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O emocionante discurso de Glenn Close em homenagem a sua mãe


 

A sociedade espera que sejamos mães, esposas ou companheiras perfeitas. No entanto, as mulheres precisam de mais. Nós temos o direito de lutar pelos nossos sonhos. A mensagem de Glenn Close na premiação do Globo de Ouro continua sendo inesquecível.

“Quando minha mãe completou 80 anos, me disse que tinha a sensação de não ter conquistado nada na vida”. Esta foi uma das frases contundentes e emocionantes que Glenn Close compartilhou com o público em seu discurso quando ganhou o Globo de Ouro pela atuação no filme A Esposa. Ao agradecer pelo prêmio, ela fez uma profunda reflexão sobre a maternidade e a necessidade de realizar os sonhos pessoais.

Poderíamos dizer que esta atriz é, nos dias de hoje, uma das mais admiradas pelo público. É uma verdadeira dama de mil caras, que encarnou mulheres de todos os tipos nas telonas.

Ela despertou em nós, por exemplo, uma mistura de terror absoluto e fascínio com seu papel em Atração Fatal. Aquela necessidade de matar Michael Douglas, um homem casado com quem teve uma relação e que acabou deixando-a, se tornou parte da história do cinema.

Ela também foi inesquecível em O Mundo Segundo Garp, um de seus primeiros papéis em que interpretou uma feminista de convicções firmes. Nos encantou em Albert Nobbs, quando teve que se vestir de homem. Também foram memoráveis seus trabalhos como Cruella de Vil e seu papel em O Reencontro (1984).

Dramas, comédias, aventuras, ficção científica e suspenses: Glenn Close assume qualquer personagem com a paixão e a excelência dos grandes artistas. Adota cada um dos seus papéis a partir da profundidade das emoções, daquele local privilegiado que só está presente nos grandes artistas. Além disso, as suas mensagens se destacam, como a que estava presente no seu discurso no Globo de Ouro.
“Toda forma de arte provém de um sentimento de profunda indignação”.   - Glenn Close -


A esposa, a mulher escondida por trás do homem

A Esposa começa nos apresentando uma personagem vivaz com um enorme potencial. Em sua juventude, a mulher interpretada por Glenn Close é ambiciosa e cheia de talento, vive na costa leste dos Estados Unidos e deseja ser escritora.

5 dicas para uma educação feminista e antirracista




Pequenas atitudes no dia a dia da educação podem ajudar a formar pessoas com muito mais respeito à diversidade


Luísa Toller

No início de janeiro, a campanha da revista AzMina para o dia das mães de 2020 virou base para uma questão da prova do vestibular da Unicamp. E inspirada pela menção, peço licença ao espaço artístico da coluna para trazer minha versão educadora. Afinal, começo de ano geralmente traz os ventos de planejamento e renovação. Venho, então, oferecer a professores e professoras algumas dicas que os ajudem a elaborar um conteúdo educativo feminista, antirracista e respeitoso à diversidade. E não estou falando sobre dar aulas sobre feminismo e racismo, não. Mas sim como isso pode estar presente no dia a dia da educação, trazendo para os alunos uma visão de mundo mais inclusiva.

1 – DIVERSIDADE EM TUDO

Certifique-se de que sua lista de fontes (sejam elas livros, filmes, músicas ou outros tipos de obras) contenha autores e autoras com o máximo de diversidade possível. Ainda executamos bastante os cânones do homem branco hétero como única via de consulta para o aprendizado. Para mudar isso é necessário que nós educadores saiamos de nossa zona de conforto e busquemos outros pontos de vista para o que já ensinamos há anos.

2 – REPRESENTATIVIDADE NAS IMAGENS

Como as aulas online são realidade de parcela expressiva da população, um dos recursos mais usados tem sido a apresentação de imagens. Caso for usar fotos ou ilustrações de pessoas, cuidado para não cair na armadilha do algoritmo racista e repetir padrões opressores que são considerados erroneamente como senso comum – padrões racistas, heteronormativos, gordofóbicos e capacitistas. Representatividade importa.

3 – NADA DE CANCELAMENTO

Estamos vivendo a era dos cancelamentos e julgamentos na internet, mas isso não deve chegar na sala de aula. Caso queira trazer alguma polêmica para as aulas, procure gerar questionamentos. Em vez de sairmos por aí definindo nossas opiniões, acredito que podemos aproveitar um momento em que as perguntas são mais potentes em desconstruir o sistema do que as respostas.

4 – CONEXÃO COM OS ALUNOS

E viva Paulo Freire! Quanto mais nos aproximarmos da realidade de nossos aprendizes maior a chance de conexão e transformação do conhecimento. Aparelhos eletrônicos, aplicativos e redes sociais nem sempre são adversários da capacidade de concentração. Às vezes podem ser instrumentos para pesquisa e observação.

5 – OLHAR MÚLTIPLO

Por último, justamente o ponto principal: elabore o conteúdo das aulas a partir dessas lentes de olhar múltiplo. A disciplina pode ser matemática, biologia, português, música, educação física, economia, línguas estrangeiras, ou qualquer outra não mencionada (me perdoem por isso), sempre há a possibilidade de criar situações ou escolher textos que retratem a sociedade de forma múltipla, inclusiva e respeitosa.


Natural do Rio de Janeiro, Luisa é musicista, professora e pesquisadora. Formada pela Unicamp, já participou de diversas bandas tocando em Festivais, Viradas Culturais, circuitos e prêmios como ProAC e BNDES. Foi curadora da Caixa Cultural e professora no Ensino à Distância da UFSCAR. Venceu três categorias no 8o Concurso de Marchinhas Nóis Trupica Mais Não Cai com a composição Marcha das Mulheres. Hoje cursa mestrado na USP, tendo participado do 13o. Encontro Mundos de Mulheres, e sua pesquisa (assim como tudo na vida) busca desconstruir padronizações e hierarquias de gênero. Além disso adora cozinhar e descobrir receitas e formas de vida mais orgânicas e menos industriais.




