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Três coisas simples que se tornaram complicadas

 Cientistas defendem que comer carboidratos e fibras durante a gravidez pode  evitar pré-eclâmpsia – Pais&Filhos

 A humanidade tem sérios problemas para resolver, mas são muitas as pessoas que passam muito tempo resolvendo pequenas dificuldades fictícias. Às vezes, essas dificuldades são geradas por inúmeras coisas simples que, de repente, se tornaram desnecessariamente complicadas. Analisaremos o tema a seguir.

Vivemos em tempos contraditórios em que coisas extremamente complexas se tornaram simples e coisas simples se tornaram complicadas. Hoje em dia é relativamente fácil conectar diferentes pontos do planeta em questão de segundos, mas receber uma saudação do vizinho pode ser uma façanha.

Em grande medida, o consumismo é o fator que nos leva a colocar artifícios e enfeites em coisas simples, que não deveriam implicar nenhuma complexidade. Assim como a modernidade traz consigo avanços fantásticos que devemos aproveitar ao máximo, também é possível aprender a valorizar aspectos do passado que podem ser úteis na atualidade. Esses são três desses aspectos.

 “O homem que começou a viver seriamente por dentro, começa a viver mais simplesmente por fora ”.   - Ernest Hemingway -



1. Comer, uma das coisas simples que se tornaram complicadas

Comer não é opcional, já que se não o fizermos, simplesmente morreremos. Até algumas décadas atrás, a comida fazia parte das coisas simples da vida que não envolviam grandes mistérios. As pessoas comiam o que tinham disponível, tentando priorizar o que tivesse mais nutrientes ou fosse mais saboroso.

Hoje, a alimentação é uma das realidades que se tornaram complicadas. Em nossa época, praticamente todos os alimentos causam algum dano e o assunto dieta tornou-se muito complexo para muitos. Leite sem lactose, café descafeinado, sem açúcar, sem sal, sem farinha, sem glúten, sem carne, sem gordura; não comer muito, mas também não muito pouco; não combinar isso com aquilo…

As coisas poderiam ser muito mais simples nesse aspecto. Por um lado, o critério a seguir é que nenhum excesso é bom; isso é bem conhecido desde o tempo dos estoicos e não mudou. Por outro lado, quanto menos alimentos ultra processados ​​forem ingeridos, melhor.

Comer não pode ser visto como uma ameaça, mas também não como um ritual sublime. É mais simples do que isso.

2. Vestir-se, um apoio cego ao consumo

O consumismo nos levou a níveis absurdos. Certamente muitos sabem que seus avós e bisavós compravam roupas muito ocasionalmente. Os produtos eram de tão boa qualidade que até mesmo eram herdados do irmão mais velho para o mais novo ou de pai para filho.

O que as pessoas procuravam eram roupas para aquecê-las o suficiente, se estivesse frio, ou para permitir que se refrescassem se estivesse calor. Os critérios para se vestir no dia a dia eram utilidade e conforto. Por isso, as roupas eram duráveis, bem feitas e confeccionadas em materiais adequados.

O vestir sempre teve algo a ver com estética. No entanto, nossos ancestrais só davam relevância a esse aspecto em dias ou momentos especiais. Era comum cada pessoa ter seu traje de domingo, para usar nos dias em que não havia trabalho ou que tivessem alguma celebração especial.

O mundo de hoje tornou esse aspecto muito difícil, especialmente para algumas pessoas que são extremamente permeáveis ​​ou dependentes da opinião dos outros e, portanto, fazem muito para agradar. A moda é uma forma de tornar as roupas obsoletas e garantir um maior consumo. O exemplo perfeito de uma das coisas simples que se tornaram complicadas.


3. A diversão se tornou complexa

É desconcertante que a diversão também se encaixe na lista de coisas simples que se complicaram, mas é a verdade. Centenas de opções divertidas foram criadas, mas o ponto principal é que elas não são realmente divertidas, apenas permitem passar o tempo ou se entreter de vez em quando.

O que existe hoje é uma gigantesca indústria que promove figuras no mundo do entretenimento. Obviamente, há personagens muito talentosos, mas também há muitos cantores que não cantam, atores que não atuam, escritores que não sabem escrever, etc. No fundo, esta esfera é uma continuação do mundo da modelagem.

Celebridades são feitas, muitas vezes à força, e ganham grandes quantias de dinheiro pelas suas apresentações ou visualizações. Muitas pessoas atualmente são espectadoras da diversão, mas não são realmente participantes ativos desta. Esquecemos que uma boa conversa, um jogo simples, uma dança em grupo ou uma boa leitura são coisas muito divertidas.

A palavra “divertir” vem da raiz latina divertere, que significa “virar na direção oposta, recriar”. Não é exatamente isso que acontece em grande parte da diversão de hoje, muito pelo contrário, já que estamos imersos em uma eterna reiteração de tendências.

A comida, as roupas e a diversão poderiam voltar a ser mais simples e acessíveis. Talvez fazer isso seja parte do caminho para recuperar o bem-estar.






Três coisas simples que se tornaram complicadas

 Cientistas defendem que comer carboidratos e fibras durante a gravidez pode  evitar pré-eclâmpsia – Pais&Filhos

 A humanidade tem sérios problemas para resolver, mas são muitas as pessoas que passam muito tempo resolvendo pequenas dificuldades fictícias. Às vezes, essas dificuldades são geradas por inúmeras coisas simples que, de repente, se tornaram desnecessariamente complicadas. Analisaremos o tema a seguir.

Vivemos em tempos contraditórios em que coisas extremamente complexas se tornaram simples e coisas simples se tornaram complicadas. Hoje em dia é relativamente fácil conectar diferentes pontos do planeta em questão de segundos, mas receber uma saudação do vizinho pode ser uma façanha.

Em grande medida, o consumismo é o fator que nos leva a colocar artifícios e enfeites em coisas simples, que não deveriam implicar nenhuma complexidade. Assim como a modernidade traz consigo avanços fantásticos que devemos aproveitar ao máximo, também é possível aprender a valorizar aspectos do passado que podem ser úteis na atualidade. Esses são três desses aspectos.

 “O homem que começou a viver seriamente por dentro, começa a viver mais simplesmente por fora ”.   - Ernest Hemingway -



1. Comer, uma das coisas simples que se tornaram complicadas

Comer não é opcional, já que se não o fizermos, simplesmente morreremos. Até algumas décadas atrás, a comida fazia parte das coisas simples da vida que não envolviam grandes mistérios. As pessoas comiam o que tinham disponível, tentando priorizar o que tivesse mais nutrientes ou fosse mais saboroso.

Hoje, a alimentação é uma das realidades que se tornaram complicadas. Em nossa época, praticamente todos os alimentos causam algum dano e o assunto dieta tornou-se muito complexo para muitos. Leite sem lactose, café descafeinado, sem açúcar, sem sal, sem farinha, sem glúten, sem carne, sem gordura; não comer muito, mas também não muito pouco; não combinar isso com aquilo…

As coisas poderiam ser muito mais simples nesse aspecto. Por um lado, o critério a seguir é que nenhum excesso é bom; isso é bem conhecido desde o tempo dos estoicos e não mudou. Por outro lado, quanto menos alimentos ultra processados ​​forem ingeridos, melhor.

Comer não pode ser visto como uma ameaça, mas também não como um ritual sublime. É mais simples do que isso.

