Barbie humana é algo triste de se ver


 Barbie humana é algo triste de se ver

Marco Antonio Araujo

Tempos sombrios, esses em que vivemos. No vale-tudo para sair do anonimato, assistimos a loucuras e bizarrices. 

Os quinze minutos de fama se tornaram segundos, algo como um vídeo postado no Instagram ou um click aqui nas páginas virtuais deste portal.

E o corpo humano se tornou o principal veículo nessa viagem sem retorno às profundezas da nossa insignificância.

Não é mais novidade que o ideal de beleza, principalmente a feminina, se tornou uma doença social, algo tão grave quanto uma epidemia. 

Silhuetas cada vez mais magras, anoréxicas, cadavéricas. Um involuntário passeio rumo à morte física para se sentir vivo.

Nesta semana, uma pergunta me rondou: por que mulheres buscam se parecer com uma boneca? 

As barbies humanas se espalham pelo mundo, como se fosse normal uma garota querer se tornar um brinquedo.

Deve ser um playcenter para psicólogos criar teorias que expliquem essa compulsão meio mórbida, meio infantil. Duvido que alguma dessas teses ignore que se trata de uma fantasia depressiva, flagelante e submissa.

Arrancar as próprias costelas, se submeter a dietas torturantes, se vestir como um personagem de desenho animado ou história em quadrinhos. Tanto faz.

Em comum, uma forma de afirmação sexual que se afasta desesperadamente da normalidade (seja lá o que isso for).

Só não consigo ver felicidade nesse espetáculo quase circense. Muito menos em que se satisfaz sendo apenas expectador dessas mutilações.

Pois aí deve estar o segredo: as meninas abrem mão de sua feminilidade e de sua saúde porque sabem que uma legião de pessoas vai observá-las definhar até desaparecer. Gente tão doente quanto, mas cruel. A vítima encontra seu destino no olhar do seu carrasco. 

Todos os envolvidos se merecem, portanto. Eu que não tenho nada a ver com isso.

Postado no blog O Provocador em 06/02/2014

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