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Por que as crianças gostam de ver o mesmo filme várias vezes?




Frozen, Ratatouille, Meu Malvado Favorito, Procurando Nemo… As crianças gostam de ver o mesmo filme várias vezes sem se cansar e, às vezes, sem nem piscar. Sempre é um bom momento para colocar um filme e deixar a criança na frente da televisão. Eles ficam hipnotizados, extasiados de puro prazer e diversão. Os pais, esgotados, adoram o momento mas frequentemente se perguntam o que está por trás dessa estranha obsessão.

Há apenas alguns meses muitas pessoas se surpreenderam com uma notícia muito curiosa. Um usuário do Netflix havia visto o mesmo filmes 357 vezes ao longo de um ano. A maioria ansiava pela resposta para duas perguntas: de que filme estavam falando e quem era essa pessoa obcecada. Finalmente, a famosa plataforma de filmes contatou o usuário para poder conhecê-lo e poder então divulgar sua história.

Uma criança pode ter visto um filme pelo qual tem grande predileção mais de 100 vezes. No entanto, independentemente de quantas vezes já o tenha assistido, seu nível de atenção será o mesmo da primeira vez.

O filme em questão não era nenhum outro que Bee Movie. Um divertido filme de animação em que uma abelha recém-formada na universidade deixa sua colmeia para engatar uma bonita amizade com uma humana florista. Já o usuário que havia visto essa produção quase que diariamente era Jaxson, um bebê de pouco mais de um ano de vida.

Tal como explicou sua mãe, o pequeno tinha apenas dois meses quando ficou fascinado pelas imagens desse filme de animação da DreamWorks.Tanto foi que desde então não havia um dia no qual não ficava na frente de televisão para assisti-lo novamente. Segundo ela, durante o tempo que o filme Bee Movie durava, Jaxson fica mais relaxado e atento do que em qualquer outro momento. Ela é consciente que seu filho não está entendendo nada, mas levando em conta a satisfação que a criança tinha, ela não hesitou em dar a ele esse momento diário de deleite e entretenimento de presente.




As crianças gostam de ver o mesmo filme várias vezes porque seu cérebro precisa disso

A história dessa usuária do Netflix e seu filhos pode nos surpreender talvez pela idade do protagonista. Nós sabemos que as crianças de hoje em dia têm um contato com o mundo audiovisual desde muito cedo. As imagens em movimento, as cores, a música e as vozes são estímulos muito atraentes para o cérebro dos pequenos. Quando as crianças assistem ao mesmo filme várias vezes, no entanto, há algo mais do que essa mera atração sensorial.

Estamos esquecendo por um momento de olhar para trás, para nossa própria infância. Nós também tivemos nosso filme favorito, e tínhamos também, como esquecer, nosso conto favorito. Aquele que sempre queríamos ler ou que esperávamos que nossa mãe ou nosso pai nos contasse a cada noite antes de dormir. Adorávamos também que nossos avós nos contassem uma história ou conto toda vez que fôssemos visitá-los. Ficamos encantados ao estar ao redor de narrações conhecidas, previsíveis, familiares…

A repetição como um meio de aprendizagem

O cérebro da criança aprende e consolida a informação através da repetição. Por isso, não é estranho que as crianças vejam o mesmo filme várias vezes e que nos peçam para cantar sempre a mesma música, ou que queiram sempre o mesmo livro ou história na hora de dormir. Nesse sentido, estudos como o publicado no ano de 2011 pela Universidade de Sussex, em Brighton, no Reino Unido, demonstram que as crianças integram essas histórias como uma padrão. São cadeias de significado que se tornam cada vez melhores.

À medida que isso acontece, a criança melhora sua linguagem, descobre novas palavras, compreende melhor os argumentos, decifra cada vez mais os detalhes, conseguindo com isso uma maior satisfação pessoal.




A repetição traz comodidade e segurança

As crianças precisam de hábitos, regras e rotina. Desse modo, não apenas conseguem se organizar melhor para descobrir seu mundo, mas também conseguem fazer isso em um cenário pautado pela sensação de segurança. Por isso, não devemos ficar surpresos quando as crianças assistem ao mesmo filme várias vezes e mesmo assim experimentam um grande prazer e bem-estar.

