Mostrando postagens com marcador controle digital. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador controle digital. Mostrar todas as postagens

Você abandonou seu filho na internet ? Crianças de 12 anos compartilham fotos nuas !






“A maioria das crianças, na faixa de 12 anos, ou já compartilhou uma foto própria nua ou recebeu de algum amigo como prova de amizade, de confiança e até de amor dentro da geração digital. É como se o ato de enviar a foto fosse um ato de coragem. Isso pode provocar bulling, situações desagradáveis”.

É o que afirma Patrícia Peck Pinheiro, especialista em Direito Digital, nessa segunda parte da entrevista concedida a Paulo Henrique Amorim, na terça-feira (9).

Como no primeiro bloco da conversa, que o navegante pode assistir no vídeo abaixo, Patrícia alertou os responsáveis sobre os riscos que os menores correm ao usar a internet.

“Vivemos a era da internet e se compartilhar algum conteudo não tem volta. O que precisamos ensinar é a proteção da privacidade e preservação da imagem”, lembra a especialista.

Os cuidados, riscos e as formas de prevenção são temas abordados nessa segunda parte da entrevista no vídeo acima.





Postado no Conversa Afiada em 17/06/2015


Você abandonou o seu filho na internet ?





Você sabe o que seu filho faz diante do computador? Sabe como o seu aluno tem perfis nas redes sociais? Com quem eles se comunicam na internet?

Esses são questionamentos levantados por Patrícia Peck Pinheiro, especialista em Direito Digital, que desenvolveu um trabalho sobre “Família Segura”.

Na terça-feira (9), ela conversou com Paulo Henrique Amorim, na sede do Conversa Afiada.

“Navegando [pela internet] sozinho, a criança pode falar com um amigo, um vizinho, um parente ou um pedófilo. E aí pode virar um menor abandonado virtual”, alertou Patrícia.

Na conversa, a especialista falou sobre os riscos que a criança corre ao acessar a rede mundial de computadores que vão desde a venda de drogas pela internet até crimes contra a honra.

Na primeira parte da entrevista, ela dá dicas e recomendações para que a família use corretamente as novas tecnologias e as tornem aliadas e não inimigas.

Assista a primeira parte da entrevista.





Postado no Conversa Afiada em 16/06/2015


Tecnologia de passividade e submissão





Sergio da Motta e Albuquerque*

O New York Times (27/11) publicou um artigo de opinião que já traz uma pequena, mas importante, reflexão sobre o ano de 2013, as novas tecnologias digitais e o uso muitas vezes irrefletido que fazemos delas. O que elas oferecem aos usuários e a que custo é a questão que incomoda o autor – o cientista da computação, compositor e autor Jaron Lanier.

O estudioso acredita que 2013 será lembrado como um ano muito ruim para o universo digital, “apesar dos avanços maravilhosos que aconteceram”:

“Foi o ano no qual tablets tornaram-se ubíquos e gadgets avançados – como impressoras 3D e interfaces ‘vestíveis’ (como os óculos de realidade aumentada) – emergiram como fenômenos pop; todos muito divertidos. Nossos gadgets alargaram o acesso ao nosso mundo. Nós agora podemos regularmente nos comunicar com gente que não estaria disponível antes da era da navegação em rede. Podemos encontrar informação sobre quase tudo a qualquer tempo.”

Isso seria suficiente para compor um grande ano, se não fosse o fato de os gadgets que irrefletidamente usamos estarem sendo empregados para nos espionar. O alerta dado por Edward J. Snowden, o ex-espião “terceirizado” da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, deixa bem claro que estamos sendo “dissecados” de modo sistemático, em vez de “dissecar” o mundo que nos rodeia. Estamos rodeados e apaixonados por geringonças digitais que nos vigiam e atentam contra nossos direitos e liberdades.

Lanier gostaria de separar os dois fenômenos que ele considera os mais importantes no mundo digital em 2013: o alarme de Snowden sobre a espionagem digital e o lançamento de novos aparelhos digitais idolatrados por legiões de consumidores. Mas isso não é possível dada à íntima e vergonhosa associação entre os dois: assumimos nosso amor por pequenas maravilhas digitais que bisbilhotam nossas vidas para muitas vezes informar remotas organizações que não conhecemos. Colocamos a segurança de nossos dados a serviço dos interesses das grandes corporações digitais sem maiores considerações ou cuidados.