2. Vestir-se, um apoio cego ao consumo

O consumismo nos levou a níveis absurdos. Certamente muitos sabem que seus avós e bisavós compravam roupas muito ocasionalmente. Os produtos eram de tão boa qualidade que até mesmo eram herdados do irmão mais velho para o mais novo ou de pai para filho.

O que as pessoas procuravam eram roupas para aquecê-las o suficiente, se estivesse frio, ou para permitir que se refrescassem se estivesse calor. Os critérios para se vestir no dia a dia eram utilidade e conforto. Por isso, as roupas eram duráveis, bem feitas e confeccionadas em materiais adequados.

O vestir sempre teve algo a ver com estética. No entanto, nossos ancestrais só davam relevância a esse aspecto em dias ou momentos especiais. Era comum cada pessoa ter seu traje de domingo, para usar nos dias em que não havia trabalho ou que tivessem alguma celebração especial.

O mundo de hoje tornou esse aspecto muito difícil, especialmente para algumas pessoas que são extremamente permeáveis ​​ou dependentes da opinião dos outros e, portanto, fazem muito para agradar. A moda é uma forma de tornar as roupas obsoletas e garantir um maior consumo. O exemplo perfeito de uma das coisas simples que se tornaram complicadas.


3. A diversão se tornou complexa

É desconcertante que a diversão também se encaixe na lista de coisas simples que se complicaram, mas é a verdade. Centenas de opções divertidas foram criadas, mas o ponto principal é que elas não são realmente divertidas, apenas permitem passar o tempo ou se entreter de vez em quando.

O que existe hoje é uma gigantesca indústria que promove figuras no mundo do entretenimento. Obviamente, há personagens muito talentosos, mas também há muitos cantores que não cantam, atores que não atuam, escritores que não sabem escrever, etc. No fundo, esta esfera é uma continuação do mundo da modelagem.

Celebridades são feitas, muitas vezes à força, e ganham grandes quantias de dinheiro pelas suas apresentações ou visualizações. Muitas pessoas atualmente são espectadoras da diversão, mas não são realmente participantes ativos desta. Esquecemos que uma boa conversa, um jogo simples, uma dança em grupo ou uma boa leitura são coisas muito divertidas.

A palavra “divertir” vem da raiz latina divertere, que significa “virar na direção oposta, recriar”. Não é exatamente isso que acontece em grande parte da diversão de hoje, muito pelo contrário, já que estamos imersos em uma eterna reiteração de tendências.

A comida, as roupas e a diversão poderiam voltar a ser mais simples e acessíveis. Talvez fazer isso seja parte do caminho para recuperar o bem-estar.






A história das coisas – O caminho dos produtos que compramos





A história das coisas é um filme dinâmico e objetivo, que fala dentre outros assuntos, sobre o consumo exagerado de bens materiais, e o impacto agressivo que esse consumo desregrado acaba exercendo sobre o meio ambiente.

O filme é apresentado por Annie Leonard, e mostra de uma maneira bastante clara todo o processo que vai desde a extração da matéria, confecção do produto, venda e ideologia publicitária, facilidade de compra e falsa ideia de necessidade, até o momento em que vai parar nos galpões de lixo ou incineradores.






Por que estamos sempre cansados ?


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Jackson César Buonocore

A resposta seria: a falta de empenho ou tem algo errado com os nossos hábitos e corpo. Mas, não é tão simples assim? É por isso, que recorremos ao pensamento do filósofo sul-coreano Byung-chul Han, autor do livro “Sociedade do Cansaço”, que mostra o excesso de positividade, que culmina nas mais diversas patologias psicológicas.

Han faz a crítica da positividade e da sociedade do desempenho, que são as causadoras dos males da alma, em decorrência dos efeitos colaterais dos discursos motivacionais, nos quais imperam as mensagens de ação produtiva, e que todas as metas são alcançáveis.

Ele afirma que a sociedade do desempenho seria um contraponto à sociedade disciplinar, do século 20, postulada pelo filósofo francês Michel Foucault. A sociedade do desempenho produz deprimidos e perdedores, já que ela nutre o poder de elevar o nível de produtividade, através da técnica disciplinar: “do imperativo do dever”.

Podemos comparar isso ao “animal selvagem”, que devido à necessidade de sobrevivência está focado em várias atividades, mantendo uma visão rasa. Aliás, Han considera que os avanços tecnológicos, a web e as redes sociais criaram as doenças neuronais.

É nesse percurso, que o autor avalia que a era bacteriológica e viral transformou-se na era das doenças neuronais, da mente, que está ligada a subjetividade, na qual a sociedade da positividade traz uma prática de violência, que resulta na superprodução, superdesempenho e supercomunicação.

A sociedade estudada por Foucault gerava loucos e delinquentes. Porém, na sociedade analisada por Han surge à patologia do fracasso do homem pós-moderno, de uma agressão sistêmica que causa pequenos infartos psíquicos, que tomam conta da nossa época: depressão, transtorno de personalidade limítrofe, síndrome de burnout, hiperatividade, etc.

Uma pesquisa realizada pelo Ibope, em 2013, apontou que 98% dos brasileiros sentiam-se cansados mental e fisicamente. Além do cansaço sofremos de um desânimo cruel, pois os mais pobres se acostumaram a ficar sempre em um estado hipervigilância. Por exemplo: de janeiro a julho deste ano a polícia carioca matou 1.075 pessoas, o maior número de mortes cometidas pela polícia em 20 anos.

A saúde mental nas favelas sofre com o transtorno de estresse pós-traumático, porque a cidade do Rio de Janeiro vive um estado de guerra, que afeta a vida dos moradores da periferia. No ano passado uma a cada três escolas no Rio passaram ao menos um dia fechadas em razão da violência, imaginem o cansaço neuronal dos alunos.

Enfim, a sociedade do cansaço nasce da conexão de todos esses fatores, que Han chamou de “infarto da alma”, ou seja, uma fadiga extrema, em que cada pessoa possui seu próprio grau de esgotamento. Contudo, existe uma saída para isso: que é uma vida contemplativa, associada a uma filosofia de resistência aos estímulos hiperativos e opressivos, de uma sociedade consumista, onde mais se vive, mas se sobrevive.

* Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista






O (humaníssimo) Direito ao Reparo



Contra a alienação e a obsolescência programada surge uma reivindicação prosaica, mas cheia de sentido. É preciso recobrar o poder de consertar os aparatos que se danificam — ao invés de descartá-los e afundar no consumismo.

Por Valerie Vande Panne | Tradução: Gabriela Leite e Simone Paz


No final de 2018, conectei meu iPhone em meu MacBook usando um cabo genérico, comprado em um mercadinho. Comecei a fazer um backup. Tudo congelou. Meu iPhone não ligava, e ficou travado na tela inicial com o logo da Apple. Horas no chat de suporte da Apple e um dia depois (tirando os detalhes traumáticos), saí da loja mais próxima da empresa com meu celular “restaurado” para as configurações de fábrica.

Perdi todos os meus dados. Nada pode ser salvo.

O técnico da Apple repreendeu-me por usar um cabo não autorizado pela empresa. Tirou sarro de mim por não usar o Cloud, serviço de armazenamento online. Minha pergunta foi: “Por que a Apple não avisou que não se pode usar esses cabos para backups?” Ele riu, e disse que eu deveria saber.

