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Casamento MBL & Bolsonaro : os jovens à frente da campanha do cancelamento da mostra no Santander. Por Kiko Nogueira






Casamento MBL & Bolsonaro : os jovens à frente da campanha do 

cancelamento da mostra no Santander



Felipe Diehl


Kiko Nogueira

O caso do cancelamento de uma exposição no Santander Cultural em Porto Alegre abre um precedente grave na violação à liberdade de expressão no Brasil e à democracia.

O banco se dobrou a pressões de uma militância de extrema direita indigente, unida a políticos como o prefeito Nelson Marchezan Jr, do PSDB, e o deputado estadual Marcel Van Hattem, do PP.

“Entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo”, afirmou a instituição em nota.

“Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra”.

Dois cidadãos de bem foram decisivos nessa censura à moda nazista (leia aqui sobre a perseguição da Alemanha hitlerista à “arte degenerada”).

Eles representam a face mais visível da intolerância, da violência e da estupidez.

Felipe Diehl e Rafael Silva Oliveira (conhecido como Rafinha BK), são autores de vídeos que viralizaram, com mais 500 mil visualizações no Youtube.

Ligados ao MBL, cada um deles filmou sua invasão à mostra, com comentários que ajudaram a estigmatizar as obras como exemplos de “pedofilia”, “zoofilia” e “ataque às religiões cristãs”.

Esses argumentos foram adotados subsequentemente por milhares de idiotas úteis e “defensores dos valores da família”.

“Isso aqui é uma putaria, uma perversão. O curador dessa obra, Gaudêncio Fidelis, deveria estar preso”, afirma Diehl. “Eu vou continua filmando, pode chamar a polícia”, declara Rafinha BK, batendo boca com um segurança.


Rafinha BK


Os dois são velhos conhecidos de agitprops fascistas no Rio Grande do Sul. Como era de suspeitar, são fãs de Jair Bolsonaro.

Em seu Facebook, Diehl se apresenta como chefe do movimento “Direita Gaúcha”. Em maio de 2016, promoveu com amigos um “rolezinho reaça” no campus da UFRGS.

Vestindo camisetas com estampas de Bolsonaro, eles espalharam em centros acadêmicos de disciplinas como Letras, Ciências Sociais e História cartazes de seu ídolo. Acabou em confusão.

Em fevereiro último, foi expulso de um debate organizado pelo PC do B no auditório do Centro Cultural da UFMG. “Fui até lá para debater e acabei sendo agredido por não concordarem com meu posicionamento. Muitas pessoas usam camisas do Lula e da Dilma, por exemplo. Por que usar camisa do Bolsonaro é uma provocação?”, alegou.

Rafinha BK está proibido de entrar na Assembleia Legislativa de Porto Alegre, acusado de agredir a deputada Juliana Brizola.

Em junho, Rafinha foi parar na delegacia após se envolver numa briga com servidores durante protesto em frente à prefeitura.

A repórter Vitória Famer, então na rádio Guaíba, foi atacada nas redes. Ela contou quem é BK:

Ao receber a informação de que Arthur do Val, integrante do MBL e youtuber do canal MamãeFalei, havia sido encaminhado para a 17ª Delegacia de Polícia após confrontos com sindicalistas que protestavam em frente à prefeitura de Porto Alegre, fiz o meu trabalho como sempre faço: fui apurar todos os lados da história para levar aos ouvintes da Rádio Guaíba a melhor informação possível.

E para fazer isso, só me deslocando para a delegacia para ouvir os detidos.

Apurei que havia dois seguranças profissionais (o Rafael Silva Oliveira, mais conhecido como Rafinha BK, e o Marcio Gonçalves Strzalkowski, agressor confesso do professor Geovani Ramos Machado), além de assessores de um deputado estadual, dando apoio ao Arthur do Val.

O deputado mencionado é Marcel Van Hattem, do PP, que se referiu ao Queermuseu como “aberração” em suas redes sociais.

“Tenho amigos gays e de vários ouvi hoje a indignação por serem confundidos nessa mostra com quem é pedófilo ou adepto da zoofilia”, escreveu.

Essa gente decidiu o que é arte. Parabéns aos envolvidos. 