5 dicas para uma educação feminista e antirracista




Pequenas atitudes no dia a dia da educação podem ajudar a formar pessoas com muito mais respeito à diversidade


Luísa Toller

No início de janeiro, a campanha da revista AzMina para o dia das mães de 2020 virou base para uma questão da prova do vestibular da Unicamp. E inspirada pela menção, peço licença ao espaço artístico da coluna para trazer minha versão educadora. Afinal, começo de ano geralmente traz os ventos de planejamento e renovação. Venho, então, oferecer a professores e professoras algumas dicas que os ajudem a elaborar um conteúdo educativo feminista, antirracista e respeitoso à diversidade. E não estou falando sobre dar aulas sobre feminismo e racismo, não. Mas sim como isso pode estar presente no dia a dia da educação, trazendo para os alunos uma visão de mundo mais inclusiva.

1 – DIVERSIDADE EM TUDO

Certifique-se de que sua lista de fontes (sejam elas livros, filmes, músicas ou outros tipos de obras) contenha autores e autoras com o máximo de diversidade possível. Ainda executamos bastante os cânones do homem branco hétero como única via de consulta para o aprendizado. Para mudar isso é necessário que nós educadores saiamos de nossa zona de conforto e busquemos outros pontos de vista para o que já ensinamos há anos.

2 – REPRESENTATIVIDADE NAS IMAGENS

Como as aulas online são realidade de parcela expressiva da população, um dos recursos mais usados tem sido a apresentação de imagens. Caso for usar fotos ou ilustrações de pessoas, cuidado para não cair na armadilha do algoritmo racista e repetir padrões opressores que são considerados erroneamente como senso comum – padrões racistas, heteronormativos, gordofóbicos e capacitistas. Representatividade importa.

Não nos mande flores



Resultado de imagem para mulheres 8 de março brasilia 2020



Liana Cirne Lins

Dia da Mulher não é dia de flores e bombons. Não é dia de parabéns.

Porque o Dia da Mulher é dia de luta até no nome: Dia Internacional de Luta das Mulheres, principal data da agenda feminista mundial.

Com mulheres no plural, porque o feminismo não se realiza se não for para todas as mulheres, médica, juíza, empresária, faxineira, balconista. E o feminismo tem que dar as mãos principalmente para as mulheres que estão na base da sociedade, pretas e periféricas.

Não queremos bombom. Queremos o fim da divisão sexual do trabalho, a exploração não remunerada do nosso tempo de trabalho dedicado aos serviços domésticos, administração da casa, organização do lar.

Queremos o fim da exploração do nosso tempo de trabalho para criação e educação dos filhos e filhas.

Educar exige tempo, além de amor e dedicação. E esse tempo precisa ser dividido de modo justo e equânime entre mães e pais.

Não é natural que homens cumpram menos atividades relativas aos filhos e filhas porque estão fazendo inglês, ou pós-graduação, ou viajando a trabalho, ou trabalhando para concluir um relatório, enquanto a mulher não pode fazer uma pós-graduação, aprender outra língua, viajar a trabalho e receber uma promoção porque tem boa parte do seu tempo dedicado a cumprir, sozinha, as tarefas que deveriam ser divididas equanimemente entre os dois.

Não é natural.

Então não nos mande flores.

Porque as flores nós temos usado para velar as mulheres que foram assassinadas pelos companheiros ou ex-companheiros, cujos corpos servem de estatística para o Brasil ser o quinto país no ranking mundial do feminicídio.

A cada uma hora e meia uma mulher é vítima de violência doméstica. E não temos estatísticas sobre a violência moral.

O homem que dá o bombom é o mesmo que diz que a mulher está gorda, feia, velha, que olha para outras mulheres como forma de acinte, para que sua companheira se sinta diminuída e tenho seu ego destruído a cada golpe de palavra.

E enquanto você está lendo esse texto, mais uma mulher foi estuprada, nesse relógio doentio que registra um estupro a cada onze minutos.

Não nos mande flores.

Se você acha que a esquerda tem que se unir em torno de figuras machistas e racistas, insensíveis ao feminismo antirracista, e que a "esquerda identitária" (sic) é o novo fascismo (sic). Se você não entende que nada une mais a direita e a esquerda do que o racismo e o machismo, não nos mande flores.

A gente não quer essas flores, nem estar nesse tipo de ex-querda que aceita nos ver mortas, estupradas, exploradas e submissas.

Não nos mande flores.

Nos ouça mais, não nos interrompa, não se aproprie de nossas ideias, respeite que não é não, entenda que não ser desejado por uma mulher faz parte da vida, divida com justiça o tempo de educação dos filhos e da casa, não minimize a importância da nossa luta política e venha fazer parte desta luta, respeitando nosso protagonismo.

Estamos nas ruas, marchando por transformação. E as flores que cabem nessa marcha somos nós, que somos a própria primavera feminista.


     

Liana Cirne Lins   Professora da Faculdade de Direito da UFPE





Elas nunca fraquejaram

Fernando Brito 

Um sujeito que se refere à filha mais nova como resultado de “uma fraquejada” não precisa e mais nada para sublinhar sua misoginia.

Mais que ninguém, porém, as mulheres provaram o quanto são fortes, sendo sempre a maior resistência àquele que pregava o ódio e a intolerância. 

É bom lembrar que as últimas pesquisas de 2018, mesmo com toda a “onda” bolsonarista, indicavam que as mulheres rejeitavam mais que aprovavam o candidato.