Senti que a Apple estava me punindo por gastar 10 dólares em um cabo no mercado perto de casa, ao invés de pagar os 20 dólares no cabo proprietário.

Comprar um cabo de carregamento de celular é quase um gasto anual. Por que eu não deveria gastar o dobro? Por que a Apple não me avisaria para não fazer backup com ele?

Mais tarde, falei com Danny Varghese, dono de uma loja de reparos técnicos em Nova York. Ele disse que eu provavelmente não tinha perdido nenhum dado, e que ele provavelmente conseguiria recuperar tudo e consertar o problema por um preço razoável.

Por que a Apple me faz perder todos os meus dados quando isso não é necessário? Varghese explicou que eu não era a única. Ele recebe clientes como eu regularmente.

“Uma cliente veio aqui dois dias atrás”, contou. “Ela levou seu iPhone X para a autorizada da Apple. Ele estava reiniciando sozinho. Disseram para limpar o aparelho.” Ela o levou a Varghese. “Mesmo sem o programa de diagnóstico”, ele conta, “descobri que o problema estava na bateria, troquei a peça, e resolvi o problema. O celular funcionou bem — até melhor que antes.” A moça não perdeu seus dados, mas teria que mandar seu celular para fazer uma limpeza.

“Os clientes não têm que perder todos os seus dados só porque a Apple diz”, ponderou Varghese.

Não é só a Apple que nega ao consumidor o direito de consertar produtos que o consumidor compra. É a John Deere, que produz tratores. São os fabricantes de geladeiras. E mais ou menos tudo que é produzido hoje, que contenha partes eletrônicas, ou que se conecte à internet. Pode ser que você precise de uma peça de cinco centavos para consertar sua televisão de tela plana, mas sem os esquemas controlados pelo fabricante você jamais terá ideia de qual parte de cinco centavos você precisa, ou onde instalar. Então, você simplesmente compra outra TV.

Ao negar ao consumidor a estrutura, as ferramentas e a informação necessária para consertar os produtos que o consumidor possui, os fabricantes nos empurram para uma sociedade cada vez mais descartável, a um custo cada vez maior para nossos bolsos e para o planeta.

A consciência pública sobre essa questão cresceu, à medida que novos utensílios são programados para a obsolescência e as pessoas são pressionadas a comprar novas coisas — que talvez nem queiram, ou precisem. Um caso muito famoso é o da John Deere, que basicamente proíbe os agricultores — talvez algumas das pessoas mais hábeis a consertar seus equipamentos sozinhas — de fazer reparos em seus próprios tratores.

Os agricultores não são os únicos consumidores afetados. Quanto mais os eletrodomésticos incorporam tecnologias “inteligentes” de controle remoto, os fabricantes criam mais obstáculos para o reparo funcional. Colam as baterias dentro do produto, de maneira que não possam ser trocadas, e recusam-se a liberar os esquemas para fazer reparos, tanto aos técnicos quanto ao público geral.

Se um grupo de ativistas, pensadores e cidadãos engajados tiverem êxito, no entanto, Nova York vai ser o primeiro estado dos EUA a resolver esse problema crescente.

O movimento é chamado de Direito ao Reparo. A Associação pelo Reparo lidera os esforços para conseguir que a legislação do Direito ao Reparo passe [em mais de doze estados]. 2019 marca o quinto ano em que um projeto de lei com esses parâmetros foi introduzido na Assembleia Legislativa de Nova York. Com projetos semelhantes em duas instâncias, os apoiadores acreditam que o Direito ao Reparo possa passar em breve.

Se isso acontecer, como Nova York tem uma grande influência no país, será criado um precedente que os fabricantes não conseguirão ignorar. “É altamente improvável que empresas como a Apple ou a John Deere digam ‘não vou fazer negócios em Nova York’”, disse Gay Gordon-Byrne, diretor executivo da Associação do Reparo. “Uma vez que passe em Nova York… os fabricantes terão que estabelecer uma versão do direito ao reparo”. Ela frisa: “O primeiro projeto é o que cria o padrão”, disse. Com isso, a oposição dos lobistas da indústria deveráser “insanas”.

Se quebrou, não conserte!

Os argumentos que as corporações utilizam para impedir que o público mexa em seus produtos costumam ser a respeito a softwares proprietários, preocupações com a segurança e perigos da bateria de lítio.

Os fato de os programas serem licenciados e terem copyright não significa que sejam um segredo. Gordon-Byrne explica que os livros também estão protegidos por direitos autorais, mas o texto serve para compartilhar informações, assim como os softwares são feitos para passar por sinais elétricos que representam os dados. “É completa e especificamente legal fazer o reparo de hardwares e fazer cópias de backup legal, e mexer com os softwares, inclusive fazer modificações e customizações”, completa.

Preocupações com a segurança são outras táticas de amedrontamento que os lobistas gostam de empregar, segundo Gordon-Byrne. O único problema é que a vulnerabilidade da segurança cibernética não está ligada aos reparos do dispositivo “a não ser nos filmes”, brinca. “Equipamentos são feitos ou para serem seguros, ou não.”

Um exemplo de equipamento inseguro deve ser um dispositivo que usa um chip que já carrega com um spyware. Mas Gordon Byrne argumenta que “é alarmista e ridículo dizer aos consumidores que levar seus equipamentos ao conserto fará com que fiquem mais expostos a algum novo risco — quando os grandes riscos [tais quais os assistentes pessoais que gravam todas as conversas ou outros relacionados à Internet das Coisas] vêm sendo ignorados.”

Profissionais de segurança uniram-se para apoiar o Direito ao Reparo.

Para além de softwares e segurança, a maior parte das pessoas só quer que os produtos nos quais gastam centenas (quiçá milhares) de reais funcionem. No fim das contas, se a bateria do seu fone de ouvido sem fio está acabando rápido, você deve mesmo comprar novos fones? Não é mais fácil trocar a bateria? Principalmente se você não tem dinheiro pra ficar continuamente investindo em novas tecnologias. Mas infelizmente, a bateria em seus fones de ouvido provavelmente está colada. Quando ela morre, também morrem os fones.

Mas nós não jogamos fora os carros quando sua bateria está com defeito. Nós consertamos a peça que quebrou. Pelo menos foi o que fizemos por centenas de anos.

Outra tática de pânico é realçar o que é conhecido como o “escapamento térmico”: quando uma bateria de lítio-íon morre — a bateria que provavelmente está em seu celular, notebook e até nos carros elétricos — começa a pegar fogo. É assustador ver, ou imaginar crianças expostas a isso. Mas muito raramente acontece na assistência técnica — especialmente quando ferramentas de diagnóstico apropriadas existem, e seu funcionamento está disponível e referenciado.

Felizmente, os legisladores de Nova York ouviram o mesmo disco de lobistas pelos últimos quatro anos. Os mais experientes, segundo Gordon-Byrne, estão “muito bem inoculados” a táticas de pânico. Mas há sempre os novatos, que “ainda não foram vacinados”. Até agora.

“Quando você se senta pela primeira vez com um deputado, eles dizem que isso é muito óbvio”, diz Gordon-Byrne. “Então, ouvem a história dos lobistas e, de repente, ouvem que o jeito americano será destruído. Haverá acontecimentos catastróficos. Exige algum tempo até que eles sejam postos de volta nos eixos.”