Saber o que vai acontecer a seguir permite que elas validem suas expectativas, reforçando seu cérebro e trazendo relaxamento. Não há imprevistos que devem ser imediatamente processados, não há informações contraditórias para botar a criança em alerta. Ao ter diante deles esse filme já conhecido, esse conto ou esse livro já tão lido ou tão escutado, o que ocorre é uma ajuda no alcance da segurança tão prazerosa e na sensação de estar sob controle.

Melhora o pensamento lógico

O pensamento lógico faz referência a relações que fazemos entre dois ou mais objetos ou situações. É fazer comparações, inferir informações, combinar e obter conclusões a partir de elementos separados. Esse importante processo cognitivo do qual Piaget nos falou em sua teoria é um ponto chave para o desenvolvimento intelectual das crianças.

Desse modo, poder dispor de um marco, como um filme com uma história determinada, permitirá que a criança vá encontrando essas mesmas relações, ajudando-a a estabelecer relações de causa e efeito, vínculos entre fatores, entre estímulos, pequenas histórias, gestos, palavras, personagens, comportamentos, etc.




Para concluir, ainda que nós, como adultos, vejamos essas experiências repetitivas como agonizantes e fiquemos até cansados, precisamos saber que as crianças precisam delas. Quando as crianças veem o mesmo filme várias vezes, estão amadurecendo. Não estão apenas aproveitando, estão também crescendo.

Sentem-se competentes ao fazer previsões, adoram estar diante desses estímulos tão familiares. Permitamos então que elas aproveitem seus filmes preferidos, pois chegará o momento em que vão querer experiências novas, fora daquilo que já conhecem tão bem.






Brasil : Agora mais longe do " País do Futuro "


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Brazil, a desconstrução de uma nação


Por Ricardo Azambuja, colaborador do Cafezinho

Já não ficamos surpresos com os acontecimentos surreais deste outrora país do futuro. Nosso espanto virou rotina. Sequer podíamos imaginar que após conquistar a tão sonhada democracia, depois de mais de 20 anos de ditadura militar, mergulharíamos num poço sem fim de retrocesso e caos institucional. Pois aqui estamos, em algum ponto, em queda livre. Sem rede de proteção.

Para entender o momento atual não é necessário grandes elucubrações sobre o nosso complexo autofágico de casa grande e senzala. Há uma outra análise que se impõe quando ampliamos a lupa para olhar o que acontece no mundo. Das guerras fabricadas aos impeachments, das manipulações midiáticas à tecnologia digital das redes de espionagem onipresentes, tudo aponta numa direção: o favorecimento de interesses financeiros e geopolíticos de uma elite global cada vez mais elite, num mundo cada vez mais desigual. É assim que o Brazil com Z faz sentido, uma nação desconstruída por interesses poderosos.

Tal quais as nações envolvidas por guerras fabricadas, como a Síria, Iraque, Líbia e Afeganistão, hoje paralisadas pelo caos e dependência externa, países com presidentes depostos por golpes jurídico midiáticos, como Honduras, Paraguai e Brasil, são fragilizados e expostos à dominação. Filet mignons suculentos servidos de bandeja no cardápio do banquete do new imperialism.

Os interesses e ganhos movem o mundo. Rotule como queira o capitalismo atual, há de se concordar que ele está mais desrespeitoso com a condição humana do que em qualquer época anterior, levando em conta o progresso obtido pela humanidade e as possibilidades de análise crítica atuais. As guerras e a derrubada de governos nacionais inapropriados fazem parte de jogadas sofisticadas, frias e desumanas, planejadas no tabuleiro da geopolítica internacional.

As intromissões da diplomacia estrangeira e dos serviços de inteligência na compra de autoridades nativas e do apoio da mídia e do judiciário dos países visados, com o intuito de destituir governos eleitos democraticamente, tendem a se consolidar como uma fórmula barata e eficaz de obtenção de resultados práticos favoráveis, sem precisar sujar as mãos de sangue.

O Brasil tornou-se alvo potencial do nosso vizinho todo-poderoso do norte não só por suas riquezas, pelo aquífero guarani, nióbio, Pré Sal, pelo avanço no enriquecimento de urânio e pelos mega contratos que não privilegiaram empresas norte-americanas, como a compra dos caças suecos pela aeronáutica (negócio que está sendo questionado e utilizado na perseguição "judicial" ao ex-presidente Lula, tal qual a Petrobrás serviu para detonar o PT. Coincidências?).