Portanto, se ele está lá, a culpa é nossa, os homens, entre os quais a maioria tolerou – quando não apoiou – um homem que odeia as mulheres.

A luta feminina pela igualdade de direitos – na educação, no trabalho, na vida social, na liberdade, na escolha política (o voto feminino nem 100 anos tem aqui) – e por ser soberana sobre seu próprio corpo vem de longe e não terminará tão cedo.

Até mesmo no direito à vida, porque há dois anos tergiversam sobre quem matou e manou matar uma delas, Marielle Franco.

Mas hoje são as mulheres que precisam que os homens que de uma delas vieram não deem nenhuma fraquejada – sem aspas – e se somem à resistência contra o assédio indevido, a opressão e a agressão às mulheres, patrocinadas por esta gente que assaltou o poder em nosso país.















Manuela D´Ávila : Quando a maternidade e o afeto subvertem as regras da política tradicional






PUBLICADO NO PORTAL BRASIL DE FATO

POR ANELIZE MOREIRA


Homem, branco, casado, com 48 anos e ensino superior completo. Esse foi o retrato dos candidatos que disputaram as eleições de 2018, de acordo com Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foi nesse cenário eleitoral que uma mãe subverteu as regras da política tradicional, majoritariamente masculina, lançando-se ao desafio da corrida presidencial.

Manuela d’Ávila foi pré-candidata à presidência da República pelo PCdoB, em 2017 e, em 2018, formou chapa como candidata a vice-presidente do Brasil, junto com Fernando Haddad (PT). Ela tinha uma única condição: continuar a maternar a sua filha Laura, na época com 2 anos.

Em um pleito permeado por discursos de ódio e fake news, a sororidade, o afeto, e a maternidade questionam as formas de ocupar os espaços de poder. Laura se acostumou com a dinâmica da campanha eleitoral, sem rotina, em hotéis, entre colos de amigos e militantes e as viagens que fez por 19 estados brasileiros.

Dos registros feitos em bilhetes, redes sociais e crônicas escritas por Manuela nasceu o livro “Revolução Laura”, uma narrativa de como a maternidade pode ser revolucionária.

“Quando a gente muda a nossa cultura vai achar estranho o pai que nunca está com os filhos. Alguém está. Esse alguém é a mãe. Isso tem relação com as mulheres não ocuparem o espaço público. É fácil, fácil para o homem. Quando desfila com o filho, vira mito.” Essa é a primeira ideia, já na orelha do livro sobre o que se trata a publicação que já vendeu mais de 15 mil cópias desde 8 de março.

A autora é gaúcha, jornalista, feminista e mestra em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na política foi vereadora, deputada federal e estadual. O Brasil de Fato conversou com Manuela d’Ávila sobre maternidade, política, infância, eleições, projeto de país, amor, Lula, ocupação de espaços e pautas das mulheres no governo Bolsonaro.

Confira a entrevista feita durante o lançamento no Armazém do Campo, em São Paulo, na última terça-feira (6).

Brasil de fato: Como surgiu a ideia do livro?

Manuela d’Ávila: Quando acabou a eleição no ano passado, uma amiga que é editora desse livro, a Cris Lisboa, que também foi minha colega de faculdade, pediu que eu me fizesse uma pergunta: se existia outra mulher amamentando minha filha enquanto concorreria a presidência e a vice-presidência do Brasil. Se a resposta fosse sim, era inexpressivo escrever, mas se fosse não, talvez fosse importante escrever.

Apesar de não ter a menor condição de assumir esse desafio, porque estava pra defender meu mestrado, decidi escrever. Como militante marxista, entendo que precisamos compreender o peso do trabalho reprodutivo, do trabalho não remunerado, como se dá a construção da opressão das mulheres na nossa sociedade e o impacto disso na participação das mulheres em espaços públicos.

O livro não é teórico, aliás, esse foi um dos grandes receios meus em escrevê-lo. O mais importante foi jogar luz sobre o assunto e mostrar que é muito difícil para as mulheres ocuparem esses espaços porque os homens exercem o poder, mesmo os de esquerda, com parâmetros absolutamente privilegiados que é a invisibilidade daquilo que nós fazemos.

Esse processo [descrito no livro] foi o que me salvou nessas eleições de tanto ódio, de tanta mentira. Se de um lado eu vivi a eleição mais violenta de todas, e fui o principal alvo de fake news, de outro viajei o Brasil inteiro, a maior parte do tempo junto com a Laura, embora não fossem todos os dias, porque sempre compartilhei com o meu companheiro os cuidados dela.

Diante de tanto ódio eu vi um levante de mulheres em torno do meu direito de estar com ela. Esse levante foi o que blindou os questionamentos todos da política tradicional em relação a minha militância vivendo a maternidade. Foi lindo.

O que é ser mãe em plena campanha eleitoral? Como foi ocupar um espaço tão machista e misógino?

A gente vive num país que acha razoável e até exige a presença de uma figura de primeira dama, mas faz questionamentos como: ‘seu marido não tem vontade de se envolver?’ Sim, é graças a nossa parceria que eu posso eu viver a minha vida em toda a sua potência, diferente da maior parte das mulheres.

As mesmas pessoas perguntavam assim: ‘a menina vai junto? tu não tem uma babá?’. Eu não tinha essas respostas, mas foi a maternidade, o meu espaço de viver a vida da forma mais coerente com o que eu acredito, não terceirizando cuidados, por exemplo. A Laura vai para creche desde um ano meio, mas além da creche eu decidi não terceirizar, ou seja, não tinha uma babá que andava comigo, isso não traria à tona a invisibilidade do trabalho das mães e dos pais.