Objetos mágicos

Em 2013, os usuários das tecnologias digitais acabaram numa posição incômoda. Estamos encurralados, de acordo com Lanier, graças ao uso que fazemos da pequena mídia: smartphones e tablets são espiões móveis. Ostablets reforçam as estruturas de poder na sociedade porque, ao contrário dos velhos PCs, “rodam apenas programas e aplicativos aprovados por uma autoridade comercial central”, explicou o cientista. Que disse mais: “Você controla os dados no seu PC, enquanto dados armazenados em tablets são frequentemente controlados por outra pessoa”.

O autor também comentou o conceito apressado e equivocado de Steve Jobs sobre o PC, que ele via ultimamente como uma ferramenta a mais do trabalhador comum, mais do que uma novidade alvo do consumo das classes móveis e sofisticadas. Jobs estava certo apenas em parte. Como o bom comerciante que foi, Jobs vendia o iPhone e o iPad como novidades relevantes e inovadoras. Interessava à Apple a expansão das pequenas mídias móveis entre o mercado de maior poder aquisitivo. E muito. A expansão da mídia móvel salvou a Apple da incerteza gerada pela perda do mercado dos computadores pessoais para os clones genéricos de arquitetura aberta e deu a ela um caminho para expandir-se pelo mundo.

A segurança (mesmo que limitada) dos computadores foi abandonada em favor das pequenas mídias espiãs. O resultado, na realidade prática, foi bem diferente do que Jobs esperava: consumidores ricos acabaram por trocar “influência e autodeterminação por lazer e status”. Abandonaram PCs e laptops por tablets e maravilhas digitais portáteis que são levadas a todos os lugares e informam tudo o que armazenam a centrais de controle comerciais ou governamentais. Mas têm um excelente design e acabaram no caldeirão contemporâneo do consumo irracional. São objetos mágicos que mostram ao mundo tudo o que a gente abastada e exibida acumulou em suas vidas.

Restrição da liberdade

Esta é uma grande verdade presente nas redes sociais: a exibição e exaltação do consumo de bens produzidos para as elites são lugar comum no Facebook. Fotos de mansões, viagens caras, carros e outros símbolos de opulência são rotineiramente postados, em uma celebração desavergonhada do hiperconsumo das elites nos países emergentes carregados de discrepâncias sociais como o Brasil. Uma imagem bem distante da generosa concepção dos pioneiros da web, que viram nela a possibilidade de produzir “ferramentas para alavancar a inteligência humana para maiores realizações e conquistas”. Doce sonho desfeito pela ganância dos homens.

É difícil explicar por que cedemos tão facilmente dados importantes de nossas vidas. Ou porque temos a necessidade de expor tanto de nós mesmos em rede. Também é tarefa árdua descobrir quem é responsável pelo que o autor chamou de “passividade digital”. A coisa ainda fica mais difícil com a ascensão da “economia da vigilância”. Lanier diz que “os consumidores não só priorizaram o estrelismo e a preguiça; nós também concordamos em sermos espionados o tempo todo”.

As duas principais tendências de 2013 apontadas por ele – os novos gadgets e o grito de Snowden contra a espionagem subcontratada do governo americano – reduzem-se a uma só, segundo o autor: a restrição da liberdade. Não é muito difícil fazer um usuário padrão abrir mão de seu direito à privacidade de seus dados. “O único jeito para convencer pessoas a aceitar voluntariamente a perda da liberdade é fazer com que tudo pareça com um grande negócio”, ensinou o cientista.

Dados como moeda de troca

E as redes oferecem toda uma gama de serviços ao internauta que, no fim das contas, acaba convencido que tudo não passou de uma grande barganha onde ele, o usuário, saiu ganhador. Muita gente tem dificuldade de perceber o perigo da exposição de dados pessoais na web. “Qual o problema?”, interrogam-se alguns. Ou então: “Não tenho nada a esconder. Não faz diferença”, dizem outros, incautos. Esta é uma ilusão perigosa. Tudo o que as grandes empresas digitais oferecem não é gratuito: em troca do que proporcionam, elas querem nada mais nada menos que a nossa liberdade:

“Ser livre é possuir uma zona privada na qual você pode estar a sós com seus pensamentos e experimentos. Que é onde você se diferencia e aumenta seu valor pessoal. Quando você carrega um smartphone com GPS e câmera e constantemente transmite dados a um computador controlado por uma corporação paga por anunciantes para manipulá-lo, você é menos livre. Você não apenas está beneficiando a corporação e os anunciantes, você está também aceitando um assalto à sua livre determinação, bit por bit.”