Com o PT no poder, o Brasil precisava ser aquietado, pois emergia como potência regional e, principalmente, independente. Pior, formou com outros gigantes players globais, como a China e Rússia, o BRICS, o bloco de países emergentes em desafio direto à supremacia americana. Os EUA não perdoaram. Esperaram o momento oportuno para utilizar todos os recursos de um planejamento confidencial que deu certo. Desconfio, porém, que nem eles e nem ninguém pensou que seria tão fácil. Aqui estamos. No quintal dos fundos do Tio Sam, bagunçado e à venda.



Postado em O Cafezinho em 14/12/2016









Vargas, JK, Jango, Lula, Dilma e a oposição ao desenvolvimento



Laurez Cerqueira 


Todos os governos desenvolvimentistas brasileiros foram atacados, solapados, um deles derrubado. Foi assim com Getúlio Vargas, com Juscelino Kubitschek, com João Goulart, com Lula e com Dilma. Um ranço da República Velha e da Revolução de 1930, que insiste em retardar o desenvolvimento do Brasil. Parece que não querem o País como potência mundial.

Nunca perdoaram Getúlio Vargas por ter criado o contrato de trabalho e as estatais de infraestrutura. Antes o trabalhador era quase um escravo. A CLT garantiu o direito a férias, décimo terceiro salário, FGTS, hora-extra e outros direitos.

Além desses, Vargas estabeleceu o salário mínimo, a previdência social, a escola pública e a saúde pública. Criou estatais estratégicas para o desenvolvimento do Brasil como a Eletrobras, o Banco do Nordeste, a Vale do Rio Doce, a CSN para processar nosso aço, a Petrobras, empresa criada com apoio do movimento sindical e estudantil na campanha “O petróleo é nosso”.

Naquele momento as petroleiras, principalmente a Esso, a Shell e a Texaco, que faziam parte do cartel internacional chamado “sete irmãs”, diziam que não havia petróleo no Brasil. Evidentemente para o Brasil continuar comprando gasolina e óleo diesel delas.

As “três irmãs” bancavam a imprensa brasileira da época com gordos anúncios. O melhor exemplo disso é o Repórter Esso, uma espécie de porta-voz da UDN, que foi ao ar pela primeira vez em 28 de agosto de 1941 (uma versão norte-americana de "Your Esso Reporter").

Ao criar a Petrobras, Vargas desafiou o conluio de petroleiras e imprensa. O ódio da imprensa da época veio imediatamente destilado em manchetes garrafais contra ele. Entre os inúmeros ataques, o jornal O Estado de São Paulo guarda em seus arquivos um memorável editorial, radicalmente contra a criação da estatal.

Vargas, que nunca ostentou riqueza, foi bombardeado dia e noite com acusações de corrupção. Seu governo era chamado pelos jornais e rádios da época de "mar de lama". Acuado pelos ataques da UDN, de seu líder maior, Carlos Lacerda, da imprensa que servia a ela, e dos militares, arrasado moralmente pelo massacre de notícias levianas, Vargas se matou.

As mesmas forças que o levaram ao suicídio tentaram, em seguida, impedir a posse de Juscelino Kubitschek, mas foram frustradas pela operação comandada pelo general Henrique Lott, que garantiu a cerimônia. JK retomou o projeto desenvolvimentista de Vargas com o Plano de Metas “50 anos em 5”.

Com JK, o Brasil, que era uma grande fazenda, de agricultura, na sua grande extensão, ainda rudimentar, onde fazendeiros de Goiás se divertiam nos finais de semana cassando índios, atirando só para ver o tombo, cresceu, deslanchou a industrialização, expandiu a malha rodoviária, elétrica e telefônica, e construiu Brasília, como parte da “Marcha para o Oeste”.

No governo dele, a cultura floresceu com o Cinema Novo, o teatro, a literatura, o futebol, com a vitória do Brasil na Copa de 1958. Tudo isso embalado pela Bossa Nova elevou a autoestima dos brasileiros, projetou o Brasil no mundo e proporcionou um sentimento de futuro promissor.