Uma longa tradição de reparos

Os projetos de lei de Nova York estão baseadas no projeto de direito ao reparo estabelecido para automóveis e caminhões comerciais que passou em Massachusetts, em 2012. Essa lei diz que fabricantes de carros devem fornecer, a preços justos e razoáveis, diagnósticos, ferramentas, controle e manuais de serviço que sejam os mesmos da concessionária. A lei garante que se você vive em Massachusetts, você deve conseguir que seu carro seja consertado em uma mecânica que tenha o mesmo acesso à informação que a concessionária. A Auto Alliance e a Automotive Service Association — grupos de comércio para as grandes fabricantes de automóveis e de concessionárias de carros, respectivamente — chegaram a um acordo que diz que os fabricantes de carros cumprirão o que se exige em Massachusetts em todo o resto dos EUA.

Gordon-Byrne explica que a proposta de lei de Nova York opera de maneira semelhante. “Se algo tem eletrônicos em si, há variações dos mesmos componentes. Você consegue entender o que há de errado. Depois do diagnóstico, você consegue a nova peça, usa ferramenta, passa de novo pelo software de diagnóstico e… Está restaurado!”

Kyle Wiens é o novo presidente da iFixIt (um site de reparos) e um apoiador do Direito ao Reparo. A possível nova lei de Nova York “vai restaurar nosso direito de consertar nossas próprias coisas. Equipamentos de agricultura, eletrônicos — tudo, menos equipamento médico.” A concessão aos equipamentos médicos foi feita para conseguir com que o projeto consiga passar, mas a questão de hospitais é algo para se pensar adiante. Os hospitais podem querer ter o direito de consertar os equipamentos que possuem, mas os fabricantes de aparelhos médicos estão exigindo que sejam utilizados seus caros contratos de serviço.

Todo o resto, porém, está coberto pelo projeto de Nova York, diz Wiens. Considere, por exemplo, o novo Mac Pro básico de US$ 6 mil [preço nos EUA, cerca de R$ 22,8 mil reais. No Brasil, o modelo atual custa entre R$ 31 mil e R$ 55 mil], que foi anunciado recentemente pela Apple. “Você consegue consertá-lo?” pergunta-se Wiens. “Essa é uma questão aberta.”

Obviamente, a questão é mais séria do que as piadas inspiradas pelo recente anúncio da Apple, que soou como algo que apareceria em uma série de comédia, mais do que um produto real que os humanos realmente queiram.

“Antigamente, havia oficinas técnicas para aspirador de pó e TV, e agora há apenas caminhões de lixo levando embora nossas coisas”, diz Wiens. Mesmo o direito de manter os produtos que você tem está sendo, há muito tempo, retirado — simplesmente porque os fabricantes promovem a sociedade descartável, em busca de mais lucros para seus acionistas.

O que aconteceu com os consertos manuais?

Quando Henry Ford criou os automóveis que marcaram o século XX, ele o fez remexendo peças — e queria que outras pessoas tivessem o direito de fazer o mesmo. Na verdade, Ford valorizava tanto o espírito do “faça você mesmo” que sua empresa produziu múltiplos “kits de conversão” pós-venda para o Modelo T. Quem o possuísse poderia convertê-lo no que quer que precisasse, incluindo um trator, uma moto de neve e uma caminhonete. O modelo de negócio da Ford, naqueles dias, encorajava o consumidor a remexer e fazer reparos, com autossuficiência.

Benjamin Franklin era um remexedor de peças. Tomas Edison e Nikola Tesla também. Essa é a raiz da inovação — a liberdade de aprender como as coisas funcionam, e experimentar com a construção de coisas novas e melhores. O crescente controle corporativo parece estar esmagando o espírito inovador. 

Cultura do desperdício e a explosão do lixo eletrônico

Para além da inovação e do direito de simplesmente manter os produtos que funcionam (que empregam todos esses técnicos de bairro que ainda existem, e com quem você pode contar), Wiens vê o direito ao reparo como uma necessidade absoluta em contexto urbano.

“Remover uma geladeira antiga de um apartamento não é uma coisa fácil”, diz. Refrigeradores costumavam ter uma vida útil de 20 anos ou mais, e havia técnicos em sua comunidade que poderiam consertá-los rápida e facilmente. “Hoje em dia, se você compra uma geladeira, a vida útil esperada é de sete anos. É o menor tempo que se tem notícia. E as cidades acabam tendo que se responsabilizar por esse problema.”

Isso porque as cidades lidam com o fluxo de resíduos. Refrigeradores pesados e volumosos não entram em um caminhão de lixo comum. “Têm de ser manejados de maneira especial, pois há um motor refrigerador dentro”, lembra Wien. “Há instalações especializadas que lidam com o fim da vida útil dos refrigeradores.”

O mesmo acontece com televisões mais novas. “Não há nenhum bom motivo para trocar qualquer TV que você tenha comprado nos últimos cinco a dez anos”, declara Wien. Alguma peça barata e simples poderia ser trocada, mas ao invés disso, o aparelho inteiro vai para o lixo, e aí aparece mais um problema para a cidade.

Fabricantes que produzem geladeiras e TVs de vida útil curta, que não podem ser facilmente reparadas, criam um ônus para as cidades, que precisam lidar com um número crescente desses produtos que entram no fluxo de resíduos. Em grandes cidades, alguém pode fazer o atendimento do produto, mas as pessoas que moram em comunidades rurais e mais pobres não têm o mesmo acesso. Sem acesso fácil ao funcionamento e às partes, seu Direito ao Reparo — sua autossuficiência — é forçadamente diminuída.

Não são só as geladeiras e TVs que causam problemas para o fluxo de resíduos urbano. Ao fabricar produtos e treinar o consumidor a vê-los como descartáveis, como os telefones celulares, um perigo real pode acontecer. Baterias de lítio-íon são agora parte do fluxo de lixo, e quando esses componentes são esmagados em caminhões de lixo, podem criar o fogo de escapamento. Então, o próprio caminhão de lixo — ou a instalação de gerenciamento de resíduos — pega fogo.

O que está acontecendo agora, de acordo com Peter Mui, fundador da Fixit Clinic, na Baía de São Francisco, Califórnia, é que as seguradoras estão se recusando a cobrir centros de reciclagem por causa do risco de alguém ter jogado um equipamento eletrônico com uma bateria. “Nós projetamos esses dispositivos em um buraco negro”, segundo Mui.

De acordo com o site do iFixIt, para cada mil toneladas de eletrônicos, o aterro cria zero empregos, a reciclagem gera 15 e o conserto cria 200.

Empregos de reparo técnico são ótimos. O costureiro, o sapateiro, as oficinas de TV e celulares “são as lojas que queremos em nossos bairros”, diz Wiens. “Antigamente, havia lojas de câmeras em toda cidade, nos EUA. Agora não há nenhuma. Esse é um resultado direto da decisão da Nikon e da Canon de não vender peças de reposição para lojas independentes. Essas empresas simplesmente decidiram ‘não haverá mais peças para você’, e foi assim o fim das lojas de câmera, por volta de 2012. Como resultado dessas políticas de fabricantes, afirma Wiens, perdemos parte importante da resiliência econômica de nossas cidades.

