Criticar sem ofender



Todo dia eu leio pelo menos uma idiotice na internet. Quando vejo um texto assim, penso “que idiota”. Viro para o meu marido e lhe mostro o quão idiota o texto é, comento com os meus amigos que li um texto idiota. Pode ser que eu o guarde na lembrança durante muito tempo como um exemplo de idiotice. 

O que eu não faço é procurar a caixa de comentários ou qualquer canal de ligação com o autor para lhe dizer “nossa, que idiotice”. Nunca, nunca.

Primeiro porque chamar alguém de idiota não é criticar, é ofender. 

Pessoas têm isso muito claro no que diz respeito a abordar um estranho e dizer-lhe ofensas pessoalmente, mas acham perfeitamente natural ofender pela internet. 

É um problema dessa interação que temos por aqui, que nos dá muito pouco do outro – não olhamos nos olhos, não ouvimos a voz, não sabemos a idade, nada. 

Só que o fato de nos ser anônimo não quer dizer que não exista alguém lá. E chamar esse alguém de idiota é uma grosseria.

Pode-se argumentar que se ele escreveu algo idiota, merece ser chamado de idiota ou certas pessoas são idiotas e merecem ouvir que são. Não estou tão certa disso.

Muitas vezes fazemos, dizemos e escrevemos coisas idiotas na nossa vida. Pode ser por ignorância, por inexperiência, por falta de contexto, por tudo junto. 

Tive muitos momentos idiotas e sei que terei outros tantos até morrer. E não gostaria de receber pedradas por cada um deles. Não ajuda em nada o meu crescimento, não me mostra que caminho seguir, só me fere. 

Quem me visse nos meus momentos idiotas poderia julgar que merecia ouvir. Pois bem: acho sempre MUITO complicado quando alguém sentencia que o outro merece ser ferido. Quem faz isso se coloca meio como Deus, como onisciente.

Chamar alguém de idiota, vamos reconhecer, nunca é realmente uma crítica: é vontade de agredir. 

Quando leio um texto que me faz ter vontade de chamar o autor de idiota, é porque suas ideias me incomodaram de alguma forma e tenho vontade de revidar. 

O autor já disse o que quis dizer; cabe ao ofendido fazer uma auto-análise e entender porque o texto fez com que ele se sentisse assim. É um bom exercício de auto-conhecimento. 

Só a partir daí é possível sair do estado irracional da ofensa e entrar na crítica. A crítica é um momento racional, de debate de ideias. Ela sim é muito válida e merece um comentário.


Sobre o autor


Caminhante Diurno

Caminhante tem casa, marido, cachorro, blogs (Caminhante Diurno e Caminhando por Fora), carteirinha da biblioteca. E não pode viver sem qualquer um deles.



Postado no blog Livros e Afins em 02/05/2013



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