Mas, mesmo assim JK comeu o pão que o diabo amassou. Durante seu mandato, as mesmas forças políticas juntamente com a imprensa familiar que servia a elas, atacou JK diuturnamente com acusações de corrupção dizendo ser “o governo mais corrupto da história do Brasil”. JK sofreu duas tentativas de golpe, apoiadas por setores conservadores. Morreu num controvertido acidente de carro em agosto de 1976, durante a ditadura militar.

O massacre midiático com acusações de corrupção a JK criou o ambiente para a candidatura do desengonçado gramático Jânio Quadros. Jânio foi lançado como o grande salvador da pátria, o homem que iria varrer a corrupção do Brasil. O símbolo da campanha dele era uma vassoura. Mas apenas varreu a sujeira para debaixo do tapete.

Jânio foi uma marionete nas mãos dos conservadores para barrar as forças políticas progressistas lideradas por Leonel Brizola e outros políticos ligados à reforma social. Sete meses depois da posse, Jânio renunciou.

Com a renúncia de Jânio, o vice João Goulart, ex-ministro do trabalho de Getúlio Vargas, assume a Presidência da República. João Goulart, o Jango, resgata o projeto de desenvolvimento de Vargas e JK, amplia os direitos sociais, dobra o salário mínimo e tenta governar aliado aos trabalhadores.

Jango quis fazer as reformas de base, políticas públicas para inclusão social centradas na educação, na saúde, na reforma agrária, e em outras áreas, que ajudaria o Brasil a superar as injustiças principalmente com as populações afrodescendentes e indígenas, escravizadas e vilipendiadas desde o período colonial.

Em 1964, o Brasil pulsava, vivia um raro momento de liberdade e de criatividade na música, no teatro, no cinema, na literatura, nas artes plásticas, nas universidades, na política e na vida social.

Os conservadores reagiram a isso e começaram a atacar Jango barbaramente da mesma forma que Getúlio e JK foram atacados, acusado pela imprensa familiar de corrupção e de querer implantar no Brasil uma “República Sindicalista”.

Durante todo o seu curto governo foi vítima de uma cruzada da imprensa devastadora e finalmente deposto pelo golpe militar articulado no Congresso juntamente com a Embaixada dos EUA, com a participação da CIA, como mostram documentários produzidos recentemente. Em seguida, o Brasil entra para o calvário em 21 anos de uma ditadura torturadora.

João Goulart morreu em sua fazenda, na Argentina, também de forma suspeita, com versões controvertidas sobre sua morte. Ele era um dos nomes de políticos, vigiados por militares brasileiros, constante da lista da “Operação Condor” para ser eliminado, segundo depoimentos prestados na Comissão da Verdade e em livros publicados sobre o caso. A Operação Condor era formada por militares e policiais de ditaduras da América do Sul, coordenada pela CIA, para eliminar líderes opositores aos regimes ditatoriais.

Com o fim do regime militar e a volta das eleições diretas, setores conservadores, com forte apoio da imprensa familiar, inventaram a candidatura de Fernando Collor, nos mesmos moldes da candidatura Jânio Quadros, a fim de barrar as candidaturas de Lula e de Brizola, que despontavam como alternativas da esquerda com forte respaldo nos movimentos sociais. Movimentos organizados, que fizeram a campanha por eleições diretas, participaram dos debates no Congresso Constituinte, além de outras coisas, ampliaram direitos para consolidação da democracia e da cidadania.

Collor, vendido à opinião pública como “moderno”, declarou guerra à "Era Vargas", ao Estado e aos direitos sociais e trabalhistas.

Empolgado com as ideias neoliberais dos governos de Margareth Thatcher, da Inglaterra, e Ronald Reagan, dos EUA, Collor queria reduzir o Estado ao mínimo com privatização irrestrita de empresas públicas e reformar a CLT. Eleito como "caçador de marajás", o homem que também iria varrer a corrupção no País, por ironia da história, acabou impedido por corrupção.

Fernando Henrique Cardoso foi outro presidente obstinado pelo fim da "Era Vargas". Determinado a levar a cabo o que Collor começou, Fernando Henrique deu continuidade à redução do Estado com a venda de empresas estatais, que ficou conhecida como “privataria tucana” tendo em vista a promiscuidade entre governo e mercado na formação dos consórcios compradores.