Eu só tinha dois caminhos quando o PCdoB me perguntou se concorreria a presidência: não aceitar ou construir um caminho com a Laura. Nunca quis reproduzir um exercício de poder masculino. Quando falamos do poder nós estamos falando de uma lógica marcada por privilégios e o privilegio não é só ser homem branco. É ser um homem branco que utiliza do trabalho invisível das mulheres.

Se nós mulheres exercemos esse poder da mesma maneira, em última instância, estamos quase defendendo o feminismo liberal, que é a meritocracia. É difícil chegar aqui e eu estou nesse lugar dos homens desde os 22 anos. Não estou pra ser igual a eles, mas pra desvendar ou pra tornar claro quais são os mecanismos de exercício de poder deles.

Você traz no livro que a política é masculina e machista e não tem espaço para a ingenuidade e para a alegria das crianças: “Levar Laura comigo, tornou-se sem que eu percebesse uma forma de resistência a política que desumaniza”. Quais cobranças você teve por ser mãe e querer estar no trabalho com Laura? Como foi ocupar o Congresso com uma criança?

As pessoas no Brasil tratam as crianças como seres inaptos. Existe uma espécie de separação entre assunto de criança e assunto de adulto. Não existe isso, exceto assuntos como sexo, bebidas alcoólicas e coisas que pactuamos conscientemente que podem ser feitas por maiores de idade, o restante, todos os assuntos, são de todo mundo: a saúde, a doença, a morte, a vida. O que interessa é a forma como você vai conversar com alguém que está em outra etapa do desenvolvimento.

As pessoas não estimulam as crianças, elas são apartadas e protegidas depois são largadas nessa mesma sociedade. Em países com altos índices de desenvolvimento cientifico, tecnológico e humano há formas como licença dos pais e mães, a jornada de trabalho…enfim, porque isso impacta em tudo, na ideia de Previdência, nos serviços públicos, em tudo.

Se existem menos escolas e as mulheres vão ao trabalho, nos lugares que se tem mais redes de assistência às crianças, as mulheres são mais emancipadas, existe mais igualdade e as mulheres contribuem mais pra economia. Eu vivi todas as situações em que as pessoas expressavam que nenhum lugar era de criança, que lugar de criança é só onde tem brinquedo colorido de plástico, no Brasil.

Aqui [Armazém do Campo] não é lugar de criança? Porque não é lugar de criança? Minha filha sabe que a comida vem da terra desde sempre e vai desde que nasceu na feira. Feira é lugar de criança? Quem disse o que é e o que não é? A gente acaba criando um ambiente de não estimulo, de não cidadania para as crianças e isso tem um impacto grande no desenvolvimento delas e no desenvolvimento do nosso país.

O projeto de Brasil proposto por você e por Fernando Haddad era completamente distinto do que está acontecendo com governo Bolsonaro. O que seria diferente se vocês tivessem ganhado as eleições?

Seria completamente diferente. Primeiro porque a gente tem um sonho e eles constroem um pesadelo. A gente tem um sonho de um Brasil. Minha filha tem tudo em todos os aspectos, materiais, afetivos, em um mundo em que maior parte das crianças não tem nada. Nós somos aqueles que não nos conformamos que a minha filha tenha e os filhos dos outros não tenham. Eles são aqueles que os filhos têm, e [não se importam] se da porta pra fora tenha um legião de crianças sem. Isso não é uma diferença qualquer.

As razões pelas quais nós fazemos política são opostas às deles. Nós defendemos o Brasil, eles um nacionalismo fake. Nós amamos o Brasil e o nosso povo, eles odeiam o povo. Como podem ter um amor pelo Brasil se não amam o povo? Se não gostam de mulher, negros e a população LGBT, sobra quem? Quem são os normais do presidente Bolsonaro, eles próprios?

Se tivéssemos vencido as eleições seria absolutamente diferente. Estaríamos lutando para o Brasil gerar empregos. O desemprego do Brasil é avassalador. São quase 15 milhões de pessoas. A explicação para uma parte grande do sofrimento do nosso povo é essa, como se conformar? Qual a política de geração de emprego do governo Bolsonaro? São ações só pra retirar direitos, corta recursos do ensino fundamental e superior. Como ter perspectivas desenvolvimento sem educação no mundo de hoje?

O projeto deles é da morte dos sonhos. É o necrocapitalismo que administra quem vai viver e quem vai morrer e só vão viver os iguais à eles. Nós queremos que vivam todos e com diversidade, liberdade, direitos garantidos e dignidade.

Você esteve sempre ao lado do ex-presidente de Lula durante o julgamento e durante a prisão. Como você avalia esse processo de prisão política?

O significado da prisão é muito maior que a prisão de uma pessoa inocente. Lula é um inocente preso, mas o Brasil tem 40% da sua população carcerária sem julgamento, porque ele não é mais um dos inocentes presos? Porque a prisão do Lula faz parte de um plano de prisão do Brasil, a não possibilidade de liberdade para o nosso país construir um país soberano para o seu desenvolvimento.

A prisão do Lula é a prisão do Brasil aos EUA, esse modelo de capitalismo quebrado que eles pregam pra gente, embora desempenhem nas suas fronteiras. Esse Brasil que negocia liberdade das mulheres, dos LGBTs, e tem um governador (Wilson Witzel/PSC) que sobe em um helicóptero e atira em pobre? Em negros quem vivem em comunidades do Rio de Janeiro.

É essa a agressividade da prisão de Lula. É muito maior do que seria a condenação de um inocente sem nenhuma prova, é o esforço pra prender o nosso projeto de um Brasil livre e soberano.

Quem é a Manuela, mãe, mulher, política depois das eleições?

Se fosse uma equação matemática, sou alguém muito realizada de ter podido viver essa experiência de concorrer à vice-presidência do Brasil com 36 anos de idade.

