Chávez vai ter sua verdadeira história escrita na memória de seu povo



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Marco Antonio Araujo

Morreu Hugo Chávez. Agora, podem elogiá-lo à vontade. Para começar, admitir que foi o único "ditador" na história da humanidade eleito quatro vezes pelo voto popular, democraticamente, em pleitos nunca questionadas pela comunidade internacional.

Esta acusação sempre foi a maior canalhice que seus inimigos propagaram, para ser reverberado por gente ideologicamente preguiçosa e mal informada.

A má vontade da mídia com Chávez é de uma desfaçatez assustadora. Por aqui, sua difamação agregou-se a uma vingança pura e simples: foi uma forma indireta de achincalhar Lula, num processo de transferência típica de gente amargurada.

A primeira eleição do líder venezuelano, em 1998, é um daqueles fatos históricos espetaculares tratados com omissões e cinismo propositados. Ameaçado de morte pela CIA e adversários internos, desencadeou uma então inimaginável reação de massa: o povo literalmente desceu o morro e foi para as ruas garantir a posse (e a vida) do novo presidente. Eleito.

O resto só será contado em enciclopédias cubanas ou em monografias da USP condenadas a círculos restritos. Preparem-se para toneladas de editoriais massacrantes, para a próxima capa indecente da Veja, para comentários entredentes de nossos articulistas muito bem pagos — os mesmos que defenderam o Consenso de Washington, o imperialismo americano, a globalização que levou a Europa e o mundo para uma crise de proporções sistêmicas.

Esperar o mínimo de respeito com a figura de Hugo Chávez é ingenuidade. Mas será possível ouvir grunhidos de alívio. O cara incomodava. E desencadeou uma mudança ainda a ser estudada em toda a América Latina. O que está acontecendo em nosso continente, a ascensão de um discurso de oposição ao neoliberalismo, tem em Chávez seu principal articulador. Um revolucionário. O último?

A Venezuela se tornou protagonista no mapa mundial. Pode ser combatida, mas jamais ignorada. A grandeza de Chávez pode ser medida pelo poder gigantesco de seus inimigos. Aos quais dobrou um por um. E deu, sim, alguma dignidade ao seu país, arrancando-o da miséria em que os humildes se encontravam. Os ricos soltam rojões e comemoram em seus condomínios fechados.

Não preciso falar dos erros de Hugo Chávez. Esses estarão espalhados por aí, em letras garrafais. Mas suas qualidades, sua capacidade de liderança, sua aposta em um discurso socialista, sua coragem, essas ficarão escritas de outra forma, a melhor: na memória de seu povo.

Postado no blog O Provocador em 05/03/2013


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