Além disso, tinha a ideia fixa de que o “mercado” resolveria os problemas do Brasil. Investiu contra conquistas sociais dos trabalhadores, mas os trabalhadores organizados não permitiram que o estrago fosse maior.

Lula e Dilma fizeram exatamente o inverso dos governos Collor e Fernando Henrique. Colocaram o Estado como indutor do projeto de desenvolvimento sustentável com inclusão social e redução das desigualdades sociais e regionais. 

Fizeram governos democráticos, de diálogo, aberto à participação de trabalhadores e empresários. O famoso “Conselhão” e outras instâncias foram criados para isso.

O fato é que, com essa estratégia o Brasil passou de 13ª maior economia do mundo, em 2002, para a 7ª posição. O PIB que era R$ 1,55 trilhão, em 2003, saltou para R$ 4,84 trilhões em 2013. 

Outros robustos indicadores demonstram melhoria generalizada em muitas outras áreas, principalmente em relação à inclusão social e à superação da pobreza.

Ocorre que os governos Lula e Dilma, de caráter desenvolvimentista e de inclusão social, têm sofrido as mesmas perseguições que os governos Vargas, JK e Jango

Sobreviveram, desde 2003, a ataques quotidianos, impiedosos, com o mesmo ranço golpista que caracterizaram momentos históricos passados. Como se o Brasil não pudesse tornar-se uma potência econômica desenvolvida. 

As informações sobre os feitos do governo têm sido deliberadamente bloqueadas pela velha imprensa familiar e em seu lugar, ataques incessantes. Mesmo no limite da indignação, em nenhum momento a liberdade de imprensa foi violada.

Isso ficou claro nas eleições deste ano com a transformação de publicações semanais e telejornais em verdadeiros panfletos eleitorais em favor do candidato da oposição. 

Destilaram ódio e preconceitos à exaustão, de forma subliminar, na disputa eleitoral, jogando o povo contra o governo de forma irresponsável. O candidato Aécio Neves dizia que iria “varrer” o PT do governo, como se o Estado fosse uma propriedade da elite, como se o PT estivesse usurpando o poder. Um verdadeiro ralhado da Casa Grande à Senzala.

Lá no fundo da história, revirado pelo vale-tudo para ganhar a eleição a qualquer custo, estava o atraso, mergulhado no pântano da intolerância, dos preconceitos de todo tipo, sobretudo se alimentando do ódio de classe. Aécio Neves não teve o menor pudor de trazê-lo de volta à tona.

Andou de braços dados durante toda a campanha eleitoral com setores mais atrasados do País, que o processo de democratização se encarregou de colocá-los no ostracismo. 

Hoje o atraso brada contra a democracia, se espraia pela internet e pelas ruas em ondas de intolerância, principalmente entre jovens vulneráveis a seus apelos. O atraso está por aí, vociferante, atacando cidadãos.

Quem deu voz e trouxe a extrema direita para o centro da política brasileira, e flerta com ela, foi o PSDB, um partido que assumiu a ideologia da velha UDN. 

Isso não começou agora. O candidato Alkmin com sua Opus Dei, o candidato Serra se valendo do extremo conservadorismo, o candidato Aécio com Bolsonaro, o ex-presidente Fernando Henrique escrevendo contra o diálogo proposto pela Presidenta Dilma, e o Líder do PSDB, Carlos Sampaio, com ação na justiça pedindo recontagem de votos digitais, todos alimentando o ranço golpista, são os verdadeiros responsáveis pelo retrocesso na política, pelas ameaças à democracia e aos governos de desenvolvimento sustentável e inclusão social.


(*) Laurez Cerqueira é autor, entre outros trabalhos, de Florestan Fernandes – vida e obra e O Outro Lado do Real.


Postado no blog Contraponto em 07/11/2014


Por um lugar no mundo


Longe do controle norte-americano

LONGE DO CONTROLE NORTE-AMERICANO. Além do Mercosul, a aproximação com a Índia, Rússia, China e África do Sul são as únicas alianças que podem oferecer ao Brasil uma posição de relevância nas próximas décadas. Na foto, encontro dos chefes de Estado do Brics, em São Petesburgo, em 2013.