Postado em DCM em 11/09/2017




Intolerância e vacilação – quando a marca não sabe o que quer


O episódio do fechamento da exposição “Queermuseu”, em Porto Alegre, na semana passada, mostra mais do que simples intolerância. Salta aos olhos, no caso, a juniorização das instâncias de decisão institucional e mercadológica do patrocinador – Banco Santander – e que parece ser geral nas empresas brasileiras. Qualquer cidadão minimamente informado preveria que a mostra não escaparia de protestos de setores conservadores. O Santander, sua diretoria e seu departamento de marketing certamente tinham isso em conta. Se lançaram a exposição, é porque calcularam o eventual risco. No entanto, à menor grita dos articulados adolescentes conservadores do MBL, a instituição tremeu – e desistiu de uma decisão estratégica já em pleno curso. A ameaça dos garotos era boicotar o banco, manter uma campanha para que os clientes fechassem suas contas no banco espanhol. Um estudante mediano de comunicação sabe que esse tipo de debate, mesmo que conflituoso, como era o caso, só traz benefícios à marca. Liberdade é um valor que alguns vão à rua defender, mas a maioria apoia em silêncio. Por outro lado, bastava uma declaração de 15 minutos à imprensa, mostrando duas ou três obras expostas na Galeria Degli Ufizzi ou no (a turma adora!) Whitney Museum of Modern Art para acalmar de vez a classe média eventualmente incomodada (claro, os garotos do MBL seguiriam estrilando – e gerando justamente o efeito “falem-mal-mas-falem-de-mim”). Preocupa, no episódio, que apenas grupos defensores das causas LGBT tenham vindo a público para protestar. Essa não é uma causa gay. É uma causa da liberdade. Assim, interessa – e ameaça – a todos.



Postado no Blue Bus em 11/09/2017



SANTANDER LEVA SURRA AO CEDER A CENSURA DO MBL




A decisão do Santander de encerrar uma exposição em Porto Alegre em razão de protestos do MBL custou caro ao banco espanhol; acusado de ceder à censura promovida por grupos de extrema direita – e, para alguns, de índole fascista – o banco espanhol levou uma surra nas redes sociais; "A declaração do Santander é absolutamente inaceitável, se desculpando de ter ofendido pessoas por meio de uma exposição artística que tinha justamente por tema a diversidade. O mínimo que podemos fazer é mostrar ao banco que o encerramento da exposição vai gerar um custo ainda maior para a sua imagem", escreveu o filósofo Pablo Ortellado; no MBL, Kim Kataguiri reivindicou o crédito pela censura imposta ao banco, afirmando não se tratar de arte.


RS 247 – A decisão do Santander de encerrar uma exposição em Porto Alegre em razão de protestos do MBL custou caro ao banco espanhol; acusado de ceder à censura promovida por grupos de extrema direita – e, para alguns, de índole fascista – o banco espanhol levou uma surra nas redes sociais.

"A declaração do Santander é absolutamente inaceitável, se desculpando de ter ofendido pessoas por meio de uma exposição artística que tinha justamente por tema a diversidade. O mínimo que podemos fazer é mostrar ao banco que o encerramento da exposição vai gerar um custo ainda maior para a sua imagem e para a sua marca. Se deixarmos esses intolerantes determinarem o que se pode e o que não se pode ver, já sabemos onde vai dar. Cada vez os anos 2010 parecem mais com os anos 1930", escreveu o filósofo Pablo Ortellado, em seu Facebook.

"O Santander cedeu à pressão do MBL, a mais obscurantista organização surgida no desde a TFP", pontuou o escritor e jornalista Juremir Machado.

No MBL, Kim Kataguiri reivindicou o crédito pela censura imposta ao banco, afirmando não se tratar de arte. "O Santander cancelou uma amostra de 'arte' com material que contém pedofilia e zoofilia direcionado a publico escolar após pressão nas redes do MBL e de outros grupos de direita", escreveu.

