Menino de 6 anos em Gaza : " quer ser como nós, alguém que sobrevive "




De Gaza nunca chegam boas notícias. Nunca. Ora é o número de mortos que engorda sem parar, ora é o cessar-fogo humanitário anunciado que cai em saco roto. Quando os números ganham rosto aí toca-nos de outra forma. É o caso desta história…

Johan-Matthias Sommarström, um jornalista sueco, estava a caminho do seu hotel, depois de mais um longo dia a relatar o conflito na Faixa de Gaza, quando um menino palestiniano o abordou. 

“Sou jornalista, estou a reportar o que está a acontecer aqui; isto é o meu colete à prova de bala”, disse o rapaz, que não teria mais do que seis anos e estava vestido de azul — o colete de que falava era um saco de plástico preto. O radialista sueco não resistiu e decidiu oferecer-lhe por momentos o seu capacete.

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“Por momentos ele mostrou-se orgulhoso. Os seus amigos estavam a rir-se e a dançar à sua volta. Ele ficou um pouco envergonhado e depois tirei a fotografia”, disse Sommarström, em declarações que se podem ler no site da rádio onde trabalha. 

A imagem seria colocada no seu Twitter, com a mensagem “Rapaz em Gaza a fingir que é jornalista com o seu colete à prova de balas feito em casa, tinha de lhe emprestar o meu capacete”. O tweet do sueco teve mais de 6700 partilhas e quase 3500 pessoas gostaram.

“Trabalhar na guerra significa que vês coisas que não queres ver. Crianças mortas irreconhecíveis, pais desesperados, tristeza sem fim, casas destruídas”, explicou. E continuou: “Para mim a fotografia é um poderoso exemplo da força das crianças para sobreviver. Ele via jornalistas no vaivém para o hotel, ele viu que sobrevivemos. Penso que ele quer ser como nós, alguém que sobrevive.”

Sommarström voltou a falar com o menino. Chama-se Yazan Hillis e tem seis anos.

Segundo o sueco, é feliz porque a sua família sobreviveu ao ataque a Shejaiya, mas admitiu não saber se a sua casa ainda estará de pé. A casa do tio, por exemplo, foi destruída por um míssil de um F-16. “Ontem e no dia anterior eu vi rockets a atingir o porto. (…) Quando estou na cama não consigo dormir, o som dos rockets mantêm-me acordado a noite toda”, disse Yazan.


Postado no site Observador em 01/08/2014


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