Isso pode soar radical demais, mas não é. Para uma megaplataforma digital da web, como Google, Facebook e outras, nós, que nos consideramos usuários, na realidade somos o produto que elas vendem. Nossas representações e perfis digitais estão à venda. Os usuários de fato são os anunciantes e as marcas que trazem lucros para elas. Nossos dados são vendidos ou usados como moeda de troca. A reportagem da redação do site Canaltech (17/12) mostrou graficamente como a coisa toda funciona.

Livre expressão e autodeterminação

Cabe a nós reverter a situação. Nós somos os bilhões que proporcionam os fantásticos lucros das corporações digitais, mas vivemos na inconsciência e na preguiça. Mudar para que, se no Facebook tudo já está feito e ajustado para nós? Se o Google tanto lhe oferece sem cobrar nada?

O exibicionismo dos egos nas redes sociais torna os usuários frágeis e inconscientes do que pode acontecer com seus dados no futuro. Muitos entregam suas vidas, seus momentos preciosos em família e tudo o que lhes é mais caro em nome da autopromoção e da ostentação de suas posses. Enquanto isso, executivos do Google, Facebook, Apple e outros mamutes digitais engordam mais e mais seus lucros, garantidos pelos dados que fornecemos a eles em troca da chance de exibirmos nossas realizações e provar nossa superioridade diante daqueles que não podem ter o que temos.

No Brasil, a legislação para proteção de dados na web encontra-se ainda em fase embrionária. O Marco Civil da Internet (ainda em tramitação no Congresso Nacional) é nossa principal esperança para evitar abusos aos nossos dados pessoais, comentou a EBC (28/08), mas precisamos de legislação e profissionais que tratem da proteção de dados de forma ainda mais direta. Como os temidos tecnologistas alemães, que já encurralaram e muitas vezes mudaram os rumos do Facebook, quando a rede abusava de seu poder de mercado e invadia a privacidade germânica.

Por isso foi elaborado no Brasil o anteprojeto de proteção de dados pessoais, fruto de consulta pública como sua matriz de referência, o Marco Civil da Internet. As denúncias de Snowden e a persistência dos americanos em seguir em frente com a espionagem de aliados e inimigos tornaram mais evidente a necessidade da aprovação do Marco Civil, uma peça avançada de legislação importante na proteção de dados de pessoas e governos contra abusos de corporações digitais e governos abelhudos e mal-intencionados.

Juntos, se aprovados, o Marco Civil e a legislação de proteção de dados pessoais, mesmo que não sejam capazes de acabar com a espionagem na rede, atuarão como uma barreira de dissuasão de considerável poder contra os abusos aos nossos direitos de livre expressão e autodeterminação dentro da web.

*Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor.


Postado no blog Cidadão do Mundo em 05/12/2013


A duplicação digital do mundo e os seus riscos




Em entrevista à Carta Maior, Eric Sadin fala sobre a capacidade crescente dos dispositivos digitais inteligentes de controlar as nossas vidas.

Paris - Já não estamos sós. Um duplo ou muitos duplos nossos permanecem nos incontáveis Data Center do mundo, nas redes sociais, nas memórias gigantescas do Google ou da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, a NSA. É o que o ensaísta francês Eric Sadin, um dos autores mais proféticos e brilhantes na análise das novas tecnologias, chama de “humanidade paralela”. Em cada um de seus livros anteriores, “Surveillance Globale”, “La Société de l’anticipation”, Eric Sadin explorou como poucos as mutações humanas inerentes ao surgimento da hiper-tecnologia em nossas vidas. Longe de se contentar com um anedotário trivial dos instrumentos tecnológicos que surgiram nas últimas três décadas, Sadin os pensa de uma forma inédita. Seu último livro, “L’Humanité Augmentée, L’administration numérique du monde” (A Humanidade aumentada, a administração digital do mundo), explora a capacidade cada vez maior que os dispositivos inteligentes tem para administrar o rumo do mundo. 

