer a cada momento, sobre cada assunto imediato, importa”.

Postado no site Outras Palavras em 07/01/2015


Só quem ama os livros entende o charme do lugar


Paris: Shakespeare and Company ou Morre George Whitman



Foto: Milton Ribeiro
Publicado com profundos cortes pessoais e de ordem comportamental — feitos por mim mesmo — no Sul21 na última segunda-feira. Copio aqui só para acrescentar algumas fotos mesmo.
Num fim de semana onde os obituários estiveram cheios de celebridades — Christopher Hitchens, Cesária Évora, Sérgio Britto, o Santos, Joãosinho Trinta, Václav Havel, Kim Jong-il — a morte de George Whitman passou quase em branco. Whitman, dono da mítica livraria Shakespeare & Company, localizada na margem esquerda do Sena, em Paris, morreu aos 98 anos em seu apartamento. Ele sofrera um derrame em outubro, mas recusou-se a ficar no hospital, exigindo ser levado para casa, que fica no andar de cima da livraria.
Fazer uma referência a uma livraria de Paris que só vende romances e ensaios literários em inglês pode parecer produto do mais puro elitismo, mas não pensamos ser o caso.
A livraria foi aberta em 1951 e — além de ser um extraordinário sebo e livraria — serve de abrigo a escritores em início de carreira para que tenham teto e/ou trabalho até que terminem seus livros. Lá também ocorrem chás literários e encontros com autores, quaisquer autores.
Whitman nasceu nos Estados Unidos em 1913, Viveu parte da infância na China. Mudou-se para Paris em 1948. Segundo ele, na época, uma bicicleta e um gato eram suas únicas posses. Em 1951, abriu a livraria Le Mistral, rebatizando-a como Shakespeare & Company em 1964, em homenagem a Sylvia Beach, proprietária da Shakespeare & Company original, responsável, por exemplo, pela primeira edição de Ulisses, de James Joyce. Quando falecera, em 1962, Sylvia Beach deixara para Whitman os direitos de uso do nome e livros.

James_Joyce com Sylvia Beach na Shakespeare & Co original (Paris, 1920)

Uma das estantes da livraria que fazem referência a Sylvia Beach | Foto: Milton Ribeiro
Imediatamente famosa no meio literário, a loja virou ponto de encontro de escritores como Arthur Miller, James Baldwin, Samuel Beckett, Anaïs Nin, Lawrence Durrel, William Burroughs, Gregory Corso, Jack Kerouac, Allen Ginsberg e rota turística para os apaixonados pela literatura. No andar de cima da livraria vivia não apenas Whitman e família, mas diversos candidatos a escritores. Reza a lenda que, desde 1964, lá dormiram mais de 40 mil pessoas diferentes entre os livros. O pagamento pela hospedagem era escrever, ler e varrer a livraria. Alguns também atendiam no balcão e na cozinha. Outra lenda diz que Whitman aconselhava a saída de autores que estavam lá há mais de ano…
Whitman viva de acordo com o lema retirado de um poema de W. B. Yeats e que está pintado numa das paredes internas — “Seja hospitaleiro com todos, alguns podem ser anjos disfarçados” (tradução livre). Durante o final de semana, velas, flores e romances foram depositados na porta da Shakespeare, fechada pelo luto. Bilhetes de homenagens foram colados com agradecimentos e elogios.

Hoje, há prateleiras em torno da citação | Foto: Blog Hipsters & Company
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A Shakespeare and Company é o sonho do bibliófilo. Os livros — normalmente revelantes ou raros — podem ser vistos em toda parte: nas paredes, no meio da loja, nas escadas, em todo canto, sobrando pouco espaço para a circulação. Para completar, no espaço atulhado ainda há alguns locais com cadeiras e bancos para leitura. Também há um piano, sobre o qual pode ser lido um cartaz sugerindo que se toque apenas música erudita ou jazz. Os outros cartazes pedem para que os leitores nunca, jamais sejam perturbados, fato que faz com que o som da livraria seja um complicado contraponto de passos e sussurros. Na escada para o andar de cima, só uma pessoa passa de cada vez. Na verdade, a mais famosa livraria do mundo é apenas um pequeno caos onde se vende livros bem escolhidos, onde há cadeiras confortáveis e onde há a promessa de solidariedade. Nada de mega-ultra-hiper. O teto não é pintado há anos e é difícil imaginar como poderia sê-lo sem a retirada dos volumes. A atmosfera é tão acolhedora que o visitante tem a fantasia de que o conhecimento que está nos livros, sob alguma forma misteriosa, entra-lhe pelos poros quando está na livraria.
A livraria, que já era administrada pela filha de George, Sylvia Beach Whitman, seguirá ativa.
O que há bem na frente da Shakespeare? Ora, a Catedral de Notre Dame, mas, para alguns, há dúvidas sobre quem é mais catedral. Abaixo, mais fotos da livraria de Whitman:

A entrada principal | Foto: Claudia Antonini

A porta auxiliar da livraria | Foto: Claudia Antonini

O grande homenageado | Foto: Milton Ribeiro

Uma das vitrines que dá para a Catedral de Notre Dame | Foto: Claudia Antonini

O caos interno | Foto: Blog Hipsters & Company

Sylvia Beach Whitman e seu pai, George

Do lado direito, vê-se uma nesguinha de porta. É onde morava George Whitman no segundo andar da Shakespeare and Co. | Foto: Claudia Antonini

Eu estou fotografando a epígrafe de Daniel Martin, do grande John Fowles | Foto: Claudia Antonini

A epígrafe de Gramsci | Foto: Milton Ribeiro

A Claudia e o Dario dizem que os livros têm o poder de me deixar quieto. Sei lá, eu SOU quieto! | Foto: Claudia Antonini

A localização da Shakespeare em relação à capelinha medieval de Notre Dame | Foto experimental de Claudia Antonini

Comparar Notre Dame com a Shakespeare... Piada, né? | Foto: Claudia Antonini

Sylvia, a filha. 30 anos. Bonita, não?

Postado por Milton Ribeiro no Blog do Milton Ribeiro em 21/12/2011