Ou o Brasil assume o destino que lhe cabe, ou se entrega aos interesses colonialistas do passado


Mauro Santayana

Todas as grandes nações do mundo se ergueram sobre espaços amplos, população instruída, e o ânimo de grandeza. Essas são as condições para que seu povo disponha de autoestima, identidade nacional, e exerça sua influência política e econômica em sua região.

Há países que nascem suficientemente fortes, do ponto de vista territorial e populacional, em determinado continente para o exercício de sua liderança. Esse foi o caso dos Estados Unidos, com relação às Américas, da independência até meados da segunda metade do século passado, ou da Rússia, no território ocupado pela União Soviética, depois da Revolução de Outubro.

Outras nações, ainda que desprovidas de grandes territórios ou população, conseguiram estender sua influência para além de suas regiões de origem, como, por exemplo, Portugal, que foi buscar na África, na Ásia e na América do Sul, uma dimensão que não tinha em sua própria Península, ou no contexto continental daquela época.

Sem autoestima e identidade nacional, os portugueses não teriam cruzado o Atlântico. Os Estados Unidos não se teriam transformado, por extenso período, na nação mais poderosa do mundo. A URSS não teria derrotado o nazismo, ou enviado o primeiro satélite, o primeiro foguete, o primeiro homem para a órbita da Terra, dando início à conquista do espaço.

Sem autoestima e identidade nacional, a China não teria erguido, há 4 mil anos, a Grande Muralha, e construído o Exército de Terracota, nem teria chegado onde se encontra, prestes a se transformar na maior economia do planeta – por poder paritário de compra – antes de dezembro, e na nação mais importante do mundo, nos próximos anos.

Sem autoestima, e identidade nacional, o Brasil não teria, nos últimos anos, contribuído para a derrocada progressiva do G-8, participando decisivamente da criação do G-20; nem do Mercosul, para a qual se esforçaram os cinco últimos presidentes da República; nem fundado a Unasul - União das Repúblicas Sul-Americanas; nem o Conselho de Defesa Sul-Americano, criando as condições para o estabelecimento natural e pacífico de nossa influência política e econômica, no restante do continente.

Há outros países como o México, por exemplo, que, ainda que quisessem, não conseguiriam fazer o mesmo. Na região do mundo em que se situa o México, o país mais importante em economia, território, população, são os Estados Unidos, que lhe tomaram, em ato de guerra, boa parte do território. Além do vizinho do norte, que projeta sobre ele esmagadora influência, o México só faz fronteira com Belize e Guatemala, duas pequenas nações, do ponto de vista territorial e demográfico, que não pertencem ao Nafta, e são incapazes de se aliar a ele em qualquer tipo de alternativa geopolítica ou econômica.

Além do Mercosul, e da Unasul, a influência brasileira se exerce, do ponto de vista global, no Brics, a aliança que nos une à Rússia, China, Índia, e África­ do Sul, países que têm, como característica, ser – como o Brasil –, cada um à sua maneira, o mais poderoso em suas respectivas regiões.

No âmbito do Brics, se negociarmos, com inteligência, com os chineses, a criação de joint ventures industriais, meio a meio, para o atendimento ao nosso mercado interno, evitaremos que todo o lucro tome, todos os anos, o caminho do exterior, como ocorre com as multinacionais instaladas no Brasil, que são majoritariamente europeias e norte-americanas.

Com a Rússia, e com nossos outros sócios, como os chineses e indianos, podemos aprender a explorar o espaço, como já estamos fazendo, construindo, de igual para igual, satélites como os CBERS sino-brasileiros. Com a Índia, podemos aprender em matéria de software e da capacitação maciça de engenheiros na área de TI.

Com todos eles podemos desenvolver e produzir armamento para defender, se necessário, o quinto território do mundo, e as riquezas da Amazônia Azul, que se escondem em nossas águas do Atlântico. Obtendo a tecnologia de ponta, na área de defesa, que sempre nos foi negada pelos europeus e norte-americanos.

Afinal, se Índia, China e Rússia fossem nações atrasadas, estudantes e cientistas desses países não estariam à frente das maiores descobertas científicas realizadas nos últimos anos, no “ocidente”. Nem venceriam, como estão fazendo os chineses e suas universidades, as maiores competições acadêmicas internacionais.