Em protesto contra o encerramento da mostra, o Nuances - Grupo Pela Livre Expressão Sexual organiza nesta terça-feira (12) à tarde, em frente ao Santander Cultural, o Ato pela Liberdade de Expressão Artística e Contra a LGBTTFobia, "em defesa da liberdade de expressão artística e das liberdades democráticas". - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/09/geral/584661-apos-protestos-santander-cultural-interrompe-exposicao-queer-neste-domingo.html)

Abaixo, algumas reações na internet:



Santander encerrou exposição de arte em SP hj devido ataques de membros da milícia fascista MBL. Brasil virou merda verde amarela e cretina



agora que a gente sabe que o santander cede à pressão vamo todo mundo lá renegociar o juros com pedra na mão



Inacreditável ver o Santander Cultural encerrar uma exposição antes do prazo por causa de milícias do MBL organizadas pelas redes sociais.



Santander cedeu à pressão do MBL, a mais obscurantista organização surgida no desde a TFP.



Postado em Brasil 247 em 11/09/2017









Leonardo Boff : Onde está o poder hoje no mundo




Resultado de imagem para poder dos bancos



Leonardo Boff


O deslocamento do poder dos Estados-nações para o lado do poder de uns poucos conglomerados financeiros deve preocupar todos os cidadãos do mundo.

Há um fato que deve preocupar todos os cidadãos do mundo: o deslocamento do poder dos Estados-nações para o lado do poder de uns poucos conglomerados financeiros que atuam a nível planetário, cujo poder é maior que qualquer Estado tomado individualmente. Estes de fato detém o poder real em todas as suas ramificações: financeira, politica, tecnológica, comercial, mediática e militar. 

Este fato vem sendo estudado e acompanhado por um dos nossos melhores economistas, professor da pós-graduação de PUC-SP com larga experiência internacional: Ladislau Dowbor. Dois estudos de sua autoria resumem vasta literatura sobre o tema: ”A rede do poder corporativo mundial” de 4/01/2012 e o mais recente de setembro de 2016: “Governança corporativa: o caótico poder dos gigantes financeiros.” 

É difícil resumir a mole de informações que se apresentam assustadoras. Dowbor sintetiza: 

“O poder mundial realmente existente está em grande parte na mão de gigantes que ninguém elegeu, e sobre os quais há cada vez menos controle. São trilhões de dólares em mãos de grupos privados que têm como campo de ação o planeta, enquanto as capacidades de regulação mundial mal engatinham. Pesquisas recentes mostram que 147 grupos controlam 40% do sistema corporativo mundial, sendo 75% deles bancos. Cada um dos 29 gigantes financeiros gera em média 1,8 trilhão de dólares, mais do que o PIB do Brasil, oitava potência econômica mundial. O poder hoje se deslocou radicalmente” (cf. Governança corporative op.cit)

Além da literaura específica, Dowbor se remete aos dados de duas grandes instituições que se debruçam sistematicamente sobre os mecanismos dos gigantes corporativos: o Instituto Federal Suiço de Pesquisa Tecnológica (que rivaliza com o famoso MIT dos USA) e o banco Credit Suisse, exatamente aquele que administra as grandes fortunas mundiais e que, portanto, sabe das coisas. 

Os dados aí arrolados por estas fontes são espantosos: 1% mais rico controla mais da metade da riqueza mundial. 62 famílias têm um patrimônio igual à metade mais pobre da população da Terra. 16 grupos controlam quase a totalidade do comércio de commodities (grãos, minerais, energia, solos, água). Pelo fato de os alimentos todos obedecerem às leis do mercado, seus preços sobem e descem à mercê da especulação, tolhendo a vastas populações pobres o direito de terem acesso à alimentação suficiente e saudável. 

Os 29 gigantes planetários, 75% são bancos a começar pelo Bank of America e terminando com o Deutsche Bank, são tidos como “sistemicamente importantes”, pois sua eventual falência (não esqueçamos o maior deles, o norteamericano Lehamn Brothers que faliu) levaria todo o sistema ao abismo ou próximo a ele, com consequências funestas para a inteira humanidade. O mais grave é que não existe nenhuma regulação para o seu funcionamento, nem pode haver, porquando as regulações são sempre nacionais e eles atual planetariamente. Não existe ainda uma governança mundial que cuide não só das finanças mas do destino social e ecológico da vida e do próprio sistema-Terra. 

Nossos conceitos se evaporam quando, nos recorda Dowbor, se lê na capa do Economist que o faturamento da empresa Black Rock é de 14 trilhões de dólares sendo que o PIB dos USA é de 15 trilhões e do pobre Brasil mal alcança 1,6 trilhões de dólares. Estes gigantes planetários manejam cerca de 50 trilhões de dólares, o equivalente à totalidade da dívida pública do planeta. 