Dentro da oficina de conserto

Mas isso não faz com que parem de surgir pequenas lojas de conserto nas cidades. Na oficina da Fixit, pessoas de todas as idades e todos os níveis de experiência se encontram em oficinas de reparo comunitário, que acontecem principalmente em bibliotecas públicas. Mui descreve as oficinas como uma “desmontagem guiada”, e diz que é “como uma reunião do AA para coisas quebradas.”

As pessoas chegam, e alguém diz “‘Olá, sou Paulo e esse é meu aparelho de DVD. Ele faz esse barulho quando eu insiro um disco’. Nós dizemos ‘OK, vamos abrir e ver o que pode estar errado’”, conta Mui, mostrando que eles ajudam as pessoas a consertar seus próprios aparelhos. “Não estamos consertando isso para o cliente. Estamos guiando-o para o conserto. Estamos espalhando o ethos de que consertar é possível.”

Mui ensina reparos técnicos desde 2009, quando começou a Fixit na Universidade da Califórnia. “Antes, tratava-se de uma oportunidade humilde de disponibilizar ferramentas, apenas para ver o que poderíamos fazer”, conta. “Mas ao longo do tempo, eu me aproximei mais da política e da defesa de direitos. Há algumas escolhas civilizatórias que enviam as coisas para o aterro prematuramente. Quanto mais eu trabalho com isso, fica mais politicamente claro que estamos operando o planeta em um nível de consumo. Nosso consumo está matando o planeta. É insustentável continuar dessa maneira. É nosso interesse, como civilização, manter as coisas a seu nível mais alto de utilidade pelo mais longo tempo possível.”

Mui acredita que as pessoas se cansam de seus produtos, ou pensam “isso está velho, preciso de um novo.” Outro problema, no entanto, é que o produto tem uma coisa muito simples que poderia ter sido consertada, e as pessoas não pensam que poderia ser reparável — a mentalidade hipercapitalista e descartável penetrando em nossos modos de vida.

Para Mui, ajudar a consertar dá poder às pessoas para que possam fazer que com que o aparelho fique “melhor do que quando era novo. Não apenas restaurado, mas agora você entende como ele quebrou e pode solucionar os problemas dele e consertá-lo muitas vezes.”

“A taxa de sucesso nos consertos é de 70%, sem acesso à assistência autorizada ou manual do fabricante. Na maior parte do tempo, simplesmente aplicamos as habilidades de pensamento crítico”, explica Mui.

Mui conta que sua inspiração veio de momentos em que viu equipamentos eletrônicos que eram facilmente reparáveis, mas cujos fabricantes “usavam uma cabeça triangular estranha ou uma chave de fenda com chave de boca, e as pessoas comuns não têm essas ferramentas.”

À medida em que o hardware e o software tornam-se mais e mais integrados, na eletrônica de hoje, a questão do direito ao reparo “fala sobre a natureza da propriedade em geral”, para Mui. “A Apple parou de fornecer atualizações para os iPhones 4 e 5. As informações pessoais contidas neles estão vulneráveis, e podem ser roubadas. Mas você tem direito à posse delas. Você gastou 500 ou 600 dólares naquilo. Ele faz tudo que você precisa. Mas a Apple decide que você não vai mais usá-lo. E se se uma terceira parte fornece a atualização, só a Apple pode dar o código para desencriptar o telefone. A Verizon decidiu por conta própria não permitir mais a ativação de telefones 3G. Então, se você quer vender o aparelho para outra pessoa, você vai ter um tijolo de 400 dólares. Não pode usar mais com a Verizon, já que a frequência está bloqueada para a rede da empresa.”

Mui aponta que a indústria de moda chamada de fast-fashion, de descarte rápido, também é parte crítica do movimento pelo reparo. “São roupas, malas, barracas e toldos” que poderiam ser facilmente arrumados, ele diz, e ainda assim essa é a segunda indústria mais poluidora da Terra, ao lado da de petróleo”.

“O conserto desapareceu. Não há mais reparos de terceiros em muitas cidades. Fica mais caro consertar que comprar algo novo”, explica Mui.

Uma das coisas que ele espera que aconteça com a FixIt é inspirar a “como projetar para a durabilidade, facilidade de manutenção e capacidade de manutenção e reparo… desde o início.”

Treinando para abandonar o descarte

Na Ethical Culture Fieldston School, uma escola particular de Nova York, alunos do ensino fundamental e médio aprendem a fazer reparos em seus próprios dispositivos.

“Existe um centro e voluntários, como um centro de reforço de matemática”, conta Jeannie Crowley, diretora de tecnologia da escola. “Nós dizemos: ‘Ok, seu celular quebrou. Vamos orientá-lo para que você mesmo possa consertar’. Falamos sobre os minerais e as ferramentas e a habilidade de fazer manutenção.”

Os estudantes, conta Crowley, passam muito tempo em seus celulares. Mas quando eles os abrem, conseguem ter um modelo mental de como os telefones funcionam, e sua relação com eles muda.

Não só a escola ajuda os alunos (e pais) a estender a vida útil de seus celulares, ela diz, “Queremos que as pessoas saiam da escola e façam projetos pensando em um ajuste para que possam prolongar a vida” dos produtos que desenharem. É assim que esperam levar as crianças para o movimento do reparo.

“As pessoas costumam pensar que crianças não devem se envolver com manutenção”, lembra Crowley. “Sentimos que o reparo é algo que as crianças precisam entender. Um de nossos objetivos é resolver os problemas para que as escolas que não têm recursos como nós possam pegar o que aprendemos e aplicar a seus estudantes.”.

Até os alunos do ensino fundamental têm a oportunidade de abrir seus computadores, fazer a limpeza, aumentar a memória RAM e deixá-los prontos para os estudantes do ano seguinte.

Crowley diz que o direito ao reparo diz respeito a muitas coisas fundamentais, incluindo a ideia de propriedade, e de economia de dinheiro. Para ela e os estudantes, também trata-se de prevenção às mudanças climáticas e sustentabilidade, contenção do lixo eletrônico, e prevenir que produtos vão para o aterro por causa de um software que tem data de validade, ou que a bateria esteja colada por dentro. “Nos tornamos uma sociedade descartável, e isso não é sustentável”, ela diz.

Reparo e sustentabilidade, ambos requerem que “os fabricantes nos deem as ferramentas, instruções e acesso a peças para completar o conserto.”

Crowley ri da ideia de que “‘é perigoso consertar seu próprio telefone, ou que crianças podem fazer algo errado.” Fazer a manutenção de seu próprio carro era uma tradição honrada — e podia ser perigoso também. As pessoas fazem reparos eletrônicos há muito tempo. Ao receber as instruções, podemos aumentar a segurança, mas os fabricantes não querem que isso aconteça, porque significa que vamos manter nossos aparelhos por mais tempo.”

Crowley diz que fabricantes querem “um ciclo de vida útil muito curta e muito lucro.” Reparos — e sustentabilidade — não se alinham a esses objetivos.

Pequenos consertos, enorme diferença

Varghese também é um grande defensor do Direito ao Reparo. “Digamos que o vidro da câmera traseira de seu iPhone quebre. A Apple dirá que você precisa de um telefone novo. É uma mentira. Você pode trocar aquele vidrinho”.