Na economia, a única região do mundo em que ainda temos competitividade em manufatura – o que se deve também ao protecionismo norte-americano e da União Europeia – é a América Latina, e, mais especialmente, a América do Sul.

Apresentar a Aliança do Pacífico como contraponto ao Mercosul, que nos deu mais de US$ 50 bilhões em superávit nos últimos dez anos, é uma balela. O México só sobrevive por estar na fronteira sul dos Estados Unidos, o maior mercado do mundo. Fazer um acordo de livre comércio com os Estados Unidos não nos aproximaria nem um centímetro a mais de suas fronteiras, que continuariam a milhares de quilômetros e tão distantes de nossos produtos como estão agora.

Nossos salários são muito maiores que os do México. Crescemos mais que eles nos últimos dez anos – incluindo 2013 – e somos superavitários com nações, como a China, que usam o México como plataforma de exportação, enquanto a indústria do país de Zapata teve com Pequim US$ 51 bilhões de prejuízo no último ano. Não existe seguro-desemprego no México. Sessenta por cento de sua população se encontra na informalidade, e ele é, segundo a própria OCDE, organização a que pertence, o país mais desigual das Américas. Ao contrário do México, exportamos mais para o Mercosul do que para os Estados Unidos, e é natural que o façamos, já que não temos fronteira com os Estados Unidos, mas dividimos as nossas com nove diferentes países sul-americanos.

Dizer que os Estados Unidos ou a Europa serão para nós mercados maiores que nossos vizinhos é ignorar a geografia e se burlar da história. Basta ver quantos contenciosos já tivemos com os Estados Unidos, devido a barreiras impostas por eles para nossos produtos, entre eles o aço, o etanol, o suco de laranja etc.

Os acordos assinados entre a Rússia e a China, no dia 21 de maio, para cooperação científico-militar e a exportação de gás no valor de US$ 400 bilhões, mostram onde está o dinheiro, o poder e o futuro. Certamente, ele não está nem em uma Europa decadente, nem em um Estados Unidos que nada nos ofereceram de justo no passado, e que nos compram cada vez menos, sem nos dar um centavo de superávit.

Recente levantamento, realizado pela agência inglesa Ipsus-Mori, em 20 grandes países, comprova isso. Segundo a pesquisa, os norte-americanos são mais pessimistas que os mexicanos, e na França só 7% da população considera que o mundo em que viverão seus filhos será melhor que o de agora. Depois, vêm os 13% de otimistas da Bélgica e os 16% da Espanha, enquanto os habitantes dos Brics são os mais confiantes, com 81% dos chineses, por exemplo, afirmando que o amanhã será muito melhor do que o presente.

Nosso futuro está nos Brics, no qual seus quatro maiores membros se encontram – incluído o Brasil – por qualquer critério, entre as dez primeiras economias do mundo.

O nosso destino, e principal opção estratégica, é fortalecer nossa cooperação com os vizinhos, e nos aliarmos à Rússia, Índia, China e África do Sul, na única aliança que nos pode oferecer um lugar no mundo nas próximas décadas. 

Ou assumimos isso – uma situação e uma atitude à altura de nossa história e geografia – ou partimos para a abjeta entrega, aos interesses europeus e norte-americanos, de nosso território, recursos, ­consumidores e do mercado sul-americano.


Postado no site Rede Brasil Atual em 22/06/2014


A Copa do Mundo acelerou o desenvolvimento estrutural do Brasil. Após a Copa será a vez do desenvolvimento humano com o Pré-Sal !







A burrice ou má fé da direita antinacional



Pearl Harbor e Mariel 



Aqui no Brasil existe uma extrema direita radical, mal informada e burra, que acha que, para ir contra o governo, precisa torcer contra o país.

A inauguração, na semana passada, da primeira fase da expansão do Porto de Mariel, em Cuba, e da Zona Especial de Desenvolvimento do mesmo nome, com a presença da Presidente da República, serviu de pretexto, para o lançamento, pelos anticomunistas de plantão, de nova campanha na internet.