O importante é conhecer o seu propósito e sua lógica: visam simplesmente o lucro ilimitado Uma empresa de alimentos compra uma mineradora sem qualquer expertise no ramo, apenas porque dá lucro. Não há nenhum sentido humanitário como, por exemplo, tirar uma pequeníssima parcela dos lucros para um fundo contra a fome ou a diminuição da mortalidade infantil. Para eles, isso é tarefa do Estado e não para os acionistas que só querem lucros e mais lucros. 

Por estas razões entendemos iracúndia sagrada do Papa Francisco contra um sistema que apenas quer a acumulação à custa da pobreza das grandes maiorias e da degradação da natureza.Uma economia, diz ele “que tem como centro o deus dinheiro e não a pessoa: eis o terrorismo fundamental contra toda a humanidade” (no avião regressando da Polônia em setembro). Chama-o em sua encíclica ecológica de um sistema anti-vida e com tendência sucida (n.55). 

Esse sistema é homicida, biocida, ecocida e geocida. Como pode tanta desumanidade prosperar sobre a face da Terra e ainda dizer: There is no Alternative” (TINA)? A vida é sagrada. E quando sistematicamente agredida, chega o dia em que ela se vingará, destruindo aquele que a quer destruir. Esse sistema está buscando o seu próprio fim trágico. Oxalá a espécie humana sobreviva.



Postado em Carta Maior em 24/10/2016


A mídia, a direita mafiosa e os bancos




Por Altamiro Borges



Dois episódios explosivos e recentes confirmam a velha tese do intelectual italiano Antonio Gramsci de que a imprensa se tornou o principal partido do capital e da direita no capitalismo. No escândalo que desmascarou Demóstenes Torres, não há mais dúvida de que setores da mídia se articularam com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira para interferir nos rumos políticos do país. Já no episódio da redução dos juros do BB e CEF, ficou explícita a postura da mídia em defesa dos interesses dos banqueiros.


Com a instalação da CPI do Cachoeira, a ligação da revista Veja com o crime organizado poderá ser escancarada. Até agora, apesar das desculpas, a publicação direitista não conseguiu explicar os mais de 200 telefonemas entre Cachoeira e o seu editor, Policarpo Jr. O deputado Fernando Ferro (PT-PE) já anunciou que convocará o dono da revista, Roberto Civita, para depor na CPI. Caso isto ocorra, ele terá que explicar quais os interesses ligavam a revista ao mafioso e o que foi armado pelo “editor informal” da Veja. 



Outros dois veículos. Quais?



Mas não é apenas o Grupo Abril que está na berlinda. A própria colunista da Folha, Mônica Bergamo, dá uma informação hoje (14) que deve apavorar os barões da mídia. “Além de um jornalista da revista ‘Veja’, profissionais de pelo menos outros dois veículos de imprensa aparecem nos grampos da Operação Monte Carlo. Ou conversam com os arapongas ligados a Carlinhos Cachoeira ou são citados por eles. Os agentes eram fontes de informação de diversos jornalistas de Brasília”.


Isto explica porque os impérios midiáticos estão tão preocupados com os desdobramentos da CPI. Num primeiro momento, eles tentaram abafar o caso, criando uma blindagem em torno do demo Demóstenes Torres e do governador tucano Marconi Perillo. As capas da Veja das três últimas semanas foram patéticas. Agora, a velha mídia resolveu ligar o ventilador no esgoto, procurando vender a imagem de que todos os partidos estariam envolvidos com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira. O desespero é grande!

Porta-voz dos banqueiros

Já o caso da redução dos juros no Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, a postura da mídia rentista foi emblemática. Se no episódio Demóstenes/Cachoeira ela tentou negar seus vínculos com o crime organizado, neste debate estratégico sobre os rumos da economia a mídia não escondeu sua ligação umbilical com os poderosos banqueiros. Além dos motivos econômicos – principais anunciantes da imprensa –, existem os motivos políticos, ideológicos, da defesa do rentismo e da negação do papel do Estado.