Está claro que Varghese sabe como os fabricantes operam. Ele explica por que não se tornaria um provedor de serviços autorizados pela Apple: “Eles exigem que você nunca conserte outros produtos — nem que faça isso com seus esforços, como no caso do vidro da câmera do telefone. Se você curte usar um produto, não deveria ser obrigado a trocá-lo por um melhor ou mais moderno só porque a Apple ou a Microsoft querem ganhar mais dinheiro”.

Varghese vem consertando telefones e computadores desde o colegial. “Se você lhes disser [à Apple] que caiu um pouco de água em seu computador, isso quer dizer… que sairá US$1.200 o conserto, mas que por US$1.300 você pode comprar um novo”, ele diz, evidentemente frustrado. Ele afirma que consegue fazer consertos de danos por líquido pelo preço de US$350 — mas mesmo assim, às vezes se vê envolvido em problemas. Por exemplo, recentemente, o aparelho de um cliente teve danos por líquido e ele conseguiu consertar tudo, menos a webcam. Se o Direito ao Reparo existisse, as instruções da máquina estariam disponíveis e Varghese poderia compreender como consertá-la.

Mais consumidores precisam saber do Direito ao Reparo, diz Varghese. A Apple pode ter falado que alguns problemas não podem ser consertados, mas com o Direito a Reparo, esses produtos podem se tornar plausíveis de conserto. “Um mercado aberto é bom para os negócios e para os consumidores”, diz Varghese. “É bom para todos”.

E quando o Direito ao Reparo for implementado, diz Wiens, “poderemos trazer de volta uma cultura de engenharia e de ajustes que fazia parte da experiência popular”.

É bom que isso seja feito logo. Eu adoro meu iPhone SE. É do tamanho ideal, e um dos menores iPhones que já inventaram. Sou uma mulher miúda, não quero um celular maior do que um CD Walkman dos anos 80. Se eu conseguir manter este telefone funcionando até que a Apple perceba que não todos seus clientes são homens de um metro e oitenta com mãos gigantes, ficarei muito feliz”.






Black Friday : Um momento de reflexão . . .


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Por que vale a pena aderir ao menos é mais?



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Helena Cecília de Fraga Verhagen

Como ser feliz cuidando mais do carro do que o que se come? Como ser feliz “comprando e jogando coisas fora” e todo dia se deparar no caminho do trabalho com um rio sujo? Como ser feliz usando toneladas de maquiagem diariamente e antes de dormir, se olhar no espelho se achando feia?

Nós não somos responsáveis pelas catástrofes do mundo, mas somos 100% responsáveis por nós e nosso estilo de vida.

Fazer as coisas só “para ser bacana com o mundo” também não se sustenta. Agora, alterar a própria consciência e transformar sua ligação consigo mesmo e consequentemente, com o meio onde vive, faz todo sentido.

Se você topar olhar para dentro, para sua mente e seu próprio “lixo interno”, naturalmente, encontrará soluções que te levarão a atitudes pequenas que causarão um grande impacto na sua vida e em tudo ao seu redor.

Devido “ao famoso vazio interno” e doenças crônicas, fui aos poucos, mudando minha consciência. Abaixo, listo algumas coisas que podemos adaptar ao nosso dia-a-dia e que fazem parte da macro tendência Lowsumerism:

Reciclar lixo em casa; deixar luz acesa apenas onde está; não ter mais carro; comprar somente o necessário de comida; roupas e cosméticos (de preferência orgânico ou que conheça os produtores); comprar algo novo somente quando o outro já acabou; optar por comidas frescas (portanto ir mais vezes ao supermercado comprando menos cada vez); usar “moon cup”(coletor menstrual) ao invés de absorventes; consertar mais sapatos e roupas (sapateiro e costureira) ao invés de jogar fora e comprar novas peças; cozinhar mais do que comer fora; estar mais perto da natureza assim se sentindo integrado com o planeta e com o todo, optar por remédios naturais (aromaterapia, florais, chás, musicoterapia); enxergar o sofisticado no simples e literalmente viver o “menos é mais”.

Ao invés de pensar: “não tenho” aprender a trocar, substituir coisas que farão bem para você, em primeiro lugar, e consequentemente, para o planeta.

Pensando que esta é uma macro tendência para as próximas décadas, faz todo sentido o aumento de medicinas alternativas. É no caminho alternativo que pode estar algumas ferramentas que ajudem a nos conectarmos mais com nós mesmos mesmos.

A indústria farmacêutica também faz parte “da massa do consumo”. A medicina salva vidas, mas não te dá saúde. Já as medicinas orientais focam em aumentar a nossa longevidade e assim, melhorar nossa saúde a cada dia.

Deixo aqui o convite para colocarmos na balança nossas prioridades. O que queremos viver e consumir de verdade. O marketing sabe de tudo isso, então prestem atenção… não é um selo verde que ajuda a resolver o problema, mas sim nossa consciência interna.

Por fim, gostaria de recomendar este breve documentário, da Box 1824, a maior empresa de pesquisa em tendência de consumo brasileira. “The rise of Lowsumerism” (em tradução livre, “A chegada do baixo consumo”) ilustra brilhantemente essa necessidade de nos transformarmos.

Por fim, gostaria de indicar este breve documentário.





Postado em Conti Outra



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Você sabe o que é Lowsumerism ? Conheça essa nova conscientização sobre o consumo





Tales Luciano Duarte



Lowsumerism (low + consumerism) = Baixo Consumismo. Ou seja, ser mais consciente ao consumir.

O MOVIMENTO LOWSUMERISM CONSCIENTIZA A PARTIR DE PERGUNTAS BÁSICAS:

– Realmente precisamos disso?

– Podemos pagar por isso? Ou apenas queremos nos sentir incluídos ou afirmar nossa personalidade?

– Sabemos a origem desse produto e para onde ele vai depois que o descartamos?

– Não estamos sendo iludidos pela propaganda?

– E, principalmente, qual é o impacto que esse produto causa no meio ambiente?

SÃO TRÊS SIMPLES ATITUDES QUE FAZEM UMA GRANDE DIFERENÇA:

– Pensar antes de comprar.

– Buscar alternativas de menor impacto para os recursos naturais, como trocar, consertar e fazer.

– Viver apenas com o que é realmente necessário.
UMA ANÁLISE MAIS ESPIRITUAL DO CONSUMISMO:

Segundo o Budismo e outras linhas de pensamento, a fonte de todos sofrimentos é o apego.

Então seguindo esta linha de pensamento, quanto mais tivermos e acumularmos (físico e mentalmente) mais sofreremos e menos livres seremos.

Existe várias pesquisas mostrando que não existe relação entre felicidade x bens materiais.

Sem buscar nos delongar demais e ser simples no texto e economizando palavras.

Veja o vídeo abaixo e entenderá como nasceu o consumismo, onde ele nos levou e em que ponto estamos e como podemos mudar esse jogo. 



Postado em Yogui.com 

A verdade feia nas revistas de beleza




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Tirou os anúncios de 2 famosas revistas femininas – veja o que sobrou


O assunto não é exatamente novidade, mas nem por isso é menos interessante. Produzido pelo YouTuber Oskar T.Brand, o vídeo ‘Fique Bonita : A Verdade Feia nas Revistas de Beleza’ começa mostrando a quantidade de anúncios em 2 revistas femininas – Elle e Cosmopolitan. 

Removendo os anúncios e os artigos patrocinados, restaram apenas 62 de 426 páginas da Elle e 86 de 244 da Cosmopolitan. 