Alguns deles se comportam como se a obra fosse uma surpresa e tivesse sido feita sob o mais rigoroso sigilo, quando trata-se do maior projeto em execução na região - a duplicação do canal do Panamá está parada porque as empreiteiras espanholas e italianas contratadas querem receber mais do que foi combinado - envolveu, até agora, centenas de empresas brasileiras e gerou mais de 150 mil empregos no Brasil.

Para os hitlernautas, e os “inocentes” úteis que os seguem, o Brasil estaria dando um “presente” para Cuba, e o BNDES sendo usado para apoiar governos esquerdistas na América Latina quando deveria estar aplicando seus recursos exclusivamente dentro do Brasil.

Ora, essa política de estado - até mesmo FHC fazia isso - vem desde o governo militar, com obras na Mauritânia e no Iraque, por exemplo. 

O Brasil não empresta dinheiro para projetos de infraestrutura na América Latina nem por filantropia nem comunismo. Primeiro, porque os recursos emprestados a outros países pagam juros ao BNDES, e precisam ser gastos com a compra de equipamentos e contratação de técnicos e profissionais brasileiros, ou não são liberados.

E, também, porque normalmente esses projetos estão ligados ao desenvolvimento futuro de nossa economia. A linha de 500 Kv de interligação elétrica de Itaipu com o Paraguai, por exemplo, permitirá que centenas de empresas brasileiras que precisam de energia mais barata para concorrer com os chineses, por exemplo, no mercado internacional, se instalem ali. E o crescimento da economia, do emprego e renda no Paraguai, propiciado pela instalação de novas empresas, levará ao aumento do poder de consumo da população e à importação de mais produtos brasileiros, multiplicando, também, os empregos e as oportunidades de negócio por aqui.

O mesmo ocorre, com as obras de ligação ferroviária e rodoviária dos corredores bioceânicos que estão sendo construídas em nossas fronteiras com o Peru e a Bolívia. Por essas estradas, chegarão, com um preço mais competitivo, produtos brasileiros aos mercados desses países, e, por meio de portos peruanos e chilenos, ao Oceano Pacífico, à China e ao Extremo Oriente, sem precisar passar pelo Estreito de Magalhães ou o Canal do Panamá. 

As pessoas que denigrem a construção, pelo Brasil, de Mariel - e que se pudessem, parece que gostariam de bombardear o porto recém inaugurado, como o Japão fez com a base de Pearl Harbor na Segunda Guerra Mundial - são as mesmas que desprezam e ridicularizam as relações de nosso país com nações como Venezuela e Argentina, e que gostam de citar, na internet nas rodinhas, textos escritos por “analistas” antibrasileiros nos jornais de Miami e da Cidade do México.

Mas foram Argentina e Venezuela que nos deram 10 bilhões de dólares de superávit no ano passado, e não os EUA ou a Europa, que cortaram as importações do Brasil em 2013 e foram responsáveis por um déficit de quase 20 bilhões de dólares em nossa balança de comércio exterior. 

Se o Brasil não tivesse financiado a expansão do Porto de Mariel, outro país o faria. Países capitalistas, e até de orientação conservadora, como a Itália e a Espanha, ou grandes potências econômicas, como a China, investem mais que o Brasil em Cuba, e ninguém em seus países reclama disso como ocorre por aqui.

O BNDES está investindo bilhões de reais em obras de infraestrutura no Brasil. Mas elas não avançam por motivos que não têm nada a ver com os investimentos do BNDES no exterior, financiando - como fazem bancos de desenvolvimento do Japão, da Europa e dos Estados Unidos - a criação de empregos em seus países e a exportação de serviços e equipamentos para outras nações.

As obras no Brasil não andam, e às vezes saem por três vezes mais do que deveriam, porque são sabotadas, e paradas a todo momento, por qualquer razão, como já ocorreu, por dezenas de vezes, com as hidrelétricas de Belo Monte, Jirau e Telles Pires e com as novas refinarias e complexos petroquímicos que estão em construção - e dos quais dependemos para diminuir a importação de combustíveis - como o COMPERJ e a RNEST.

E também porque, enquanto em Cuba a busca do desenvolvimento é consenso, aqui existe uma extrema direita radical, mal informada e burra, que acha que, para ir contra o governo, precisa torcer contra o país.


Porto de Mariel : o Brasil no Caribe : pensando o Brasil grande com visão de futuro