O livro ganhou na França o Hub Awards 2013, um prêmio que recompensa o melhor ensaio do ano. Para Eric Sadin, Hall 9000, o computador super-potente da nave Discovery no filme “2001, uma Odisseia no Espaço”, deixou há muito de ser uma ficção: Hal 9000 foi inclusive superado pela tendência atual na direção de uma “administração robotizada da existência”. GPS, Iphone, Smartphone, sistemas de gestão centralizados que decidem por si mesmo, rastreabilidade permanente, tudo conflui para a criação do que o autor chama de um “órgão sintético que repele toda dimensão soberana e autônoma”. Em entrevista à Carta Maior, Eric Sadin analisa esse duplo tecnológico que nos facilita muitas coisas e ao mesmo tempo nos espreita a ponto de transformar nossa humanidade. 


Eric Schmidt, o presidente do Google, diz em seu último livro, “The New Digital Age”, que “acabamos de deixar os starting-blocks” da revolução digital. Você, ao contrário, estima que a revolução digital está acabando. Fim ou nova fase?


- A década atual assinala o fim do que se chamou de “revolução digital” que começou no princípio dos anos 80 mediante a digitalização cada vez maior do real: a escrita, o som, a imagem fixa e animada. Esse amplo movimento histórico se deu paralelamente ao desenvolvimento das redes de telecomunicação e tornou possível o advento da internet, ou seja, a circulação exponencial dos dados na rede: as condições de acesso à informação, o comércio e a relação com os outros através dos correios eletrônicos e das redes sociais.

Hoje, esta arquitetura que não parou de se desenvolver e se consolidar está solidamente instalada em escala global e permite o que chamo de “a era inteligente da técnica”. Nosso tempo instaura uma relação com a técnica que já não está prioritariamente fundada sobre uma ordem protética, ou seja, como uma potência mecânica superior e mais resistente que a de nosso corpo, mas sim como uma potência cognitiva em parte superior á nossa. Há robôs imateriais “inteligentes” que coletam massas abissais de dados, os interpretam à velocidade da luz ao mesmo tempo em que são capazes de sugerir soluções supostamente mais pertinentes e inclusive de agir em nosso lugar como ocorre com o “trading algorítmico”, por exemplo. 

Em seu último ensaio, “A humanidade aumentada, a administração digital do mundo”, você expõe um mundo cartografado de maneira constante pelos sistemas digitais. Você mostra a emergência de uma espécie de humanidade paralela – as máquinas – destinadas a administrar o século XXI. Uma pergunta se impõe: o que fica então de nossa humanidade? 

- Desde o Renascimento, nosso potencial humano se fundou sobre a primazia humana constituída pela faculdade de julgar, a faculdade de decisão e, por conseguinte, da responsabilidade individual que funda o princípio da Lei. A assistência das existências por sistemas “inteligentes”, além de representar uma evolução cognitiva, redefine de fato a figura do humano como senhor de seu destino em benefício de uma delegação progressiva de nossos atos para outros sistemas. Uma criação humana, as tecnologias digitais, contribui paradoxalmente para debilitar o que é próprio ao ser humano, ou seja, a capacidade de decidir conscientemente sobre todas as coisas. Esta dimensão em curso se amplificará nos próximos anos. 

Você se refere ao surgimento de um componente “orgânico-sintético que repele toda dimensão soberana e autônoma”. Em resumo, o mundo, nossas vidas, está sob o comando do que você chama de “a governabilidade algorítmica”. O ser humano deixou de administrar. 

- Não se trata de que já não administra, mas sim de que o fará cada vez menos em benefício de amplos sistemas supostamente mais eficazes em termos de optimização e de segurança das situações individuais e coletivas. Isso corresponde a uma equação que está no coração da estratégia da IBM. Esta empresa implementa arquiteturas eletrônicas capazes de administrar por si mesmas a regulação dos fluxos de circulação do tráfego nas estradas, ou a distribuição de energia em certas cidades do mundo. Isso é possível graças à coleta e ao tratamento ininterrupto de dados: os estoques de energia disponíveis, as estatísticas de consumo, a análise dos usuários em tempo real. 

Estas informações estão conectadas com algoritmos capazes de lançar alertas, de sugerir iniciativas ou assumir o controle decidindo por si mesmo certas ações: aumento da produção, compras automatizadas de energia nos países vizinhos, o corte do fornecimento em certas zonas. 