“Na verdade elas não são revistas, são catálogos de produtos”, diz Oskar, que segue falando sobre como os temas abordados nessas publicações afetam a autoestima feminina. 

“85% do conteúdo das revistas de beleza é dedicado a fazer com que você se sinta imperfeita e inadequada”, denuncia. 

Ao mostrar a quantidade excessiva de manipulação que as imagens das revistas recebem, Oskar lembra que a rede de lojas H&M recentemente admitiu usar, em seus anúncios, imagens de corpos femininos gerados no computador, tamanha é a obsessão pela dita ‘perfeição’. 

Outro problema apontado pelo vídeo é a falta de representatividade, já que em média as modelos têm 21 anos, pesam 25% menos e são 7cm mais altas do que a média. 

Oskar vai além e diz que “essas revistas deveriam ser ilegais – elas são fundamentalmente anti-mulheres e anti-você”.

Radicalismos à parte, o fato é que o público está de olho no discurso da mídia e não está mais disposto a aceitar esse universo paralelo que muitas publicações ainda insistem em idolatrar. 







Postado em Blue Bus em 04/10/2016



Lições que eu aprendi com meu filho AUTISTA !





Marcos Mion escreveu um texto em seu Facebook revelando detalhes da convivência com seu filho Romeo (9), que é autista.

Este texto é uma reflexão natalina. Um aprendizado.


Marcos Mion

Quanto mais leio para meus filhos sobre o “menino” Jesus e toda sua sabedoria, mais a identifico dentro da minha própria casa.

Não apenas os discípulos, mas todos que o conheciam, chamavam o menino Jesus de mestre.

Mestre não é um titulo que alguém pode atribuir a si mesmo. O mestre nasce da capacidade do interlocutor de reconhecer a sabedoria quando entra em contato com ela.

O mestre, para existir, por mais sábio que seja, depende da humildade daqueles ao seu redor de se reconhecerem numa posição de inferioridade, de aprendiz.

(E é assim que me sinto. Humilde e extremamente feliz de dividir meu dia a dia com uma criança que ilumina e engrandece todos ao seu redor)

Todos ja me viram falar publicamente que me sinto abençoado e extremamente feliz por ter sido escolhido por Deus para ser pai de uma criança autista, ou como eu prefiro dizer, o guardião de um anjo. O meu Romeo.

Sempre que faço algum post, aparecem centenas de pais comentando e dividindo o mesmo sentimento de gratidão. Como se fosse um clube que, quem não faz parte, secretamente agradece e não consegue nem começar a entender pq aquelas pessoas são tão gratas por fazerem parte dele.

Afinal, como que, na pratica, meu filho me faz tanto bem? Como uma criança que, aparentemente, tem dificuldades consegue me ensinar?

Como falei acima, parte da minha capacidade de identificar a sabedoria e transforma-la num aprendizado.

Vou contar o que aconteceu este Natal e qual foi a lição que ele nos deu.

Como de costume, pelo fim de Novembro, minha esposa, Suzana, e eu juntamos os tres para fazer a carta do Papai Noel.

– “Eu quero infinitos Legos!”, disse o Stefano.

– “Calma que ja tenho minha lista separada em imagens no ipad”, disse Doninha, lembrando da quantidade razoavelmente grande de presentes que ja tinha separado entre borrachas da Hello Kitty e um tenis da Nike, alem de varias coisas de menina de marcas que ela gosta.

Resumindo? Duas listas extensas e extremamente comuns para crianças que convivem num mundo tecnológico, repleto de marcas, com demandas que eu considero ridículas de consumismo. Propagandas em todo lugar, aquela maldita sensação, que eu odeio, causada na escola que é necessário ter pra existir. Sensação que lutamos muito contra em casa enchendo as crianças de auto confiança, dando “centro” pra elas saberem que o que interessa na vida não são as coisas que o dinheiro compra, mas que, por motivos óbvios, sempre cerca qualquer criança hoje em dia. Ainda mais na época do Natal!!

Até que chegamos no Romeo e indagamos o que ele gostaria de ganhar do Papai Noel.

“Uma escova de dentes azul”.

E agora chegamos no ponto crucial desse texto.

Se você da risada com essa resposta e pensa que o menino autista realmente esta fechado no seu mundo e não conecta com a realidade, que é filho de um artista de tv, que poderia pedir qualquer coisa no mundo que ganharia e, burro, pediu só uma escova de dentes azul, esse texto não vai fazer sentido algum pra você. Pode parar por aqui. Você não consegue identificar um ensinamento quando se depara com um.

Suzana e eu, instantaneamente ficamos emocionados com aquela resposta. Ao meio de tanto consumismo, numa época que virou símbolo de consumismo, nosso mestre, sem saber, sem ter a consciência externa do que estava fazendo, afinal sua sabedoria é nata, é orgânica e instintiva, colocou nossos pés no chão, nos remontando com os verdadeiros valores do Natal.

O que realmente vale nessa vida? Essas coisas materiais vão com o tempo, quebram, ficam velhas e obsoletas tornado-se um lembrete vivo e constante de dinheiro que jogamos pela janela adquirindo valores que não interessam.

Não serei hipócrita e dizer que não é saudável comprar brinquedos e presentes. Não é isso. Sou totalmente a favor de usar o ato da compra material como recompensa e até como educação, inclusive de valores morais, mas fato é que existe um grande exagero nas proporções que o consumismo tomou hoje em dia, como mencionei explicando os pedidos dos meus outros filhos.

Ainda perguntamos pra ele se não queria mais nada, um bichinho de pelúcia que ele adora, um ipad novo que, para quem não sabe, é uma das ferramentas mais poderosas de comunicação dos autistas com o mundo exterior, mas ele foi categórico: “uma escova de dentes azul. É isso que eu quero ganhar do Papai Noel”.

Até que finalmente chegou o dia do Natal. Fizemos a comemoração da véspera, deixamos os cookies feitos em família na varanda para o bom velhinho e todos foram dormir muito ansiosos com a visita do Papai Noel na madrugada.

Não preciso dizer que 5:00 am ja ouvi Tefo rasgando papel de presente! rs.

Levantamos para acompanhar e viver com eles todo esse momento magico que tem data de validade, pois a crença real no Papai Noel não é eterna e, hoje em dia, acaba cada vez mais cedo. E enquanto Tefo e Doninha pareciam dois demônios da tasmânia envoltos em presentes e embrulhos, abrindo mais um e mais um e mais um, Romeo assistia de longe com um certo grau de tensão no ar.

“O Papai Noel trouxe minha escova de dentes azul?” ele perguntava sentindo o que eu identifiquei como medo de frustração! Uma real incerteza se ganharia aquele único e tão valioso presente. Lembrem que isso foi na manhã do dia 25, quase 2 meses depois do dia que escreveram as cartas e essa ainda era sua única vontade, seu único desejo de Natal.

Conduzi Romeo até arvore e o deixei identificar o presente com seu nome!

Fico emocionado ao lembrar, mas ele abriu o embrulho com uma expectativa tão grande, uma ingenuidade e um doutorado em desapego que, quando o ultimo pedaço de papel revelou sua escova de dentes azul, ele foi tomado de emoção!! Abaixou a cabeça num alivio e se atrapalhou de tão forte que essa emoção veio.

Sim, ele chorou.

Chorou de alegria, inundado pela mais pura e bela emoção! Eu e Suzana choramos juntos.

