Perigo : A nossa taxa de humanidade está baixa !




Allan Felipe Freitas



Certa tarde estava eu caminhando por uma rua próxima a minha residência, quando “sem querer querendo” ouvi o pedaço de uma conversa de duas senhoras. Uma senhora de meia idade dizia para a outra:

- O meu marido está internado, por que a taxa de “HUMANIDADE” dele está baixa. Os médicos disseram que ele não pode receber alta, por causa disso... Entendeu? É por causa da taxa de“HUMANIDADE”.

Imediatamente eu comecei a rir. Todavia, eu não estava tirando sarro daquela senhora. Não estava desdenhando de sua situação e muito menos achando graça na sua condição, pois muito provavelmente, ela não teve acesso à educação formal de qualidade, o que deve ter contribuído para que ela fale assim. Saliento que muito compadeci do seu sofrimento. Só quem já teve um ente querido internado sabe como é difícil.

Deixando de lado os detalhes, permita-me explicar o motivo do meu riso. Ri porque tive uminsight. Pensei no seguinte: Assim como a taxa de imunidade é importante para a nossa saúde física, a taxa de humanidade é importante para a nossa condição existencial de seres humanos, de pessoas (indivíduo e sociedade).

Em linhas gerais, a taxa de imunidade diz respeito à capacidade de defesa do sistema imunológico. Esse sistema age em defesa do corpo, combatendo ataques de bactérias, vírus e infecções contra o organismo.

Quando a taxa de imunidade está baixa, o organismo fica mais suscetível a doenças. Nesse sentido, dependendo da doença e do tratamento dado ao enfermo, a pessoa pode vir a recuperar a sua saúde, como pode também, em casos mais graves, vir a óbito.

Do mesmo modo acontece com a questão da humanidade. A taxa de humanidade mede o quão humanos somos. Quanto menor a taxa de humanidade maior o grau da barbárie. Infelizmente corremos o risco de zerar a taxa de humanidade, e assim, perdermos de vez a nossa capacidade de sermos humanos.

Notícias como a do ataque a uma boate gay em Orlando, que deixou 50 mortos dias atrás, indicam que no geral, a nossa taxa humanidade está baixíssima.

Considerando o nosso contexto atual, alguns pontos me chamam muita atenção. Não é de hoje que podemos constatar que as coisas estão valendo mais do que as pessoas, e, que para muitos, os fins justificam os meios. Logo, chego à conclusão, que tudo isso aponta para a nossa doença ética. De fato corremos o sério risco de perder a nossa humanidade.

Parece-me que estamos vivendo uma baita crise de humanidade, uma espécie de epidemia que atinge todas as classes e todos os credos, uma doença contagiosa que nos faz agir como animais irracionais ou como robôs programados para destilar ódio e intolerância.

Os sintomas dessa peste que assola o nosso tempo são o discurso de ódio, a intolerância religiosa, o racismo, a homofobia, o preconceito contra a mulher, a indiferença e a falta de empatia e de solidariedade.

Não há como ficar indiferente ao tomarmos ciência de um atentado como o mencionado acima. Como é triste ver que algumas pessoas (seres humanos como aqueles que perderam suas vidas naquele ataque bárbaro) estão fazendo piada com o ocorrido. Algumas ousam justificar a morte dos 50 pelo fato de serem homossexuais.

Onde vamos parar?

Fica o alerta.

Tenha cuidado! A nossa (gênero humano em larga escala) taxa de humanidade está em baixa.

Precisamos nos tratar.

A despeito de tudo, eu quero manter viva e acesa em meu coração a chama da esperança. Esperança que me faz anelar (não só para mim, mas para todos) por um futuro melhor, um mundo mais justo e um ethos (espaço de convivência) que comporte a todos, sem distinção.

Faço minhas as palavras de Lulu Santos:

“Eu vejo a vida melhor no futuro...
Eu vejo a vida mais clara e farta.
Repleta de toda satisfação...
Eu quero crer no amor numa boa, que isso valha pra qualquer pessoa...
Eu vejo um novo começo de era.
De gente fina, elegante e sincera
com habilidade pra dizer mais sim do que não...”

(retalhos da canção Tempos Modernos)

Deixo aqui um apelo:

Humanidade, humanize-se já!

Eu fico por aqui.


Postado em Conti Outra em 11/08/2016



Nota

Li o texto acima e concordei demais com o autor. E por uma estranha coincidência, após alguns dias, encontrei o texto abaixo, que me fez acreditar que nem tudo está perdido.  

Pode ser que a Humanidade tenha " jeito " afinal !



Casal idoso chorava tanto que vizinhos pediram socorro, polícia aparece e cozinha massa



Débora Schach

Essa é mais uma daquelas histórias necessárias para restaurar a fé na humanidade. Vem da Itália, mais especificamente do bairro Appio, em Roma. 

No dia 02 de agosto, tristes pelas notícias que tinham acabado de ver na TV, e acometidos por uma profunda solidão, Jole, de 89 anos, e Michele, de 94, choraram e soluçaram tanto que seus vizinhos estranharam e chamaram a polícia.

“Não havia crime. Jole e Michele não tinham sido vítimas de um golpe, como geralmente acontece com os idosos, e nenhum ladrão havia arrombado sua casa. Dessa vez, a tarefa é mais difícil. Há duas almas solitárias para confortar”, disse a polícia de Roma em post no Facebook, descrevendo a cena que os policiais encontraram quando chegaram à casa dos idosos.

Sensibilizados pela situação dos velhinhos, os policiais chamaram uma ambulância para que os 2 recebessem atendimento médico. Enquanto isso, percebendo que talvez também estivessem mal alimentados, pediram licença para ter acesso à sua cozinha. “Eles improvisaram um jantar acolhedor. Um prato de massa com manteiga e queijo. Nada especial. Mas com um ingrediente especial: toda a sua humanidade”, conta o post na rede social. 

Segundo o Quartz, desde o episódio, a polícia italiana tem mantido contato com o casal para checar sua situação. A história despertou a solidariedade dos italianos e muitos já se ofereceram para ajudar.








Postado em Blue Bus em 10/08/2016






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