Isso equivale a uma espécie de perda maior de soberania. 

- A meta consiste em buscar a optimização e a segurança em cada movimento da vida. Por exemplo, fazer que uma pessoa que passa perto de uma loja de calçados possa se beneficiar com a oferta mais adequada ao seu perfil, ou que alguém que passeia em uma zona supostamente perigosa receba um alerta sobre o perigo. 

Vemos aqui o poder que se delega à técnica, ou seja, o de orientar cada vez com mais liberdade a curva de nossas existências. Esse é o aspecto mais inquietante e mais problemático da relação que mantemos com as tecnologias contemporâneas. 

O escândalo de espionagem que explodiu com o caso Prism, o dispositivo mediante o qual a NSA espiona todo o planeta, expôs algo terrível: não só nossas vidas, nossa intimidade, são acessíveis, mas elas estão digitalizadas, convertidas em Big Data, duplicadas. 

- Prism revelou dois pontos cruciais: em primeiro lugar, a amplitude abismal, quase inimaginável, da coleta de informações pessoais: em segundo, a colusão entre as empresas privadas e as instâncias de segurança do Estado. Este tipo de coleta demonstra a existência de certa facilidade para apoderar-se dos dados, guardá-los e depois analisá-los para instaurar funcionalidades de segurança. A estreita relação que liga os gigantes da rede com a NSA deveria estar proibida pela lei, salvo em ocasiões específicas. De fato, não é tanto a liberdade o que diminui, mas sim partes inteiras de nossa vida íntima. 

O meio ambiente digital favoreceu o aprofundamento inédito na história do conhecimento das pessoas. Este fenômeno está impulsionado pelas empresas privadas que coletam e exploram essas informações, frequentemente recuperadas pelas agências de segurança e também por cada um de nós mediante as ondas que disseminados permanentemente, às vezes sem consciência disso, às vezes de maneira deliberada. Por exemplo, através da exposição da vida privada nas redes sociais. 

O caso NSA-Prism representa um marco na história. De alguma maneira, mesmo que as pessoas tenham reagido de forma passiva, perdemos a inocência digital. Você acredita que ainda persiste a capacidade de revelar-se nesta governabilidade digital? 

- Haverá um antes e um depois do caso Prism. Ele mostrou até que ponto a duplicação digital de nossas existências participa da memorização e de sua exploração. Isso ocorreu em apenas 30 anos sob a pressão econômica e das políticas de segurança sem que tenha sido possível instaurar um debate sobre o que estava em jogo. Esse é o momento para tomar consciência, para empreender ações positivas, para que os cidadãos e as democracias se apropriem do que está em jogo, cujo alcance concerne à nossa civilização. 

A ausência da Europa no caso deste roubo planetário tem sido tão escandalosa quanto covarde. Você, no entanto, está convencido de que o Velho Mundo pode desempenhar um papel central. 

- Parece-me que a Europa, em nome de seus valores humanistas históricos, em nome de sua extensa tradição democrática, deve influir na relação de forças geopolíticas da internet e favorecer a edificação de uma legislação e de uma regulamentação claras. O termo “Big Data”, para além das perspectivas comerciais que possui, indica esse momento histórico no qual todos estamos copiados sob a forma de dados que podem ser explorados em uma infinidade de funcionalidades. 

Trata-se de uma nova inteligibilidade do mundo que emerge através de gigantescas massas de dados. Trata-se de uma ruptura cognitiva e epistemológica que, me parece, deve ser acompanhada por uma “carta ética global” e marcos legislativos transnacionais. 

Em seu livro você se refere a uma figura mítica do cinema, Hal, o sistema informático da nave Discovery, que aparece no filme 2001, uma Odisseia no Espaço. Hal é, para você, a figura que encarna nosso futuro tecnológico através da inteligência artificial. 

- Hal é um sistema eletrônico hiper-sofisticado que representa a personagem principal do filme de Stanley Kubrick. Hal é um puro produto da inteligência artificial, capaz de coletar e analisar todas as informações disponíveis, de interpretar as situações e agir por conta própria em função das circunstâncias. 

Exatamente como certos sistemas existentes no “trading algorítmico” ou no protocolo do Google. Hal não corresponde mais a uma figura imaginária e isolada, mas sim a uma realidade difusa chamada infinitamente a infiltrar setores cada vez mais amplos de nossa vida cotidiana. 