A mídia assumiu abertamente o papel de porta-voz do capital financeiro. Ela espalhou notícias terroristas sobre os riscos da queda dos juros e criticou asperamente o governo Dilma Rousseff por sua postura mais ativa e indutora na economia. O ministro Guido Mantega virou o principal alvo da artilharia midiática. Os vínculos da mídia com os ambiciosos banqueiros, detestados pela sociedade, deveriam ser mais amplificados. Eles revelam qual é o verdadeiro caráter da ditadura midiática!

Postado no Blog Contraponto PIG em 14/04/2012

Os banqueiros são os ditadores do Ocidente



Robert Fisk: jornalismo compactua com elite financeira—por quê? Primavera árabe, Occupy e indignados se assemelham pela luta contra as ditaduras
Por Robert FiskThe Independent | Tradução: Vila Vudu
Escrevendo da região que produz a maior quantidade de clichês por palmo quadrado em todo o mundo – o Oriente Médio –, talvez eu devesse fazer uma pausa e respirar fundo antes de dizer que jamais li tal quantidade de lixo, de tão completo e absoluto lixo, como o que tenho lido ultimamente, sobre a crise financeira mundial.
Mas… que seja! Nada de meias palavras. A impressão que tenho é que a cobertura jornalística do colapso do capitalismo bateu novo recorde (negativo), tão baixo, tão baixo, que nem o Oriente Médio algum dia superará a acanalhada subserviência que se viu, em todos os jornais, às instituições e aos ‘especialistas’ de Harvard, os mesmos que ajudaram a consumar todo o crime e a calamidade.
Comecemos pela Primavera Árabe – expressão publicitária, grotesca, distorcida, que nada diz sobre o grande despertar árabe/muçulmano que está sacudindo o Oriente Médio – e os escandalosos, obscenos paralelos com os protestos sociais que acontecem nas capitais ocidentais. Fomos inundados por matérias sobre os pobres e oprimidos do Ocidente que “colheram uma folha” do livro da “Primavera Árabe”; sobre manifestantes, nos EUA, Canadá, Grã-Bretanha, Espanha e Grécia que foram “inspirados” pelas manifestações gigantes que derrubaram regimes no Egito, Tunísia e – só em parte – na Líbia. Tudo isso é loucura.Nonsense.
A verdadeira comparação, desnecessário dizer, ficou esquecida pelos jornalistas ocidentais, todos ocupadíssimos em não falar de rebeliões populares contra ditaduras, tanto quanto ocupadíssimos em ignorar todos os protestos contra os governos ocidentais “democráticos”, desesperados para separar as coisas, dedicados a sugerir que o Ocidente estaria apenas colhendo um último alento dos estertores das revoltas no mundo árabe. A verdade é outra.
O que levou os árabes, às dezenas de milhares e depois aos milhões, às ruas das capitais do Oriente Médio foi uma demanda por dignidade: a recusa em aceitar os ditadores e famílias e claques de ditadores que, de fato, viviam como se fossem donos de seus respectivos países. Os Mubaraks e os Ben Alis e os reis e emires do Golfo (e da Jordânia), todos acreditavam que tinham direitos de propriedade sobre tudo e todos. O Egito pertencia à Mubarak Inc.; a Tunísia, a Tunisia à Ben Ali Inc. (e à família Traboulsi) etc. Os mártires árabes, das lutas contra as ditaduras, morreram para provar que seus países pertencem a eles, ao povo.
E aí está a real semelhança que aproxima as revoluções árabes e ocidentais. Os movimentos de protesto que se veem nas capitais ocidentais são movimento contra o Big Business – causa perfeitamente justificada – e contra “governos”.
O que os manifestantes ocidentais afinal entenderam, embora talvez um pouco tarde demais, é que, por décadas, viveram o engano de uma democracia fraudulenta: votavam, como tinham de fazer, em partidos políticos. Mas os partidos, imediatamente depois, entregavam o mandato democrático que recebiam do povo, do poder do povo, aos banqueiros e aos corretores de ‘derivativos’ e às agências ‘de risco’ – todos esses apoiados na fraude que são os ‘especialistas’ saídos das principais universidades e think-tanks dos EUA, que mantêm viva a ficção de que viveríamos uma ‘crise de globalização’, e não o que realmente vivemos: uma falcatrua, uma fraude massiva, um assalto, um golpe contra os eleitores.