Desde 17 anos, quando militava no movimento estudantil, viajei o país todo e tive possibilidade de viver esse Brasil de muitas formas mais intensas e apaixonantes. Tive a possibilidade de minha família também se apaixonar por esse Brasil que tem cores, sabores, que têm contradições gigantescas; os mares mais lindos do mundo e pessoas morando na rua.

Esse Brasil de contrastes é o país mais desigual do mundo, mas também é apaixonante. No saldo de gols, sinto que apesar de tanto ódio, as pessoas e a minha filha me salvaram. Me salvaram emocionalmente. Não foi uma eleição qualquer. É piegas, é brega, mas a força do afeto, do amor é muito mais transformadora do que a do ódio. E eu vivi isso na pele e sou testemunha disso. O amor é muito maior, isso o que nos diferencia e isso que pode nos mover. Nós temos amor, solidariedade e empatia e [sabemos] que a gente pode construir um mundo em que todas possam viver com dignidade. Essa foi a transformação na Manuela.

Tudo isso já existia em mim, mas cresceu. E, além disso, era jovem e fiquei grisalha após as eleições (risos).

Você falou nas redes sociais que já está escrevendo seu próximo livro. Qual o tema?

Vou entregar ele a daqui a 50 dias. Será sobre feminismo, suas razões, lutas, trazendo temas e conceitos de alguns debates atuais sobre a luta das mulheres.


Título: Revolução Laura: Reflexões sobre maternidade e resistência

Editora: Belas-Letras; Edição: 1st (4 de março de 2019) 

Capa comum: 192 páginas






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Quem vestiu a Globeleza?







Lelê Teles

Enganam-se os que acham que foi a globo que vestiu a globeleza.

Quem vestiu a globeleza foram as feministas.

Foi o grito das mulheres contra a objetificação do corpo feminino e contra a hipersexualização do corpo negro que calou o assanhamento dos machos brancos.

A globeleza nunca representou o carnaval, ela representava apenas o samba carioca bordelizado que nasceu nos tempos do sargentelli.

A mulata globeleza se saracoteando pelada, era o símbolo da exploração do corpo negro, da carne barata servida nos banquetes bacantes da casa grande desde a hora primeva.

Nua, a mulata globeleza evidenciava apenas a beleza negra que importa aos mercadores: peito, bunda e tapa sexo.

Ela não fala.

A globeleza, vestida, é uma vitória das pretas cansadas de serem virtualmente mucamizadas.



Postado em Brasil 247 em 10/01/2017








Respeito é bom e elas gostam. As novas caras do feminismo



Lillith: 'Movimento escancarou processo de opressão sobre estudantes de escolas públicas, mais ainda quando são mulheres negras'


Lute como uma menina. Ameaças de retrocessos dão gás ao feminismo 


A juventude que ocupa as ruas e as redes recicla o feminismo e avisa aos machistas, de ontem e de amanhã : sem igualdade e respeito não haverá democracia, nem paz 


Rose Silva

Era mais um dia de protestos para pedir a saída do então presidente da Câmara dos Deputados. Na ocasião, o “Fora Cunha” estava explosivo entre mulheres, sobretudo jovens, indignadas com a agenda do peemedebista. Ele só viria a ser afastado pelo Supremo Tribunal Federal seis meses depois. 

Não por bancar projetos como o que proíbe o uso de pílula do dia seguinte por vítimas de estupro ou o que institui o Dia do Orgulho Hétero. Não foi o atraso civilizatório que o derrubou, mas a corrupção – e não sem antes liderar o afastamento da primeira mulher eleita presidenta da República. Foi naquela tarde de novembro que a produtora Beatriz Alonso, de 24 anos, tomou pela primeira vez contato com os secundaristas que ocupavam a escola Fernão Dias Paes, na zona oeste de São Paulo, contra o fechamento de escolas públicas pelo governo do estado.

Coragem das secundaristas estimulou produção de documentário
 de Beatriz Alonso

“A escola estava ocupada havia três dias. Fui aluna de escola pública e sei do que aquela moçada estava falando. Fiquei entusiasmada com a organização e encantada com a bravura das meninas. Numa sociedade em que há pouco espaço para as vozes femininas, até nos movimentos e na política, aquilo me tocou”, lembra Beatriz. 

O cenário a inspirou a produzir, junto com o namorado, Flávio Colombini, o documentário Lute como­ uma Menina, título tirado de um chamado que se espalhava nas redes sociais. “Foi impressionante deparar com o nível de consciência e politização daquelas meninas. As adolescentes têm muito mais restrição à liberdade desde de dentro de casa. Cresci e amadureci com elas.”

O filme, ainda não lançado, reúne imagens dos movimentos e depoimentos de 33 estudantes de 12 escolas estaduais, todas mulheres, de 15 a 18 anos.

Uma delas é Lilith Cristina Passos Moreira, 15 anos. Ela teve contato com o feminismo em redes sociais. Passou a prestar atenção aos papéis feminino e masculino e apresentou um trabalho escolar que inicialmente nem entraria na questão. “Comecei a ouvir opiniões e fiquei inconformada com o pensamento de um entrevistado que iria compor a minha apresentação. E me dei conta do machismo”, conta. 

Participar da ocupação da escola Maria José, na Bela Vista (bairro da região central de São Paulo), durante um mês, foi importante para aprimorar sua percepção. “Durante o movimento escancarou-se o processo de opressão existente sobre os estudantes de escolas públicas, mais ainda quando se trata de mulheres negras”, diz Lilith. “Por isso, foi muito natural que as meninas tenham liderado as ocupações. Formou-se uma unidade entre as mulheres, que logo montaram um coletivo para continuar discutindo e atuando.” 