Nessa mesma linha, para você, se situa o Iphone ou os Smartphones. Não se trata de joguinhos, mas sim de um quase complemento existencial. 

- Creio que a aparição dos Smartphones em 2007 corresponde a um acontecimento tecnológico tão decisivo como o da aparição da internet. Os Smartphones permitem a conexão sem ruptura espaço-temporal. Com isso, os Smartphones expõem um corpo contemporâneo conectado permanentemente, ainda mais na medida em que pode ser localizado via GPS. Através dele também se confirma o advento de um “assistente robotizado” das existências por meio dos inúmeros aplicativos capazes de interpretar uma grande quantidade de situações e de sugerir a cada indivíduo as soluções supostamente mais adaptadas. 

Esses objetos, que são táteis, nos fazem manter uma relação estreita com o tato. Mas, ao mesmo tempo em que tocamos, as coisas se tornam invisíveis: toda a informação que acumulamos desaparece na memória dos aparatos: fotos, vídeos, livros, notas, cartas. Estão, mas são invisíveis. 

- De fato, esse duplo movimento deveria nos interpelar. Nossa relação com os objetos digitais se estabelece segundo ergonomias cada vez mais fluidas, o que alenta uma espécie de crescente proximidade íntima. A anunciada introdução de circuitos em nossos tecidos biológicos amplificará o fenômeno. Por outro lado, essa “familiaridade carnal” vem acompanhada por uma distância crescente, por uma forma de invisibilidade do processo em curso. 

Isso é muito emblemático no que diz respeito aos Data Centers que contribuem para modelar as formas de nosso mundo e escapam a toda visibilidade. É uma necessidade técnica. No entanto, essa torção assinala o que está em jogo em nosso meio ambiente digital contemporâneo: por um lado, uma impregnação contínua dos sistemas eletrônicos; por outro, uma forma de opacidade sobre os mecanismos que o compõem. 

Os poderes públicos, principalmente na Europa, são incapazes de administrar o universo tecnológico, de enquadrá-lo com leis ou fixar-lhe limites. A ignorância reina, mas a tecnologia termina por se impor, do mesmo modo que as finanças, a todo o espectro político. 

- Estamos vivendo no interior de um regime temporal que se torna exponencial, prioritariamente mantido pela indústria que impõe suas leis. 

O próprio dos regimes democráticos é sua faculdade deliberativa, sua capacidade coletiva para escolher conscientemente as regras que orientam o curso das coisas. Esse componente está hoje eminentemente fragilizado. 

Sem nostalgia, eu diria que vamos ter que lidar ativamente e sob diversas formas com a amplitude do que está em jogo eticamente, tanto agora como no futuro, sob a indução desta “tecnologização” de nossas existências. Tanto nas escolas como nas universidades. 

Creio que é urgente ensinar o código, a composição algorítmica, a inteligência artificial. Creio que são os professores de “humanidade digital” que deveriam ingressar nas escolas e contribuir para despertar as consciências e ajudar a encontrar as perspectivas positivas que estão se abrindo com este movimento. 

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Postado no site Carta Maior em 11/11/2013
Vídeos inseridos por mim




2001 Uma odisseia no espaço : o computador Hal 9000 assume o controle 

2001 Uma odisseia no espaço : o computador Hal 9000 precisa ser desativado para que o protagonista do filme reassuma o controle


A crença míope nos superpoderes de blogueiros



Por Luiz Carlos Azenha

Confesso que, de uns tempos para cá, minha tolerância com a hipocrisia é próxima de zero.

Acho perda de tempo participar de polêmicas cuja função essencial é mascarar a realidade, além de alimentar o desejo de alguns por circo.

Circo move tráfego na rede.

A ação do PSDB relativa aos blogueiros Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif não busca debater o essencial, ou seja, o uso do dinheiro público em publicidade ou propaganda. Se buscasse, haveria de tratar do conjunto: quais são os gastos de governos federal, estaduais e municipais com propaganda? Quanto recebem a Globo, a Veja, a Folha e o Estadão proporcionalmente ao bolo?