Os bancos e as agências de risco tornaram-se os ditadores do Ocidente. Exatamente como os Mubaraks e Ben Alis, os bancos acreditaram – e disso continuam convencidos – que seriam proprietários de seus países.
As eleições no Ocidente – que deram poder aos bancos e às agências de risco, mediante a colusão de governos eleitos – tornaram-se tão falsas quanto as urnas que os árabes, ano após ano, eram obrigados a visitar, décadas a fio, para ‘eleger’ os proprietários deles mesmos, de sua riqueza, de seu futuro.
Goldman Sachs e o Real Banco da Escócia converteram-se nos Mubaraks e Ben Alis dos EUA e da Grã-Bretanha, cada um e todos esses dedicados a afanar a riqueza dos cidadãos, garantindo ‘bônus’ e ‘prêmios’ aos seus próprios gerentes pervertidos. Isso se fez no Ocidente, em escala infinitamente mais escandalosa do que os ditadores árabes algum dia sonharam que fosse exequível.
Não precisei – embora tenha ajudado – de Inside Job, de Charles Ferguson, essa semana, na BBC2, para aprender que as agências de risco e os bancos nos EUA são intercambiáveis: o pessoal que lá trabalha muda-se sem sobressalto, dos bancos para as agências, das agências para os bancos… e todos, imediatamente, para dentro do governo dos EUA. Os rapazes ‘do risco’ (a maioria, rapazes, claro) que atribuíram grau AAA aos empréstimos e derivativos podres nos EUA estão hoje – graças ao poder vicioso que exercem sobre os mercados – matando de fome e medo os povos da Europa, ameaçando-os de ‘rebaixar’ os créditos europeus, depois de se terem associados a outros criminosos do lado de cá do Atlântico, associação que já se construía desde antes do crash financeiro nos EUA.
Acredito que dizer menos ajuda a vencer discussões, mas, perdoem-me: Quem são esses seres, cujas agências de risco metem mais medo nos franceses hoje que Rommel [1] em 1940?
Por que os meus colegas jornalistas em Wall Street nada me dizem? Como é possível que a BBC e a CNN e – ah, santo deus, também a Al Jazeera – tratem essas comunidades criminosas como inquestionáveis instituições de poder? Por que nada investigam – Inside Job já abriu o caminho! – desses escandalosos corretores duplos?
Fazem-me lembrar o modo igualmente acanalhado como tantos jornalistas norte-americanos cobrem o Oriente Médio, delirantemente evitando qualquer crítica direta a Israel, imbecilizados por um exército de lobistas pró-Likud, dedicados a explicar aos leitores e telespectadores por que devem confiar no “processo de paz” norte-americano para o conflito Israelo-Palestino, porque os ‘mocinhos’ são os ‘moderados’ e todos os demais são os ‘bandidos terroristas’.
Os árabes, pelo menos, já desmascararam todo esse nonsense. Mas quando os manifestantes contra Wall Street fazem o mesmo, imediatamente passam a ser “anarquistas”, os “terroristas” sociais das ruas dos EUA que se atrevem a exigir que os Bernankes e Geithners sejam julgados pelo mesmo tipo de tribunal que julga Hosni Mubarak. Nós, no Ocidente, com nossos governos eleitos, criamos nossos ditadores. Mas, diferente dos árabes, ainda mantemos intocáveis os nossos ditadores – intocáveis.
O chefe da República da Irlanda (em gaélico irlandês Taoiseach), Enda Kenny, solenemente informou ao povo essa semana que seu governo não é responsável pela crise em que se debatem todos os irlandeses. Todos já sabiam, é claro. O que ele não contou ao povo é quem, então, seria o responsável. Já não seria mais que hora de ele e seus colegas primeiros-ministros da União Europeia contar o que sabem? E quanto aos nossos jornalistas e repórteres?
Notas
[1] Erwin Johannes Eugen Rommel (Heidenheim, 15 de Novembro de 1891 – Herrlingen, 14 de Outubro de 1944), conhecido popularmente como A Raposa do Deserto, foi um marechal-de-campo do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Foi um dos maioresresponsáveis pela conquista da França pelo exército nazista em 1940.

Obs.:   Postado no Blog Sul21 em 16/12/2011