Na ocupação, ela lembra, a primeira polêmica surgiu na divisão do trabalho. Em uma assembleia, um dos participantes sugeriu que as meninas ficassem na cozinha. “Pra quê...” Após conversarem, criaram cotas para as comissões de alimentação e segurança, o que garantiu participação equilibrada nas atividades. “Foi um processo como eu acredito que deva acontecer para construir uma nova sociedade, mais livre”, afirma. 

Para ela, o mais difícil tem sido lidar com a conduta de alguns educadores que não levam o assunto a sério. Lilith cita o exemplo de um professor de História que em sala de aula considerou “vitimizador” o tema da violência contra as mulheres na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Na estrutura social e na cena política, observa Beatriz, não é novidade a mulher ser inferiorizada. “Está aí o interino que baniu as mulheres dos postos importantes do governo”, comenta. O que é novidade, em sua avaliação, é que esse estopim feminino já característico dos movimentos e dessa nova geração que vai às ruas está se expandindo para ambientes não engajados. 

“Vejo mudanças na minha casa, com a divisão de tarefas. E no meu trabalho, com mulheres tomando a frente e se fazendo ouvir. Vejo amigos admitindo que determinados gestos e condutas deles são machistas.”

Instrumento de peso 

A socióloga Verônica Borges é um exemplo de mulher que se faz ouvir. Foi a primeira a tocar caixa na bateria da Nenê de Vila Matilde, em 2012, quando a escola de samba paulistana já tinha 63 anos de existência. 

A ritmista mergulhou no movimento de mulheres do samba. Aos 31 anos, após uma década de carnaval e seis anos em rodas, toca surdo em quatro grupos e luta para ser musicista profissional. “Até hoje a participação de mulheres em baterias de escolas é limitada a instrumentos leves por causa do preconceito, mas hoje tem muita gente se reunindo para criar espaços femininos”, afirma. 

Luisa: 'Mídia machista objetifica as mulheres; andamos nas ruas inseguras todo tempo. É crucial desconstruir esse ciclo'

Na primeira vez em que “vestiu” o surdo, pensou que ia cair. “É questão de ritmo e treinamento. Você vê as mulheres que dançam nas rodas de samba, é puro ritmo. Se colocar um instrumento leve ou pesado nas mãos delas certamente aprenderão”, acredita Verônica. 

A inspiração vem de um lugar importante surgido recentemente em São Paulo, o Samba da Elis. Ao ar livre, na Praça Elis Regina, bairro do Butantã, na zona oeste, o projeto reúne mensalmente pelo menos dois grupos formados exclusivamente por mulheres. “Lá também atuam vários coletivos que conversam sobre temas ligados ao feminismo.”

Mais do que as ruas, as redes sociais se tornaram focos de “reuniões” e discussões. Para a secundarista Luísa Segalla, aluna do Colégio Equipe, as redes sociais e o ambiente escolar foram determinantes para sua percepção crítica da cultura machista. 

“Quando eu entrei no ensino médio comecei a me incomodar fortemente com isso. Procurei informações, li muito, entrei em grupos no Facebook e passei a entender melhor o que era o feminismo e o quanto é importante”, diz.

“É muito complicado ser bombardeada pela mídia machista, que expõe e ‘objetifica’ as mulheres, perceber a diferença na criação entre meninos e meninas, andar na rua sempre insegura. Eu acho crucial querer desconstruir esse ciclo”, afirma Luísa, moradora da Casa Verde, na zona norte paulistana. 

Porém, ela observa que muitas vezes as pessoas não estão dispostas a ouvir. “O feminismo não está aqui para ser confortável. Assim como todas as lutas contra um sistema, vai incomodar. Ser feminista é começar as mudanças no espaço do microcosmo, como na sua casa e escola, e se possível, abranger o macro”, defende.

E quem não aprende na escola aprende na vida. Foi em casa que a jornalista Semayat Silva e Oliveira, de 27 anos, do coletivo Nós, Mulheres da Periferia, recebeu desde criança informação e impulso de mãe sobre a necessidade de se defender do racismo e do machismo. Moradoras do Jardim Miriam, na zona sul de São Paulo, elas sempre souberam das dificuldades das mulheres negras na região. “Minha mãe fez questão de me proteger desde a infância. Também me orientou desde cedo a buscar relacionamentos respeitosos e igualitários.”

Semayat foi crescendo e passou a questionar por que a liberdade feminina é tão limitada. A família se formou no ensino superior toda ao mesmo tempo, como bolsista do ProUni: pai, mãe, irmã e ela. “Além da limitação geográfica, com pouco acesso a direitos, também existe a tripla jornada que a maioria das mulheres negras e pobres administra. Isso te empurra para o feminismo, a necessidade de bancar a casa, de ir à luta, de estudar ao mesmo tempo, de buscar segurança no lugar onde moramos, que é extremamente vulnerável e não tem a proteção do Estado.” 

Quebrando resistências: Jéssica, Karol e Verônika superaram preconceitos 
para ocupar seu espaço


Semayat: 'Necessidade de bancar a casa, ir à luta, estudar, buscar segurança no lugar onde moramos'

E se os homens fossem assediados como as mulheres no dia a dia ?



Já pensou como seria se homens fossem assediados da mesma forma que são as mulheres no cotidiano? 

Experimento (vídeo) revela a reação dos homens e estimula a reflexão sobre o assédio às mulheres. 


A comunidade pró-sororidade Vamos Juntas postou nesta quarta-feira (2) no Facebook um vídeo (assista abaixo) que nos faz refletir sobre o assédio às mulheres. A gravação foi feita pelo comediante francês e youtuber Grégory Guillotin

Em um shopping em Paris, ele e outro ator acariciam as mãos de homens heterossexuais na escada rolante.