Os governos não poderiam reduzir estes custos investindo mais na internet, por exemplo, dada a crescente capacidade de disseminação de informações através das redes sociais? É viável fazer como o agora senador Roberto Requião, que quando governador do Paraná cortou todas as verbas publicitárias, a não ser as de campanhas de utilidade pública? Cabem políticas públicas para promover a pluralidade e a diversidade de opiniões?

Há outras questões, tão interessantes quanto. Deve um partido tentar definir a pauta de um blog eminentemente pessoal? Por que o anúncio de empresas públicas supostamente compra um blogueiro mas não compra um dono de jornal? Crítica é ataque às instituições? Ao criticar o Congresso, o governo federal ou o Judiciário os colunistas dos grandes jornais estariam ‘atacando as instituições’? 

Mas, se o financiamento dos jornais para os quais escrevem — ou das emissoras de rádio e TV nas quais trabalham — é feito parcialmente com dinheiro público, eles podem ‘atacar as instituições’ livremente e os blogueiros não? E a liberdade de expressão e o direito ao contraditório?

Trato destes temas com tranquilidade. O Viomundo, pelo menos por enquanto, é mantido com anúncios Google. 

O Leandro Guedes, que nos representa comercialmente, desenvolve ferramentas para que nosso financiamento seja proporcionado pelos próprios leitores. Desde que começou a fazer isso, há dois meses, não está autorizado nem a enviar os media kits (com dados de audiência, etc) a empresas públicas ou governos federal, estaduais ou municipais. Esperamos que a grande mídia siga nosso exemplo.

[Pausa para gargalhar]

Não sei o que moveu o PSDB. Provavelmente, pela escolha dos alvos, José Serra. Tenho comigo que algum mago, daqueles que cobram fortunas para fazer campanha, tenha concluído que existe uma relação entre a altíssima taxa de rejeição de Serra e a blogosfera/mídias sociais.

Não sei se o diagnóstico está certo ou errado, mas a cura é duvidosa. Parte do pressuposto de que blogueiros sejam capazes de mover legiões de internautas. A crença nisso é uma farsa, muitas vezes alimentada por quem está chegando agora ou está “investido” na blogosfera.

Quem lida com os internautas no dia a dia e respeita a diversidade de opiniões descobre que este é um meio horizontal. Não é estruturado hierarquicamente. Não obedece a comandos. O valor das opiniões não está na autoridade, nem no currículo, nem no status do autor: deriva da qualidade, da lógica, da originalidade da argumentação. Deriva da capacidade de apontar algo que outros não notaram. De desvendar conexões encobertas. De colocar fatos em perspectiva histórica. De ajudar a concatenar e, portanto, fixar ideias que circulavam desconexas no “inconsciente coletivo digital”. Simplificando, quando a piada é boa ganha o mundo.

Aquela foto de Serra sobre o skate, na capa da Folha, pode ter sido feita num momento autêntico de descontração, mas cristalizou a imagem de um candidato tentando parecer o que não é: jovem. Se dezenas de milhares de pessoas perceberam isso ao mesmo tempo e puderam conversar sobre isso nas redes sociais — o que não poderiam ter feito no passado, quando dependiam de passar pelo crivo de um repórter, de um editor e do dono de um grande jornal e de escrever carta para a coluna do leitor – é culpa dos blogueiros?

Acreditar que dois blogueiros — ou duas dúzias — sejam capazes de mover a rede é subestimar a inteligência dos internautas. Ou alguém acredita que tem um comunista escondido embaixo de cada Curtir?

Com ferramentas razoavelmente simples como o twitter e o Facebook, hoje cada leitor pode exercer como nunca seu direito de escolha, de interagir e de se fazer ouvir. É natural que quem vive no mundo das hierarquias rígidas estranhe, se sinta intimidado ou frustrado. O que está em curso nas redes sociais é o equivalente a uma segunda revolução do controle remoto.

Portanto, não estamos diante de uma tentativa do PSDB de defender as instituições ou de zelar pelo dinheiro público. Pode ser uma resposta exagerada ou míope diante de um fenômeno que o partido não consegue entender ou pretendia replicar e não consegue. 

Quem sabe exista um desejo subjacente de controle, de um ‘choque de ordem’ que preceda a privatização da crítica e do conhecimento intelectual, colocando ambos dentro de parâmetros aceitáveis pelo mercado (sobre isso, escreveu Slavoj Zizek). Ou é tentativa de intimidação, pura e simples.


Postado no blog Viomundo em 24/07/2012