Tão pouco … um presente tão simples … e ai me deu o estalo. Mestre!

Entendi que era algo muito maior do que uma simples escova de dentes. Ali, naquela emoção, naquela pureza, naquela humildade e, acima de tudo, naquele desapego, tive a maior lição de Natal da minha vida.

Obrigado Mestre, por mais uma. Te amo.


Postado no Mensagem Espírita em 28/12/2015



Que tristeza que me dá ao ver no que se transformou o ser humano . . .







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Depois do consumismo, o quê?


Uma das linhas de montagem do IPhone. Nelas, 14 trabalhadores suicidaram-se, só em 2010, por não suportarem condições de trabalho física e psiquicamente demolidoras

Uma das linhas de montagem do IPhone. Nelas, 14 trabalhadores suicidaram-se, só em 2010, por não suportarem condições de trabalho física e psiquicamente demolidoras.



George Monbiot | Tradução: Inês Castilho

Uma mulher entra numa grande loja de varejo. Sufocada pelas prateleiras abarrotadas, música melosa, cartazes de ofertas, consumidores indiferentes que perambulam pelos corredores, ela e é levada a gritar – repentinamente e para seu próprio espanto. “Isso é tudo o que existe?” Um funcionário sai de seu posto e vem até ela: “Não, minha senhora. Tem mais coisas em nosso catálogo.” 

Essa é a resposta que recebemos para tudo – a única resposta. Podemos ter perdido nossos vínculos, nossas comunidades e nossa noção de sentido e valor, mas sempre haverá mais dinheiro e objetos com que substituí-los. Agora que a promessa evaporou, o tamanho do vazio torna-se compreensível.

Não que a velha ordem moderna fosse necessariamente melhor: era ruim de modo diferente. Hierarquias de classe e gênero esmagam o espírito humano tão completamente quanto a fragmentação. 

A questão é que o vazio preenchido com lixo poderia ter sido ocupado por uma sociedade melhor, construída sobre apoio mútuo e conectividade, sem a estratificação asfixiante da velha ordem. Mas os movimentos que ajudaram a quebrar o velho mundo foram favorecidos e cooptados pelo consumismo. 

A individuação, resposta necessária à conformidade opressiva, é capturável. Novas hierarquias sociais, construídas em torno de bens que dão status, e consumo compulsivo tomaram o lugar da velha. 

O conflito entre individualismo e igualitarismo, ignorado por aqueles que ajudaram a quebrar as velhas normas e restrições opressivas, não se resolve por si mesmo. 

De modo que nos encontramos perdidos no século 21, vivendo num estado de desagregação social que dificilmente alguém desejou, mas emerge de um mundo que depende do aumento do consumo para evitar o colapso econômico, saturado de publicidade e enquadrado pelo fundamentalismo de mercado. 

Habitamos um planeta que nossos ancestrais achariam impossível imaginar: 7 bilhões de pessoas padecendo de solidão epidêmica. É um mundo feito por nós, mas que não escolhemos. 

Agora, tudo indica que a festa para a qual fomos convidados é restrita aos poucos. Há duas semanas, a Oxfam revelou que o 1% mais rico do planeta possui agora 48% da riqueza mundial; e ano que vem, eles terão mais que o resto do mundo inteiro junto. 

No mesmo dia, uma empresa austríaca divulgou o modelo de seu novo super iate. Construído sobre o casco de um navio petroleiro, medirá 280 metros (918 pés) de comprimento. Terá 11 decks, três helipontos, teatros, salas de concerto e restaurantes, carros elétricos para levar proprietário e hóspedes de um lado para o outro do navio, e uma pista de esqui com quatro andares. 

Em 1949, Aldous Huxley escreveu a George Orwell argumentando que sua própria visão distópica era a mais convincente. “O desejo de poder pode ser tão plenamente satisfeito quando se leva as pessoas a amarem sua servidão quanto se você as flagela e chuta para que obedeçam…” Não creio que estivesse errado. 

O consumismo é contrário ao bem comum. Ele reprime a sensibilidade, embotando nosso interesse por outras pessoas. A liberdade de gastar desloca outras liberdades, assim como comer em posição de lótus possibilita esquecer nossas carências. A maioria das formas pacíficas de protesto são agora proibidas, mas ninguém nos impede de devorar os recursos dos quais dependem as futuras gerações. 

Tudo isso ajuda os oligarcas globais a esgarçar a rede de segurança social, encontrar um jeito de aliviar-se das restrições impostas tanto pela democracia quanto pela tributação e neutralizar ou privatizar o bem comum. 

Assim como a sociedade humana foi despedaçada pelo consumismo e pelo materialismo, empurrando-nos para uma Era da Solidão sem precedentes, os ecossistemas foram destroçados pelas mesmas forças. 

É a mentalidade consumista, elevada à escala global, que agora nos ameaça com um colapso climático, catalisa uma sexta grande extinção de espécies, põe em risco o abastecimento global de água e violenta o solo do qual toda a vida humana depende

Mas eu não acredito que o consentimento à servidão, vislumbrado por Huxley, seja um estado permanente. A estagnação dos salários, a brutalidade das novas condições de emprego, o rompimento do vínculo entre progressão educacional e avanço social, a impossibilidade para muitos jovens de encontrar boa moradia: tudo nos confronta com a pergunta que só poderia ser adiada em condições de crescimento geral da prosperidade – “isso é tudo o que existe”? 

Como sugere o crescimento do Syriza e do Podemos, não é possível construir movimentos políticos que desafiem essas questões se não construirmos também relações sociais. 

Não é suficiente convocar as pessoas a mudar suas políticas: precisamos criar não só identidade com projetos políticos, mas também experiências de apoio mútuo que ofereçam a segurança, a sobrevivência e o respeito que o Estado não mais proverá. 

Em uma série notável de iniciativas que se desdobram além de seus temas usuais, a rede Amigos da Terra começou a explorar as formas como podemos nos reconectar uns com os outros e com o mundo natural. Está, por exemplo, procurando novos modelos para a vida urbana com base na partilha, ao invés do consumo competitivo.

Partilha não apenas de carros, eletrodomésticos e ferramentas, mas também de dinheiro (por meio de cooperativas de crédito e microfinanças) e poder. Isso significa um processo de decisões, liderado pela comunidade, em relação a temas como transporte, planejamento e talvez os níveis de renda, salários mínimos e máximos, os orçamentos municipais e a tributação. 

Tais iniciativas não substituem a ação governamental: sem a articulação do Estado, elas perdem sentido. Mas podem unir pessoas com uma noção comum de propósito, pertencimento e apoio mútuo que os processos centralizados nunca poderão proporcionar. 

Os Amigos da Terra também apoiam a revolução da empatia liderada pelo autor Roman Krznaric, e a educação permanente, que poderia contrapor-se à escolaridade sempre mais restrita, hoje imposta a nossos filhos – uma educação cujo objetivo é preparar as pessoas para empregos que nunca terão, a serviço de uma economia organizada em benefício de outros. 

Nessas ideias e movimentos encontramos os sinais de uma resposta à pergunta inicial. Não, isso não e tudo que existe. Há conexão. Apesar dos melhores esforços daqueles que acreditam não haver algo chamado sociedade, não perdemos nossa capacidade de nos vincular. 


Postado no site Outras Palavras em 09/02/2015