A reação dos homens vítimas do assédio fictício é, em geral, de revolta. Muitos fazem gestos de que estão dispostos a partir para a briga, como se quisessem enfatizar sua masculinidade. 

Um dos acariciados chega a perseguir o “agressor”, mas desiste após a pegadinha ser revelada. 

Apesar de ser uma brincadeira, a armação de Guillotin mostra como o assédio a homens é algo tratado como impensável e passível de enfrentamento imediato por eles.

Para muitas mulheres, esse tipo de abordagem foi aceito durante bastante tempo sem qualquer rejeição — simplesmente por medo. 

Na comunidade Vamos Juntas, algumas das mensagens de mulheres são: 

“Sabe o que é engraçado? TODOS ficaram encarando o cara até o fim da escada rolante. Enquanto, nós, mulheres, a primeira reação é baixar a cabeça e fingir que não estamos vendo ou ouvindo porque temos MEDO de ‘enfrentar’ homens, com receio de que eles partam pra cima da gente. É nítido como eles oprimem. Triste.” — Bruna Sales 

“Acho que pediram para isso acontecer, afinal deixaram a mão exposta para isso. Da próxima vez deixem as mãos no bolso e parem de mimimi.” — Flávia Montagner 

“Se usassem roupas mais comportadas e luvas nas mãos, isso não tinha acontecido.” — Nicki Biersack



 


Postado no Pragmatismo Político em 03/03/2016


Tirinha resume os motivos pelos quais todos nós deveríamos ser feministas




Se a mulher não quer sair com um cara, ela é difícil. Se convida pra sair, é desesperada. Se ela não está dentro dos padrões de beleza estabelecidos, é relaxada. Se está, é neurótica. 

O machismo não coloca apenas a mente e o corpo das mulheres em risco, mas também o próprio homem.

Afinal, o machismo também prega que é feio ser virgem, que você não pode ir a uma festa e não “pegar” ninguém, que chorar é coisa de mulher e que ser “viado” é xingamento.

O machismo exige que você prove o tempo todo que é homem, que é forte e que é alpha. 

O machismo acaba com a sua sensibilidade, tripudia sobre os homossexuais e desrespeita as mulheres.

Em uma sequência de tirinhas, o ilustrador japonês conhecido como Rasenth resumiu alguns motivos simples para que todos nós – homens, mulheres, trans, homossexuais, bissexuais ou heterossexuais – sejamos feministas. Porque onde há machismo, a mulher não é a única a ser oprimida.

Veja, reflita e compartilhe:

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Postado no site Hypeness







O mundo está ficando mais chato (só que não)


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Esses dias tive uma conversa boa no Facebook sobre a chatice do mundo atual. É um tema recorrente: o politicamente correto estaria deixando o mundo mais insosso, sem graça, sem espaço para o humor. Em suma, mais chato. E muita gente atribui toda essa chatice aos dos ativistas, que só têm atitudes enfadonhas e radicais. Acabei escrevendo um pouco a respeito no debate com um amigo. A coisa rolou mais ou menos assim:
1- O mundo está ficando chato comparado com quando? E para quem? Não vivi nos anos 1950, mas me parece que ser mulher hoje é bem mais legal do que era então. Não fui negra há 150 anos, mas me parece que houve certos avanços. Não fui gay nos anos 1980, mas me parece que o diálogo melhorou nesse sentido.
2- Talvez o mundo só esteja mais chato para as pessoas que sempre tiveram privilégios. Né.
3- Aliás, não sei de onde se tira esse “mundo chato”. Meu mundo é muito divertido, thank you very much. Apesar de abraçar várias causas, sou feliz, rio, faço piada, me divirto. Não preciso de piada de estupro, de gay ou de negro pra dar risada, obrigada. Não preciso do Rafinha Bastos; tenho o Laerte.
4- Ainda que as minorias tivessem o poder de tornar o mundo chato (não têm), eu não colocaria isso na frente da conquista de direitos, e na possibilidade de ter voz. Igualdade nunca pode ser menor que não-chatice.
5- Os movimentos sociais agem de diversas maneiras. O feminismo, por exemplo, tem a Marcha das Vadias, que é tudo menos chata. O cicloativismo tem a Bicicletada, que é tudo menos chata. O tumblr do Classe Média Sofre é tudo menos chato. Tem coisas muito divertidas rolando, apesar da seriedade dos assuntos.
6- Porém, mesmo essas iniciativas bem-humoradas encontram backlash, porque mexer no status quo sempre vai incomodar. Sempre vai ser chato. Para as coisas mudarem, é preciso que as pessoas saiam da zona de conforto, e isso sempre vai ser considerado chato. Não tem outro jeito.
7- As coisas chatas que eu vejo no mundo hoje não vêm das “minorias”. Vêm da burocracia, do mundo corporativo, do sistema financeiro excludente. Vêm das ruas lotadas de carros, das piadas datadas e sem graça das propagandas de cerveja, de governos higienistas como o de São Paulo. A chatice está em querer tirar as pessoas das ruas, tirar os músicos, os vendedores, tentar acabar com as feiras livres. A chatice não está em lutar contra essas coisas.
8- Sempre me espanto com a capacidade das pessoas que não têm causa nenhuma de querer ditar como as pessoas que lutam por alguma coisa devem fazer isso. Acha que as respostas que os ativistas dão são chatas? É só fazer uma resposta mais bacana. Ninguém tem prerrogativa nisso, qualquer um pode dar a resposta que quiser, quando quiser. Ou então assumir que o assunto não indigna a ponto de criar algo “inteligente”, e deixar o povo fazer da forma que sabe.
9- O item 8 serve pra mim também, pois sou uma das maiores defensoras de formas mais espertas e bem-humoradas de militar. Mas nem sempre consigo elaborar as respostas que eu julgo mais adequadas. Então eu apóio as coisas que estão sendo feitas, mesmo que não concorde 100% com elas, porque pelo menos as pessoas estão se movimentando na direção certa.
10- Esse deve ter sido o post mais chato que já escrevi, mas já que o rótulo já pregou mesmo, resolvi aproveitar… :P
E vocês, o que acham?

Jeanne Callegari

Jornalista, ciclista, poeta saindo do armário.



Postado no blog Blogueiras Feministas em 06/09/2012
Imagem inserida por mim




Vamos revolucionar!



Hoje queria falar de revolução. Eu queria convidar você a revolucionar, a revolucionar-se. Perceber a revolução que vivemos. A começar aquela que queremos fazer com nossas vidas. Quero falar sobre o mundo que queremos para nós e para os que virão depois de nós. Essa semana me peguei pensando muito em revolução, em mudança, em pontos de partida em como fazer uma revolução ampla, gigantesca para mudar o rumo da humanidade. Me chamem de megalomaníaca, provavelmente eu vou responder. Fiquei pensando nisso e lembrei de duas mulheres que, nos últimos tempos, me chamaram atenção.

Wangari Maathai – Conferencia das Nações Unidas – 2009
foto: UN / Mark Garten – Imagem em CC – Africa Renewal
Uma delas foi a queniana Wangari Maathai sobre quem eu fiz um post no meu blog no ano passado, de tanto que sua vida e sua luta me inspiraram. Ela, ativista politica e ambiental revolucionou seu país plantando árvores. Fundou um movimento The Green Belt Movement que modificou sua comunidade, e o impacto disso no país culminou com a deposição do poder do ditador Daniel Arap Moi. Ela foi membro do parlamento queniano após a queda do ditador e colocou o exército queniano para plantar árvores. 35 mil árvores foram plantadas no Quênia. O grupo que ela fundou e liderou trabalha ainda, mesmo depois de sua morte em setembro do ano passado. Seu legado vive nas florestas restauradas do Quênia. Ela mudou o destino do seu país, ela deu o primeiro passo que foi seguido por muitos em direção ao futuro que ela imaginou para seu país e seu povo.
Birgitta Jonsdottir – Crédito da foto: Florian Apel-Soetebeer / Government 2.0 Netzwerk Deutschland Websites: augenblicke / flickr fotostream CC – G20NWD
Uma outra mulher que tem me inspirado e fascinado muito é Birgitta Jonsdottir. Ativista islandesa que está por toda parte. Digite seu nome no google e voce se surpreenderá com a quantidade de informações sobre ela. Escritora, poeta, editora, mãe solteira, ex- voluntária do wikileaks, membro do parlamento Islandês desde abril de 2009, porta-voz de diversos movimentos sociais e perseguida política pelos Estados Unidos por causa da sua colaboração com o WikiLeaks. Defensora e porta-voz do IMMI (Icelandic Modern Media Initiative – Iniciativa islandesa da mídia moderna). Ela liderou as manifestações em 2008 quando a economia Islandesa quebrou por causa da crise dos mercados financeiros. Ela comandou a ação do povo contra a medidas restritivas e as manobras financeiras que dariam aos bancos o socorro financeiro e imporiam aos islandeses uma dívida que seria paga por gerações e gerações de pessoas. O povo islandês pagaria pelos empréstimos que os bancos particulares e multinacionais contrairam durante a crise dos mercados finaceiros . Ela se posicionou contra essas medidas. Juntos ela e o povo da Islândia votaram contra essa medida e os bancos foram todos nacionalizados.  Ela defende o WikiLeaks onde já foi voluntária, ela assumiu a co-produção do vídeo que mostra oficiais americanos abrindo fogo contra civis em Bagdad e que foi estopim para a investigação dos crimes de guerra cometido pelos EUA. Ela luta pela transparência nos assuntos do Estado e sobretudo pela internet livre, sem censuras ou regulações, pela transparência na regulação do sistema financeiro. A sua vida e sua luta são tão incríveis e fascinantes que um post não é o suficiente para falar sobre tudo que ela já conquistou.  Judith Ehrlich está produzindo umdocumentário sobre ela.
Curiosamente nada do que aconteceu na Islândia é notícia nas grandes redes de televisão do mundo. Sob a sua liderança, a Islândia não cedeu a pressão feita pelos EUA e sofreu sanções, mas ressurgiu e está de pé não passou incólume pelo golpe financeiro, mas se refaz. A democracia do país se fortaleceu e talvez, ouso dizer, passou a ser democracia no sentido mais literal do termo. As decisões políticas agora estão transparentes.  O povo tomou consciência do seu poder e responsabilidades para manter a política livre de agentes externos que a forcem financeiramente a decisões que não priorizam a população.
Essas mulheres estão separadas em épocas e continentes diferentes, impulsionando seu povo para mudar o meio ambiente, a política, a economia os rumos de seus países. Essas mulheres não são diferentes de mim ou de você. E no entanto a luta delas, a determinação de seus objetivos as levaram a atingir enormes conquistas, provocaram e ainda provocam transformações enormes em seus países, no nosso mundo, na nossa sociedade.
Eu convido vocês a mudar, a revolucionar, a refletir, a rever preconceitos, a rever seus discursos, suas opiniões, seus objetivos de vida. E então mude o que você acha que não está bom na sua realidade, no seu cotidiano, na sua rotina. Repense, reflita, sejamos a primeira pedra do dominó a cair e derrubaremos juntos toda a opressão.

Liliane Gusmão

Feminista, sim eu sou!
Postado no blog Blogueiras Feministas em 13/08/2012